Jovem e morando no exterior em cidades praianas da Austrália. O que faria uma pessoa a querer mudar essa vida, desejada por muitos? Para Rafael Ferraz de Souza, de 29 anos, uma palavra com quatro letras: café.
Mas um detalhe interessante, Rafael detestava o café, uma das bebidas mais consumidas no Brasil. Um gole, a contragosto, em um café especial mudou tudo. Hoje, é um especialista e estudioso no assunto. Vive e respira café.
“Não é que eu não gostava. Eu detestava café”, brinca. Apesar disso, esse paulistano que veio para Ribeirão Preto quando tinha dois anos de idade porque a família queria melhor qualidade de vida, de uma forma indireta sempre teve ligação com o café. O pai foi executivo de uma grande empresa de máquinas de café.
Posteriormente, a família montou uma representação da mesma fábrica em Ribeirão Preto e administrou o negócio por anos. “Quem olha de longe não vê as dificuldades que é morar fora do país. Apesar da minha família ter uma condição razoável, eu que me sustentava. Trabalhava muito. Um dia bate a saudade e você pensa, por que não voltar e trabalhar no negócio da família”. Rafael voltou.
Um café que mudou a vida
O negócio consistia em vender, alugar e dar assistência técnica das máquinas. “Mas teve um período que a crise veio forte. Foi no período pós-impeachment (da presidente Dilma). O dólar disparou e como nosso produto era importado foi começando a ficar inviável. Nossas projeções não eram animadoras”.
A família estudava outro ramo de atividade. Um produtor de café sugeriu a Rafael que ele trabalhasse com o produto. “Ele me fez uma boa proposta. Me fornecia o produto. Eu colocaria minha marca e apresentaria no mercado. Era consignação e tinha prazo. O negócio era bom, e eu estava animado”, diz.
O jovem conta que o produtor para convencê-lo, ainda mais, pegou uma mostra do café e coou o produto ali, para que ambos bebessem. “Eu não queria. Realmente não gostava, mas para não desapontar, resolvi aceitar. Vi que ele não colocou açúcar e eu segui o que ele fez. Foi ai que mudou tudo na minha vida. Eu me apaixonei pelo café”, lembra.
Foi amor ao primeiro gole. O negócio com o produtor não decolou por uma série de fatores, mas Rafael convenceu a família a investir em uma cafeteria diferente. “Eu queria trabalhar com cafés especiais. Não adiantava uma cafeteria comum”.
Do primeiro gole, ao projeto, financiamento e abertura da cafeteria foram seis meses. Isso aconteceu em 2015. A cafeteria recebeu o sobrenome da avó paterna, Grassy, de origem italiana.
No início, Rafael conta que entrava um ou outro cliente por dia. “Mas fomos mostrando e educando nossos clientes. Eu os chamava para torrar o café (na própria cafeteria) moer e coar. O cliente participava de todo o processo. A gente queria apresentar o conceito e não só vender a xícara de café. E foi dando certo”.
Da plantação ao coador
Rafael é hoje um especialista quando o assunto é café. Fez dezenas de cursos como barista e mestre torrador, alguns internacionais. Conta que passou dias em plantações de café: plantio, colheita, fermentação, secagem, prova, torra, moagem e, claro, preparo. “Eu procuro entender todo o processo, ver a diferença que pode provocar no resultado final, testar, aprender”.
Muitas dessas questões são alvos de conversas constantes entre clientes. “Hoje é normal, faz parte da nossa rotina conversar sobre o café. Os clientes analisam e comentam. Pedem opinião”.
Ele diz que, assim como que acontece atualmente com as cervejarias, em que muitas fábricas artesanais ganharam o mercado, o mesmo processo deverá acontecer com o café. “Hoje muitas pessoas ao invés de comprar um fardo de cerveja, preferem comprar uma ou duas cervejas artesanais. Estão buscando novidades e se interessando, apesar do valor. Elas entenderam isso. O mesmo vai acontecer com o café. Vivemos numa cidade culturalmente com laços fortes com o café. Aqui já foi a Terra do Café, temos o Museu do Café, que infelizmente está abandonado, mas temos história. O hino da cidade fala isso. Temos que aproveitar essa história”, finaliza.