Os gastos com transportes passam a ser, a partir de janeiro do ano que vem, o principal componente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação oficial. Pela primeira vez, o grupo ultrapassa as despesas com alimentação e bebidas, que eram o principal componente do IPCA. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou a mudança na manhã desta sexta-feira, 11 de outubro.
A mudança do cálculo do IPCA será feita devido à divulgação, na semana passada, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, a qual avalia o peso de cada gasto dentro do orçamento das famílias brasileiras. Atualmente, o cálculo do indexador oficial da inflação oficial no país IPCA é feito com base na POF 2008-2009.
Os alimentos, que respondiam por 22,1% do IPCA passarão a representar 19%. Já os transportes, que correspondiam a 22% passam a compor 20,8% do índice. Em seguida aparecem os gastos com habitação, que eram 14,3% do índice e passam a ser 15,2% e saúde e cuidados pessoais, que passam de 11,1% para 13,5%.
Os demais componentes passam a responder pelos seguintes percentuais da taxa: despesas pessoais, 10,6%; comunicação, 6,2%; educação, 6%; vestuário, 4,8%, e artigos de residência, 4%. De acordo com o IBGE, 377 produtos e serviços serão analisados no novo IPCA, com a inclusão de 56 novos itens que refletem novos hábitos de consumo dos brasileiros, como transporte por aplicativo, integração transporte público, serviços de streaming e combo de telefonia, internet e TV por assinatura, além de cuidados com animais de estimação.
Ou seja, 62 itens foram substituídos ou retirados da lista. Outros produtos e serviços que perderam espaço no consumo dos brasileiros serão excluídos do cálculo, como aparelho de DVD, assinatura de jornal, máquina fotográfica, revelação de fotos e fotocópias. Avanços tecnológicos, envelhecimento populacional e até a opção por alimentos prontos influenciaram as mudanças na destinação do orçamento das famílias brasileiras nos últimos anos, alterando assim a cesta de produtos pesquisados na inflação oficial do País.
A partir de janeiro de 2020, saem do cálculo o aparelho de DVD, assinatura de jornal e máquina fotográfica. Ao mesmo tempo, entram bacalhau, vinho e picanha. Entre as novidades, estão os serviços de streaming, como Netflix e Spotify, conserto de aparelho celular e combo de telefonia, internet e TV por assinatura. O IPCA também passa a trazer macarrão instantâneo (com peso de 0,03%), polpa de fruta congelada (0,01%), papinha infantil em conserva, além de conserto de bicicleta e medicamentos neurológicos e antidiabético.
No caso de transporte por aplicativo, que passa a integrar a lista, conta tanto o serviço de veículos particulares, como Uber, quanto o de táxis, como o 99 Táxi. “O conserto de bicicleta é uma coisa que a gente não tinha antes, indica que as pessoas estão usando cada vez mais a bicicleta, talvez como lazer”, notou Kislanov. “Com o envelhecimento populacional e a tendência de aumento de doenças crônicas, (o IPCA) manteve todos os farmacêuticos anteriores e ainda entraram esses aí”, completou Pedro Kislanov, analista do Sistema de Índices de Preços do IBGE.
A coleta da inflação oficial no País terá parte conduzida por um robô de forma automatizada a partir de janeiro de 2020. O nome da solução é webscraping, que faz uma varredura nos preços. Por enquanto o robô está em testes, mas o modelo de coleta automatizada passará a ser adotado no início do ano que vem.
Cidades
Entre as 16 cidades e regiões metropolitanas que são analisadas pelo IPCA, São Paulo continua tendo o maior peso, respondendo 32,3% da taxa nacional – antes eram 30,7%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a cesta de compras para famílias com renda até cinco salários mínimos e é comumente usado em acordos coletivos para reajustes salariais, também teve os pesos dos gastos recalculados.
A alimentação continua sendo o principal componente, respondendo por 21,5% do índice, seguida por transportes, 20%; habitação, 17%; saúde e cuidados pessoais com 11,9%; despesas pessoais, 8%; comunicação, 6,6%; vestuário, 5,7%; artigos de residência, 4,9%, e educação com 4,3%.