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‘Garota de Ipanema’ quase foi ‘Minha namorada’

Nesta semana, na Rádio Thathi FM, o entrevistado era o senador Jorge Kajuru (PRP-GO). Fiquei ligado, pois além de ser amigo e fã, sei que quando ele remexe em suas memó­rias vem chumbo grosso por aí. Kajuru passeou por vários assuntos e, de repente, entrou na conversa o nome da garota de Ipanema, Helô Pinheiro, musa que inspirou Tom Jobim e Vinicius de Morais.

Empolgado com o assunto, Kajuru disse que Helô Pinheiro roubou a homenagem que seria para outra garo­ta. Eu, sempre antenado em tudo sobre MPB, queria saber como este fato aconteceu. Então, o jornalista José Fernando Chiavenato, meu adorado amigo, também interessado na conversa, questionou o entrevistado e ele mandou ver.

Disse que pouco antes de Tom Jobim se mandar lá pra cima, estavam em uma mesa de bar o próprio Kajuru, o maestro, Ivan Lins e mais alguns artistas dos quais não se lembrava.
Quem frequenta mesa de bar sabe que as conver­sas mudam a todo instante. Alguém perguntou a Tom Jobim sobre Helô Pinheiro, e o maestro, rindo, disse que a verda­deira garota de Ipanema era para ser outra e não a Helô. A outra também era ali do pedaço e era super linda, mas Helô deu sorte, tornou-se a musa do poeta que fez a letra de uma das músicas mais gravadas no mundo.

Kajuru, quando ainda morava em Ribeirão Preto, passou por momentos muito difíceis com sua depressão, tomava muitos remédios etc. Lembro que ele estava hospedado em um hotel e o celular do Sócrates tocou. Era o Kajuru dizendo que ia se suicidar. O Magrão levou um tranco. Estávamos em sua chácara, lá na Estrada do Piripau, uma via rural ruim de se transitar, de terra batida e cheia de “costelas de vaca” (ondulações).

O doutor falou: “Tô indo aí, não cometa essa loucura, Kajuruzinho”. Era assim que Magrão o tratava e saiu voando es­trada afora, voltando no final de tarde dizendo que estava tudo em paz e que ele, na verdade, só queria um ombro amigo.

Nessa época, certa noite, o Datena ligou pro Sócrates pedindo para ele tomar conta do Kajuru, que tinha aca­bado de ligar dizendo que visitou um haras com a nova namorada e comprou dois cavalos de fina raça pro amigo jornalista. Datena completou: “Magrão, eu moro em apartamento aqui em Sampa, o que vou fazer com dois cavalos? Vou colocar aonde? Peça pra ele desfazer o negócio, meu irmão”. E lá foi Sócrates levar um lero com o Kajuru.

Hoje ele parece estar bem, disse estar apaixonado e tudo mais, vou continuar torcendo por ele. Sobre o título de minha crônica, lembrei-me de uma entrevista com o compositor carioca Carlos Lira. Ele havia feito uma música e pediu para seu parceiro Vinícius de Morais colocar a letra. O poeta tinha o hábito de sempre passar na casa de Carlinhos quando ia visitar o Tom, e naquela manhã não foi diferente.

Então, tirou do bolso uma folha e disse: “Cante aí, parcei­rinho, veja se ficou boa”. Carlinhos começou “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar”. Vinicius falou: “Pare, Carlinhos, essa acabei de fazer com o Tonzinho, a sua é essa.” Abriu outra folha e Carlinhos cantou outra obra-pri­ma dos dois, “Minha namorada” – “Se você quer ser minha namorada, oh! que linda namorada você poderia ser”.

Por pura coincidência, a métrica das duas músicas é igual. Passei a mão no meu violão e comprovei, você pode cantar “Garota de Ipanema” com os acordes de “Minha namorada” numa boa.

Pois é, por pouco “Garota de Ipanema” não foi “Minha namorada.”

Sexta conto mais.

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