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Sócrates na terra de Sócrates

Tem dias que bate aquela saudade do querido amigo Sócrates, então abro minha gaveta da memória que está carregadinha de lembranças e momentos especiais e inesquecíveis que passei ao lado do Magrão. No começo de nossa amizade, eu não tinha o hábito de sair todas as noites – ou quase todas – para bater papo nos bares e botecos. A alegria das pessoas numa mesa de bar me deixava curio­so e louco de vontade de fazer o mesmo.

De repente, Sócrates me convida pra batermos papo e molhar a palavra no Bar da Praia. Foi o primeiro bar do Val, que na época ficava na rua Camilo de Mattos, pra cima do Brooklin (bar e esfiharia). E lá fui eu. Descobri naquela noite os encantos de um bar, o que se conversava às mesas, as novidades do dia, os negócios que eram fechados diante de uma gelada e uma porção de torresmo.

Descobri isso na companhia do meu amado amigo. Nas primeiras noites dividíamos a despesa, até que percebi que não podia acompanhá-lo nessa parada, pois não tinha bala na agulha para tanto. No final do mês, chegava a “dolorosa”, então decidi me abrir e ele, no ato, disse: “Buenão, você sempre dividiu nossa conta, mas eu não achava justo, você teria é que receber um cachê, afinal você é o artista, você alegra nossas noites com sua voz e seu violão. A partir de hoje é tudo com o Magrão aqui, não abro mão da sua companhia nem de sua viola”. Era assim que ele se referia ao meu violão.

Certa noite, estávamos no Empório Brasília e chegou um conhecido dele. Em poucos minutos, o caboclo falou mal da vida de várias pessoas. Percebi que o Magrão não estava gostando, e demonstrava isso, mas o sujeito não se tocava. Lembro-me que, dias depois, estávamos no mesmo bar e o sujeito falador também. De repente chega no pedaço um cara de quem o fofoqueiro falou mal.

Sócrates o chamou à nossa mesa e disse: “Olha, Fulano falou isso e mais isso de você. É verdade?” Fui pego de surpresa e fiquei só mirando a cara do falador querendo sair fora e o outro cobrando dele. Os dois saíram do bar e foram conversar um pouco distante. Magrão falou: “Buenão, não admito que falem mal de uma pessoa ausente, não gosto de gente assim, esse mala não vai amolar a gente, nunca vi você falar de ninguém, Buenão. É isso aí, parceiro”. Só sei que o fofoqueiro tomou um chá de sumiço.

Em outra noite, fizemos uma matéria para uma TV da Grécia, cantamos nossas músicas, ele foi entrevistado longamente. Passado um tempo muito feliz, Magrão me liga dizendo que estava indo pra Athenas e que sua entrevista rendeu o maior “ibope” por lá.

Voltou da terra de seu homônimo falando pelos cotovelos, até estranhei, mas na verdade ele estava muito contente Poe ser reco­nhecido naquele país. Disse maravilhas da sua estada por lá já se despedindo, pois o sucesso foi tanto que havia fechado um contrato de 15 dias com direito a levar seus cinco filhos e esposa – o sexto ainda não havia nascido. Antes da viagem, fomos fazer uma cantoria – como sempre, num bar. Magrão, meio que sem jeito, rasgava elo­gios pela recepção que teve na Grécia, confessou que não esperava e falou também que tudo isso era fruto daquela seleção de 1982 que encantou os gregos.

Eles só faziam perguntas sobre o time de Telê Santana. “Tipo como estavam os meus companheiros, se ainda nos víamos… Jornalistas do país inteiro queriam uma entrevista, o que foi combinado para esta minha volta”, explicou. E completou: “Buenão, o que vou ganhar com esse contrato vai dar pra gente farrear por mais de dois anos”. Rimos um bocado e lá foi o Doutor e sua prole pra terra dos filósofos.

Uns 20 dias depois, já de volta a Ribeirão Preto, fomos comemo­rar. Ele trouxe alguns presentes, ganhei dele uma caixa aparadora de copos muito linda, de louça e com palavras escritas em grego. Guardo com muito carinho numa gaveta que uso só pra guardar as coisas que ele me presenteou.

Sexta conto mais.

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