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O cinema da Melinha

A velocidade do tempo empurra o estudo do conhecimento para um buraco sem fundo. Enfrentando obstáculos, Melinha Basile, há dez anos, tem convocado os amigos para apreciar e estudar filmes, como o “O Gênio e o Louco”, dirigido por Farahd Safina. Trata-se do quadragésimo terceiro encontro convocado por ela. Os números demonstram a enorme capacidade de atra­ção de Melinha Basile, como também sua vocação pelo estudo da arte. A reunião ocorrerá às dezoito horas de 26 de setembro no Instituto Figueiredo Ferraz.

Os filmes têm como objeto principal a investigação da lin­guagem uma das áreas mais controversas das obras do homem. Os símbolos ligam o emissor com o ouvinte, indicando um objeto mais ou menos definido. A indefinição é visível ou invi­sível. A enorme produção de obras tendo como objeto o estudo da “verdade” e da “mentira” comprova a insuperável dificuldade. O cinema foi transformado em fórum de eleição para unir a imagem, o som e o discurso emitidos em busca da concreção de um tema. É a arte do nosso tempo.

Na cena final do filme “Nunca aos Domingos”, dirigido por Jules Dassin, a prostituta Ilia, ao entrar no bar, espanta-se porque não encontra o amigo músico tocando seu instrumento. Pergun­ta por ele e é informada que está na sala dos fundos chorando a sua dor. Ilia para lá se dirige e pergunta ao músico qual a razão do seu silêncio artístico e da sua dor.

O músico esclarece que um intelectual, que também frequen­ta o bar, perguntou se ele conhecia a colcheia, a fusa, a semifusa e até mesmo a mínima e a semínima. O músico confessou que nunca tinha ouvido falar naquilo. O intelectual então sentenciou que ele estava proibido de tocar qualquer instrumento porque não conseguia dominar a linguagem musical.

Ilia então pergunta ao músico se ele estava ouvindo um passarinho cantando lá fora. Sim, respondeu ele. “O canarinho e você não conhecem o que é colcheia, mínima, fusa e semifusa, mas sabem fazer música mais do que o bobão do intelectual. Uma coisa é ter a linguagem musical intuitivamente, como o canarinho e o músico, outra coisa é conhecer a linguagem criada pelos cientistas que batizaram os sons com nomes extravagan­tes”. O músico, imediatamente voltou ao salão e passou a tocar seu instrumento certo de que ele e o canarinho estavam sim autorizados a fazer música.

Há uma linguagem jurídica que é conhecida necessariamente por todos os cidadãos. Desconhecer a lei não autoriza a absol­vição. E há outra linguagem jurídica travestida numa roupagem complicada quase sempre apenas do conhecimento técnico. O diretor Fritz Lang dirigiu o filme “O Vampiro de Dusseldorf” no qual os ladrões sentem-se levados a prender um estuprador assassino, não identificado pela polícia.

Os ladrões resolvem prender e condenar o meliante, funda­mentando sua decisão em dois elementos. Com tanta polícia na rua, os ladrões já não conseguiam roubar paz. E também porque se soltassem o prisioneiro, iria ele continuar matando. Como re­solver a questão? A sentença dos ladrões é jurídica ou antijurídi­ca? O filme se baseia num fato tirado da vida real. O estuprador foi entre às autoridades e depois por elas condenado.

As hipóteses poderiam inundar uma biblioteca, mas, segu­ramente, somente pessoas com a vocação de Melinha Basile têm o poder de lançar as questões reunindo amigos a seu redor não apenas para apreciar uma obra de arte, mas também para examinar um dos grandes mistérios da realidade do homem: a sua linguagem.

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