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No ano de 2019 comemoraram-se 210 anos de nascimentos de Charles Darwin (1809-1882) e os 160 anos da publicação de seu famoso livro A origem das espécies, livro este no qual esboçou a teoria que o fe-lo um dos cientistas, ou pensadores, mais famosos do mundo. A despeito da dis­tância temporal, a importância de suas ideias ainda hoje ecoa nos quatro quadrantes do planeta e as controvérsias por ele criadas ainda persistem vigorosamente em nossa sociedade. Sua influência na ciência do século XX foi tamanha que, sem sombra de dúvida, sua teoria da evolução tornou-se uma das pedras fundamentais da moderna biologia. De fato, tanto a descoberta do DNA quanto a revolução molecular emergente do último século erigiram-se a partir de suas ideias.

Entre 1830-40, especulando sobre as espécies já conhecidas, e as que iam sendo originadas e desco­bertas, surgia-lhe a ideia da evolução e da seleção natural como o mecanismo da evolução biológica. A Teoria da Evolução enfatizava a variação hereditária como a matéria-prima sobre a qual a seleção natural opera e, portanto, destacava a significância biológica das diferenças individuais porque o Homo sapiens não teria evoluído sem a existência da variação individual. Entretanto, receoso em divulgá-la ampla­mente, pelo impacto que esta poderia suscitar, Darwin preferiu discuti-la, somente, com alguns poucos privilegiados. Treze meses rascunhando o que viria a ser a famosa obra, esta só conheceria o lume em novembro de 1859. Congregando um conjunto de evidências e sólidas argumentações, que comprova­vam suas afirmações, estas constituíram uma “dinamite intelectual”, ou seja, a de que a natureza poderia operar sem necessitar de qualquer intervenção divina. Imediatamente à tomada de conhecimento da mesma, centenas de comentários, hostis e favoráveis, começaram a ser tecidos. Até que, na pena de um antigo amigo, Darwin viria a ler as mais duras palavras que até então lhe foram dedicadas, “Li seu livro com mais dor do que prazer… algumas partes li com profunda tristeza, pois, achei-as falsas e extremamente danosas”. Outro, não menos decep­cionante, viria a chamar-lhe a seleção natural de “a lei da confusão-bagun­ça”, e outros, mais cruéis, imputaram­-lhe a afirmação pejorativa de que o homem descendia dos macacos, afirmação esta que ele jamais fizera.

Entretanto, reações positivas logo viriam a reanimá-lo, dos que, acreditando, comunicavam-lhe que suas idéias viriam a revolucionar a ciência, “A ideia de seleção natural tem a característica comum a todas as verdades universais: clarificando o que estava obscu­ro e simplificando o que estava intrincado, colocá-lo irá como o maior cientista deste século, se não de todos”. Mas, a todas as críticas recebidas, fossem boas ou más, Darwin não recuou em afirmar que “Eu não posso pensar que se a teoria fosse falsa, ela pudesse explicar tanto os fatos, como esta o faz”. Nunca afirmando nada acerca da origem da vida, o cientista conseguiu preservar-se da ideia religiosa de criação divina do mundo. Mas, a partir daquela data, tinha consciência de que permiti­ra à Natureza seguir a ordem que, em sua teoria, ele tinha ordenado.

Com seis edições, e traduzida para onze línguas, ainda no período vitalício de seu autor, tal obra nunca deixou de ser, constantemente, reimpressa. E, em apenas uma década, a teoria darwi­niana já prevalecia, com poucos cientistas ainda refutando suas afirmações, e isto se deveu não porque a teoria estivesse em voga, mas, sim, porque a evidência era abundante e imediatamente condizente com a teoria geral. Assim, em poucos anos após sua publicação, a quase totalidade da comunidade científica já aceitava a teoria da evolução como a da origem das espécies. Não se limitando a apenas uma alteração de paradigmas, tal teoria constitui-se numa verdadeira mudança de pensamento da humanidade. Hoje, ao referenciar Darwin, muitos são os cientistas que o iden­tificam como o único filósofo causador da maior revolução no pensamento humano em apenas ¼ de século. Em adição, ele nos legou novas concepções do mundo da vida e uma teoria que é, por si própria, um instrumento poderoso de pesquisa. Até hoje ele nos mostra como combinar, num todo consistente, os fatos acumulados por todas as classes separadas de trabalhadores, revolucio­nando, portanto, o estudo global da natureza.

Na atualidade, entretanto, a despeito da robustez adquirida por suas concepções, alguns seg­mentos sociais ainda insistem em contestar as premissas básicas de sua teoria da evolução e seleção natural. Para estes é preciso recordar que o pior mal que fazem ao intelecto é não discutir, em pro­fundidade, quaisquer que sejam as implicações sociais, culturais, filosóficas, teológicas, psicológicas e biológicas, não só desta, mas de qualquer outra teoria. Ideia perigosa que foi, continua sendo e será sempre perigosa.

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