Tribuna Ribeirão
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Avanços na medicina mente-corpo (7)

Emoções e atenção influenciam a percepção de dor. Estágios iniciais de relação afetiva, de modo geral, apresentam euforia, bem-estar subjetivo e preocupação com o(a) companheiro(a). Estudos envolvendo neuroimagens revelaram que tais sentimentos associam-se a ativações neurais de sis­temas de recompensa e de regiões de processamento afetivo no cérebro, destacando-se no controle da dor em humanos, dado que, pesquisa básica com animais revelou ativação farmacológica do sis­tema de recompensa, com substancial possibilidade de redução de dor. De modo análogo, observar imagens de um(a) companheiro(a) romântico(a) poderia estar associado à ativações neuronais nos centros de processamento de recompensa.

Por meio de ressonância magnética funcional (fMRI) do cérebro humano, pesquisadores investigaram substratos fisiológicos da analgesia produzida pela observação de imagens de um(a) parceiro(a) afetivo(a), em participantes masculinos e femininos, estudantes, entre 19-21 anos de idade, nos primeiros 9 meses de uma relação romântica. Inicialmente, estes respon­deram uma escala de nove pontos, com quinze itens, que buscava identificar a intensidade do que sentiam um pelo outro. Em seguida, no tomógrafo, desempenharam 3 diferentes tarefas: (1ª) exposta a imagem de um conhecido, deveriam observá-la e pensar sobre tal pessoa; (2ª) exposta a imagem do(a) parceiro(a) romântico(a), deveriam observá-la e pensar sobre o(a) mesmo(a) e (3ª) exposta uma imagem de distração, deveriam completar tarefa de associa­ção de palavras, a qual, em estudos anteriores, com fMRI, mostrara-se eficaz na redução de percepção de dor. Nesta, o alto grau de atenção, a ausência de movimentos e o componente emocional foram fundamentais.

Cada uma destas 3 tarefas sendo desempenhada em períodos de nenhuma dor, dor moderada e dor intensa, bem como, com o participante estimando a dor percebida através de uma escala ana­lógica-visual projetada, na qual 0=nenhuma dor e 10=pior dor imaginável. Os resultados revelaram que as tarefas de distração e a envolvendo a imagem do(a) parceiro(a) romântico(a) reduziram, significativamente, a percepção de dor, mas, importante: apenas esta última foi associada à ativação de sistemas de recompensa. Em outras palavras, processos neurais associados com analgesia indu­zida pela recompensa são distintos daqueles associados com analgesia pela distração.Em síntese, os resultados sugerem que a ativação dos sistemas neurais de recompensa, via formas não farmacoló­gicas, podem reduzir a percepção de dor.

Também tem sido mostrado em Psiquiatria Positiva, que as emoções prazerosas reduzem a dor, enquanto que as emoções negativas e desagradáveis tendem a aumentá-la. A influência de vários contextos sobre a intensidade da dor revela que, ver, por exemplo, figuras desagradáveis durante a apresentação de estímulos dolorosos aumentam as estimativas de dor percebida e diminuem o li­miar absoluto de dor, ao passo que uma tarefa cognitiva que distraia o indivíduo da dor, reduz estas avaliações. Ademais, ansiedade e antecipação, especialmente para estímulos dolorosos, parecem aumentar a intensidade da dor.

Neste contexto, como a percepção de duração temporal influencia a intensidade da dor perce­bida foi recentemente investigada (Pain, 2011; 152: 230-234). A duração temporal foi configurada por um relógio cuja velocidade de rotação dos ponteiros era experimentalmente manipulada, mas, não perceptível aos participantes. Deste modo, o tempo foi manipulado para criar a ilusão de que a duração do estimulo dolorido parecesse maior ou menor. Os participantes foram submetidos a duas condições diferindo quanto à duração das estimulações deliberadas por uma unidade térmica quente em sua perna ou mão esquerda. Na condição controle, os participantes recebiam a estimu­lação nociceptiva num “ciclo temporal completo”, enquanto numa outra, eles foram convencidos de que estariam recebendo uma estimulação num “ciclo temporal reduzido”, em 25%, visando modular (isto é, minimizar) a percepção de dor. Não obstante, a intensidade e a duração real da es­timulação, cujos valores eram desconhecidos aos participantes, eram idênticas nas duas condições. A intensidade da dor foi estimada numa escala analógica visual de 10 cm de comprimento.

Os resultados revelaram que a ilusão de encurtar a estimulação dolorosa ludibriando a materia­lização do tempo, fez com que os participantes percebessem a dor como menos intensa. A modu­lação da dor pela percepção do tempo não foi influenciada pelos aspectos visuais associados com a representação do tempo, tais como cores ou figuras emocionais e, nem tampouco, pela decisão (forçada ou livre) de escolher a sequência das estimulações. Além disso, as estimulações no ciclo temporal encurtado foram percebidas como menos dolorosas do que as estimulações no ciclo tem­poral completo apenas para condições mais longas (30 s) envolvendo estímulos acima do limiar absoluto de dor.

Estes resultados claramente demonstram que estímulos longos (30 s) são percebidos, geral­mente, como mais dolorosos que estímulos curtos (5 a 15 s) e, também, sugerem que a percepção de tempo pode afetar as estimativas de magnitude da sensação de dor experimental. Portanto, os efeitos contextuais da estimação de tempo podem mudar a intensidade da dor percebida.

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