Por Maria Rita Alonso, Especial para ‘O Estado’
Mahershala Ali é um homem grande, musculoso, naturalmente elegante, que aprendeu a se vestir bem desde pequeno. “Isso faz parte da cultura negra”, diz ele, em entrevista ao Estado. “Sempre fui consciente de como ser negro é algo que fala por mim antes mesmo de eu abrir a boca.”
Como define os novos códigos de masculinidade? Que tipo de homem é você?
Estou preocupado com movimento, crescimento e expansão. Permanecer em um só lugar nos torna estagnados, não nos ajuda a evoluir. Quero evoluir. Tenho orgulho de ser aberto, consciente e disposto a ouvir e aprender.
Depois de vencer o segundo Oscar, este é um momento muito excitante para você. De que forma Moonlight e Green Book mudaram a sua vida?
Todos procuramos nos sentir mais completos. Estou buscando me sentir completo holisticamente, em todos os aspectos da minha vida, e a atuação é um deles. Esses trabalhos me abriram novas oportunidades e acessos, e não digo isso só em termos financeiros. Com eles, atingi um nível profundo de satisfação com relação ao que gostaria de dizer como artista.
Acredita que o cinema e a moda podem ajudar a formar sociedades menos desiguais?
Não há muito espaço na moda para pessoas como eu. Então, ver um homem afro-americano como embaixador de uma marca de moda italiana, por exemplo, gera um impacto positivo. Não acho que alguém racista vai mudar sua mentalidade do dia para noite por me ver numa campanha, mas o fato disso não ocorrer antigamente e agora virar uma realidade gera um momento de pausa para que as pessoas reflitam sobre questões raciais. No cinema, diferentes contribuições também devem aparecer e outras histórias precisam surgir. É necessário esforço cultural para possibilitar a comunicação em diferentes comunidades, nas quais a opressão atinge certas pessoas. Narrativas sobre gays, mulheres negras, transgêneros ajudam a gerar um impacto saudável em nossas relações.
O que mudou nos últimos anos nos Estados Unidos em relação ao preconceito racial?
Não acho que as mudanças ocorreram exclusivamente nos EUA. Esse movimento é global, estamos criando novas narrativas que podem ajudar a conscientizar as pessoas. Quando nos tornamos conscientes de algo não saudável, de um comportamento tóxico, podemos fazer mudanças e agir mais corretamente. Acho que as facilidades de conexão entre as pessoas hoje estão abrindo caminhos para o convívio entre diferentes raças e culturas. Mas é preciso continuar passando a mensagem. Estamos apenas no começo.
O que o seu estilo diz sobre você? Em quem se inspira?
Meu pai me impactou nesse sentido. O estilo dele era extraordinariamente cool e ele estava sempre me fazendo ter noção do que escolher para usar em Nova York ou na Califórnia. Minha mãe era cabeleireira e eu, que sempre fui introvertido, sentia que meu estilo podia falar por mim. Uma das primeiras coisas que aprendi foi combinar roupas, cores, texturas. Isso fez parte da minha educação e acho que faz parte da cultura negra também, já que a gente não tem chance de conseguir um trabalho ou algo assim se não estiver bem vestido. Não digo que isso é algo positivo. Mas ter estilo é uma reação, uma resposta à discriminação que vivemos como negros. Sempre fui consciente de como ser negro é algo que fala por mim antes mesmo de eu abrir a boca.
Como você se sente sempre na lista dos mais bem-vestidos e como embaixador da Zegna?
Eu me sinto humildemente inspirado. No fim do dia, todos nós vestimos uma expressão, um reflexo direto da nossa personalidade E me sinto grato pelos relacionamentos que criei também com pessoas incríveis da moda, como as que trabalham na Zegna.
Hoje, a televisão e as plataformas de streaming dominam a cena. Os meios e as plataformas importam para você?
Para mim, não importa qual seja a plataforma, desde que nós possamos aprender com histórias, estilos de vida e nos conectar com a condição humana. Se a história é produtiva, nós podemos tirar algo daquilo na tela, em qualquer que seja o formato. Busco apenas ter certeza de que minha contribuição importa e causa um impacto positivo nas pessoas.
O que leva em conta ao escolher seus papéis?
Costumo olhar para atores que admiro, como Daniel Day Lewis, e entender como conseguem se transformar a cada interpretação. Se você tem a ousadia de estar nesse meio, precisa aprender a se ver no lugar de outra pessoa e esquecer quem você é. Tenho isso em vista quando escolho um papel.
Está animado em protagonizar Blade, o caçador de vampiros?
É meu primeiro trabalho com a Marvel, nunca havia tido a oportunidade de fazer um filme de ação. Na verdade, fiz alguns trabalhos do tipo, mas meus personagens sempre morriam antes da verdadeira ação começar (risos), então não quero morrer desta vez!
Há outros projetos em andamento?
Quero partir para a produção. Na verdade, já estou produzindo um trabalho para a HBO, e estou bem animado.
A que você diz não?
Ao que é improdutivo. Seja um trabalho ou uma conversa. Se não é produtivo, não faz sentido. (COLABOROU LAYS TAVARES)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.