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A radicalização da extrema-direita (Parte I)

David Nemer publicou no final de agosto um interessante artigo no The Intercept Brasil abordando a radicalização dos grupos bolsonaristas nas redes sociais. Seu texto foi, na verdade, uma verdadeira pesquisa in loco, já que ele se infiltrou por quase um ano em quatro grupos de apoiadores de Bolsonaro no WhatsA­pp para monitorar seu funcionamento. Mas sua pesquisa começou antes, em março de 2018, quando observava, de fora, grupos que foram fundamentais na disseminação de desinformação durante a campanha eleitoral. Após a eleição, muitos usuários saíram desses grupos porque sentiram que cumpriram seu objetivo principal: eleger o ex-capitão. No entanto, vários grupos continuam ativos – e pior, ainda mais radicais.

Para David Nemer, Bolsonaro empoderou sujeitos que se sentiam reprimidos devido às políticas progressistas dos governos anteriores. Seu discurso legitimou sentimentos radicais e abriu es­paço não apenas para a sua expressão, mas também para uma ação – é o que observamos agora. No período em que esteve “infiltrado” nos grupos bolsonaristas, Nemer percebeu que eles espalhavam mentiras por meio de uma estrutura que lembrava muito bem uma pirâmide. Eles tinham cerca de 180 membros. Funcionavam de forma a convencer e promover argumentos a favor do seu candida­to. Estes “influenciadores” estavam no topo da pirâmide: eram os responsáveis por manipular notícias e criar mentiras que viralizas­sem e influenciassem diretamente pessoas comuns.

Nos últimos meses, David Nemer observou uma transformação na base de apoio do governo: conforme os seus membros acompanhavam a formatação do novo governo, começaram a surgir entre eles discor­dâncias sobre os rumos que o país tomava. A maioria que, durante a campanha, estava sempre de acordo, entrou em calorosos bate-bocas por causa das suas diferentes expectativas com novo governo. As brigas constantes forçaram muitos deles a saírem e a criarem outros grupos, e, no momento, já existem seis novos grupos além dos quatro originais. Isso ocorreu também com grupos mais públicos, como o MBL, que vem se afastando cada vez mais dos bolsonaristas. Cada grupo seguiu uma linha de pensamento estipulada por seus administradores e, basea­do nela, Nemer os organizou em categorias.

O primeiro deles se concentra na “propaganda do governo”. Seus membros são apoiadores ferrenhos de Bolsonaro. Não permitem discussões que questionam quaisquer atos do presidente. Reúne pessoas do povo, bolsominions e influenciadores. No entanto, em vez de consumir, compartilhar e produzir notícias falsas sobre a oposição, a desinformação se concentra principalmente na propaganda oficial e na deslegitimização dos tradicionais meios de notícias, em especial os que têm denunciado as irregularidades do governo, como o desmata­mento e as queimadas da Amazônia, e a ligação entre o filho mais velho do presidente com as milícias do Rio. Dão todo apoio à indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington. Fazem ferrenha campanha contra a Globo, a Folha, a Veja, etc.

O segundo grupo, Nemer afirma que é o da “insurgência”. São os que se tornaram opositores do presidente. Eles têm fortes sentimen­tos nacionalistas e acreditam que Bolsonaro traiu a nação devido aos seus planos de privatizar e vender empresas estatais brasileiras. Os insurgentes afirmam que o presidente não está cumprindo suas promessas de militarizar o governo e cedeu aos políticos corruptos. Os “insurgentes” acreditam que a única forma de salvar o país é organizar uma revolta popular armada para promover uma limpeza total do Legislativo e do Judiciário. Assim, compartilham todo e qualquer conteúdo que leve a descrença nos poderes da República. Para eles, Bolsonaro já se corrompeu, STF é lulista e o Congresso é um antro de corrupção. Apostam na indignação que antecede a insurgência. Foram eles que puxaram as manifestações no dia 25 de agosto, dia do soldado (continua no próximo sábado).

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