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PF acusa hacker de lavagem de dinheiro

REDE SOCIAL/REPRODUÇÃO

A Polícia Federal afirma pela primeira vez que encontrou “evi­dências” de que o hacker Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, de 30 anos, preso em 23 de julho no Edifício Premium, na avenida Leão XII, bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto, e responsável por invadir o apli­cativo Telegram do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, além de outros in­tegrantes da Lava Jato e autorida­des, praticou ações que configu­ram “lavagem de dinheiro”, crime cuja pena é de três a dez anos de prisão, e possuía aplicativos para realização de fraudes bancárias.

“Já foram encontradas no material arrecadado evidências do envolvimento de Walter Del­gatti Neto (…) com ações voltadas à ocultação ou dissimulação da origem dos recursos de origem ilícita, configurando, em tese, o delito de lavagem de dinheiro”, escreveu a PF em relatório parcial do inquérito da Operação Spoo­fing. Além da lavagem, Delgatti é apontado como suspeito pelos crimes de violação de sigilo te­lefônico e invasão de dispositivo informático alheio.

Os investigadores, porém, até agora não obtiveram provas de que o hacker teria sido pago pela invasão do Telegram das autori­dades. A PF aponta que “ainda não é possível afirmar se o in­vestigado teria realmente atuado sozinho e não estaria ocultando a participação de outras pessoas nos crimes investigados”. Dentre as novas provas obtidas, chamou atenção dos investigadores uma negociação de bitcoins – um tipo de moeda virtual – no valor de R$ 1,5 milhão, que permanece inexplicada.

Mas a Polícia Federal acre­dita ter encontrado um indício que pode ajudar a desvendar a principal dúvida que ainda paira sobre os suspeitos de hackear as principais autoridades do País: se eles venderam as mensagens que obtiveram de forma ilegal. Numa conversa trocada via aplicativo, Delgatti Neto, que confessou che­fiar o grupo, diz a Danilo Cristia­no Marques, de 36 anos, seu su­posto “testa de ferro”, que “acabou a tempestade”, “veio a bonança”.

A conversa consta no 0rela­tório de 13 páginas em que a PF sustenta para a Justiça a necessi­dade da manutenção das prisões de Delgatti e Gustavo Henrique Santos, de 28 anos, o DJ de Ara­raquara também suspeito de par­ticipar dos crimes. No relatório os investigadores dizem que a troca de mensagens ocorreu em 10 de abril de 2019, dois meses antes de conversas entre o ministro da Jus­tiça, Sérgio Moro, e de procurado­res da Lava Jato serem divulgadas.

São conversas que “sugerem algum feito”, conclui a PF, numa sinalização de que Delgatti pode­ria estar comemorando a venda das mensagens. A conversa en­tre os dois é acompanhada pela descrição “@chefedeestado”. No documento, a polícia diz que Da­nilo Marques e Suelen Priscila de Oliveira, de 25 anos, namorada de Gustavo, não oferecem mais riscos para a obtenção de provas, podendo, assim, ser soltos.

Os investigadores da PF con­cluíram na semana passada parte da perícia dos materiais apreendi­dos na Operação Spoofing. Até o momento, além das suspeitas de que Delgatti teria recebido pelas mensagens que vazou, também dizem ter encontrado elementos que indicam fraudes bancárias.
Os quatro suspeitos foram presos pela Polícia Federal no dia 23 de julho, na investigação sobre a invasão de telefones celulares de autoridades, incluindo o do presidente da República, Jair Bol­sonaro, o do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o do procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol, além de centenas de procurado­res, juízes e delegados federais, além de jornalistas.

Defesa
Na época das prisões dos suspeitos, Delgatti afirmou em depoimento à Polícia Federal ter repassado o conteúdo das su­postas mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, que tem divulgado reportagens com base nas conversas desde junho. O ha­cker disse que não cobrou contra­partidas financeiras para repassar os dados. Procurada, a defesa de Delgatti afirmou que até o mo­mento, a PF não apresentou nos autos do caso os supostos arqui­vos acessados pelo seu cliente.

“Considerando todo material apreendido há mais de um mês, tempo hábil para o delegado apre­sentar provas concretas dos su­postos acessos, uma mera tentati­va de acesso, sem comprovação de invasão, com cópia de dados, não justifica o acautelamento provi­sório. Ressalte-se que Walter Del­gatti Neto é estudante de Direito e até o momento não apresentou nenhum risco à continuidade das investigações, sempre colaboran­do com a autoridade policial”, afir­mam os advogados.

Danilo Marques foi preso em Araraquara “Vermelho”, em Ri­beirão Preto. Gustavo Henrique Elias Santos e a namorada Suelen Priscila de Oliveira foram detidos em São Paulo. O apartamento de “Vermelho” foi alugado em nome de Marques. Inicialmente, os quatro presos são investigados pelos crimes de invasão de dispo­sitivos informáticos e intercepta­ções telefônicas, que prevê pena máxima de três anos e quatro meses. Caso também sejam en­quadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem in­tegrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.

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