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Cartografia e Literatura: os mapas lendários de Umberto Eco

Publicado em 2013, “História das Terras e Lugares Lendários” trata dos lugares míticos que povoam a literatura, como, por exemplo, Camelot, Atlântida, Eldorado e a ilha de Salomão, entre outros, os quais, mesmo podendo ou não terem existido na realidade, estão registrados em mapas lendários que povoam a imaginação dos povos. Nele, informações e ilustrações riquíssimas sobre cada um desses lugares e suas civilizações. Tal qual apresentado nos textos anteriores, sobre a confecção cartográfica pelos povos, nele capítulos são dedicado às maneiras como as civilizações do passado viam a Terra: redonda, com mapas em formato de T, bem como, com a Ásia, o Mar Negro, o Nilo, a Europa, a África e o Mar Mediterrâneo nas mais diversas configurações.

A mesma hipótese contemporânea de civilizações que possam habitar o universo, também presen­te, guardadas as proporções, na imaginação, e por que não, esperança, de vários povos habitando as diferentes regiões da Terra. Complementado essas informações pressuposições, ilustrações e trechos de livros de época que discutem a cartografia na literatura, tais como o trecho, abaixo, sobre os antípodas, retirado de “Astronomica”, de Marco Manílio, escrito entre I a.C. e I d.C.: “Embaixo delas [as constela­ções austrais] jaz uma outra parte de mundo, inatingível para nós. E estirpes desconhecidas de homens e reinos nunca atravessados que recebem a luz do nosso mesmo Sol e sombras opostas às nossas, com astros que se põem à esquerda e nascem à direita, num céu às avessas do nosso”.

Triviais na contemporaneidade, esses assuntos nem sempre foram assim. Muitos cientistas, nave­gadores, historiadores, filósofos e artistas se preocuparam, em seu tempo, seja com o formato da Terra, seja com a estrutura do mapa múndi, registrando nas cartas náuticas imagens e demais características de povos que habitavam os quatro cantos do mundo. Trata-se de uma pesquisa sobre diversos lugares que povoam o imaginário da humanidade há séculos. Atlântida, o Eldorado, a localização do Santo Graal entre outros são investigados e ricamente ilustrados com vasta referência bibliográfica para quem desejar se aprofundar em determinado lugar.

Dividido em 15 capítulos, a obra traz comentários que vão trazendo para o leitor informações e julgamentos de vários pesquisadores que trataram do tema, partindo de fontes primárias até os co­mentadores mais contemporâneos. Um exemplo? O capítulo dedicado a Homero, ‘As terras de Home­ro e as sete maravilhas’. Em outro capítulo, intitulado ‘O interior da Terra, o mito polar e Agarttha’, o autor mostra como a iconografia vai construindo uma história por meio de imagens. De acordo com a crítica, “A primeira ideia que vem à mente quando se fala em coração da Terra é a do reino dos mortos, com suas figurações do Hades, como as de Nicolò dell’Abate e Tintoretto, no século 16. Mas as vísceras da Terra também apontam para certa concepção de mundo subterrâneo que inspiram desenhos que mesclam fantasia e ciência. A mesma região é também território de outras fantasias, como as da “Via­gem ao centro da Terra”, de Jules Verne, com sua rica pletora de ilustrações imaginosas de monstros e outras criaturas. O mundo abaixo da superfície é inspiração para fantasias que vão de jardins de cogu­melos gigantes ao mundo dos hobbits de Tolkien. Sem falar dos mitos orientais e dos terrenos polares que atravessam fendas em direção ao subterrâneo, como em Horizonte perdido”.

Ainda segundo a crítica, “O último capítulo do livro, ‘Os lugares do romance e sua verdade’, está mais próximo do leitor de hoje. Os sítios lendários deixam a tradição ancestral para se aproximar de uma mitologia mais moderna, mas igualmente geradora de crenças e fantasias. São lugares como a ilha de King Kong, a caverna do Fantasma, Nárnia, Terra-média, o deserto dos tártaros, Rick’s Café e até mesmo Gotham City. Umberto Eco, ao mergulhar na verdade da ficção depois de seu longo itinerário pela ficção da verdade, parece deixar acertado que, pelo menos entre as pessoas sensatas e sábias, nada é mais verossímil que a lenda. Por isso somos humanos: para seguir acreditando no paraíso. E temendo o inferno”.

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