Tribuna Ribeirão
Cultura

Fernanda Young fez história na televisão

As séries da roteirista
Adriana Del Ré e Guilherme Sobota (AE)

A escritora, atriz e roteiris­ta Fernanda Young morreu na madrugada de domingo, 25 de agosto, aos 49 anos. O estilis­ta Rodrigo Rosner, um amigo próximo, afirmou que ela teve uma crise de asma, seguida por uma parada cardíaca. De acordo com ele, não houve demora no atendimento. Fer­nanda estava na companhia de uma amiga no sítio da família em Gonçalves (MG) quando passou mal. Ela foi sepultada no Cemitério de Congonhas, Zona Sul de São Paulo.

“Ela teve uma crise de asma seguida de uma parada cardí­aca e faleceu”, explicou. Rosner lamentou a morte. “Ela era in­crível, isso é o mais importante.” Fernanda foi roteirista de séries como “Os Normais”, “Minha Nada Mole Vida” e “Como Aproveitar o Fim do Fundo”. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a artista falou sobre a série “Shippados”, que estreou na Globo em 18 de junho. O ro­teiro foi escrito por ela em par­ceria com Alexandre Machado. “Queremos mostrar o que se passa nesses novos tempos e não simplesmente fazer piadas sobre relacionamento”, afirmou à épo­ca das gravações.

“Quando a paixão surge, agora? Quando dá um match? Não sei. O fato é que essa é uma mudança irreversível, então os seres humanos vão se adaptar a ela, como já se adaptaram a diversas outras. Algo se perde? Provavelmente. Algo se ganha? Talvez, ainda é cedo para dizer. Pode ser que os relacionamen­tos pós-redes sejam mais since­ros, pois não há mais como se ter segredos, acabou a privacidade. No fim das contas, o amor pre­valece e sobrevive, apesar todas as mudanças que o mundo so­freu. As pessoas querem o amor, não importa de qual maneira ele venha”, disse Fernanda ao Esta­do em fevereiro.

Nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1º de maio de 1970, Fernanda estreou como roteirista na Globo em 1995, com a série “A Comédia da Vida Privada”, baseada em textos de Luis Fernando Verissimo, que assinou com o marido Alexan­dre Machado, seu parceiro em todos os trabalhos na TV. No ano seguinte, ela publicaria seu primeiro romance, “Vergonha dos Pés”, o início de uma carreira de sucesso na literatura que teria ainda mais 13 títulos.

Em 2001, veio um dos maiores sucessos da comédia da televisão brasileira: “Os Normais”, série estrelada por Fernanda Torres e Luis Fer­nando Guimarães, que ficou no ar até 2003 e ganhou dois longa-metragens. Young foi indicada duas vezes ao prêmio de Melhor Comédia do Emmy Internacional, por “Separa­ção?!” e “Como Aproveitar o Fim do Mundo”. Ela entraria em cartaz no próximo dia 12 com a peça “Ainda Nada de Novo”, contracenando com Fernanda Nobre. O enredo conta a história de um casal lésbico prestes a filmar um fil­me – as personagens são uma diretora e sua atriz principal.

Os Normais
Numa época em que a Glo­bo estava longe do humor inte­ligente e engajado que apresenta hoje, capitaneado por Marcius Melhem, e em que o estilo “Zor­ra Total” de fazer comédia ainda imperava, Fernanda fez história com “Os Normais”. Com estilo totalmente nonsense, a série es­crita em parceria com Alexan­dre Machado foi uma quebra de paradigma. Os eternos noivos, Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães), iam contra aquele velho mode­lo de casais certinhos que a TV adora retratar.

Se metendo em confusões eternas, Vani e Rui tinham diá­logos desconcertantemente en­graçados, sem filtro, e não raro escatológicos. Um tipo de comé­dia que causava estranhamento, tirava da zona de conforto dos bordões dos tradicionais progra­mas. A princípio “Os Normais” chocou, depois o público se dei­xou levar pelos delírios do casal. A série rendeu dois filmes

Fernanda assinou outros ro­teiros na Globo, seguindo sua linha de humor ácido, numa trajetória de altos e baixos. Al­gumas outras produções não deram tão certo, como “Os As­pones” e “Separação?!” Outras renderam bons momentos, como “Minha Nada Mole Vida”. Com Mônica Iozzi e Tony Ra­mos, “Vade Retro”, exibida em 2017, também era uma promes­sa que não vingou. A história da advogada ingênua seduzida pelo diabo não agradou.

Como apresentadora, Fer­nanda Young se destacou em “Irritando Fernanda Young” e “Saia Justa”, com sua sinceri­dade e humor. Com “Shippa­dos”, disponível no Globoplay, Fernanda voltou a encontrar o tom atualizando seu casal para os tempos de relacionamento via aplicativos. Foi uma com­binação que deu certo: história bem contada, bons diálogos, bons atores/protagonistas. Foi sua versão “Os Normais 2019”. Infelizmente, ela não teve tem­po para continuar essa história.

Uma das filhas mais ve­lhas de Fernanda Young, Estela May, de 19 anos, fez uma homenagem à mãe. Gê­mea de Cecília Madonna, ela publicou uma foto no Insta­gram em que aparece ainda criança no colo da mãe. Ela também divulgou um recado em que dizia que ama muito Fernanda.
“Mamãe, eu nunca doí tan­to”, inicia a jovem em seu texto de legenda da imagem. “Você deixa pra trás a obra mais per­feita que já vi, todos os textos, todas as brilhantes ideias de jerico que nem chegaram a ser realizadas (pode deixar que eu realizo) e os poemas”, afir­ma. Estela diz que Fernanda sempre a impressionou e é sua maior inspiração. “Vai ser difí­cil sem você, mas vamos con­seguir, prometo. E pode acre­ditar que tudo que eu fizer vai ter uma pitada sua […] Você é eterna”, declarou.

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