Murilo Bernardes
No dia 12 de outubro de 2018 o Botafogo Futebol Clube completou 100 anos de existência. A história centenária do time que revelou nomes como Socrátes, Raí, Zé Mário e tantos outros está marcada e registrada no papel e no coração de sua torcida.
Mas, um torcedor botafoguense em especial, bem mais jovem do que o clube, resolveu registrar o ressurgimento do Pantera através do olhar das arquibancadas.
O produtor audiovisual Nicollas Oliveira, 20 anos, dirigiu e produziu o documentário “Sabe Por Que Não Tenho Medo? A História de uma Torcida Centenária” afim de mostrar como o torcedor botafoguense influenciou na ascensão do clube, que saiu da Série A3 do Campeonato Paulista para a Série B do Campeonato Brasileiro.
O sucesso e a excelente produção do material, renderam ao filme a indicação para concorrer ao prêmio de melhor longa-metragem no Cinefoot 2019, um dos principais festivais de cinema de futebol do Brasil e pioneiro na América Latina.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Tribuna, Nicollas falou sobre sua motivação em produzir o filme. Segundo ele, a forma como o torcedor empurrava o time nos momentos difíceis impressionava.
“Eu vim da torcida, da essência de apoiar o time independente do resultado ou da situação. Vim de uma época em que o clube estava ressurgindo no cenário Paulista, na Série A3, depois a A2 e posteriormente o acesso para a elite. Cresci juntamente com a volta do Botafogo no cenário nacional. A cada ano que passava eu me impressionava com o quanto a torcida influenciava no crescimento do clube. Se o Botafogo está onde está hoje, com certeza a voz da torcida fez isso acontecer e isso merecia ser contado em um filme”, disse.
O documentário foi produzido desde a ideia até a finalização por Nicollas, porém, ele revela que o projeto contou com envolvimento familiar e colaboração de outro torcedor botafoguense que registra imagens da torcida desde 2008.
“Eu produzi o documentário sozinho, desde a ideia até a finalização. Claro que contei com muitas ajudas. Pessoas que me mandaram acervo de imagens da torcida, vale destacar o Flavio Santos Pereira, que capta imagens da torcida em seu acervo pessoal desde 2008 e isso fez com que a história das arquibancadas nesse período fosse “salva” para a eternidade. Até minha família e namorada acabaram entrando na produção para ajudar um pouco, mas na essência eu fiz sozinho”, contou Nicollas.
A participação em uma das mostras mais importantes do cinema de futebol da América Latina pode parecer algo distante, mas segundo o produtor audiovisual, a ideia, desde o início, era tentar ser selecionado para o Cinefoot, já que para ele, a história do Botafogo deveria ir o mais longe possível.
“Desde o início eu já sonhava com o Cinefoot, por toda exposição nacional que a mostra tem, afinal o objetivo do documentário é disseminar a história da torcida do Botafogo para todo o Brasil e esse evento tem abrangência em toda América latina. Recebi um e-mail na semana passada que anunciava a seleção oficial do meu filme para o evento, fiquei muito contente com o resultado e comecei a lembrar de todas as dificuldades da produção e isso fez com que me orgulhasse mais ainda de todo o projeto”, revelou.
Sobre vencer o prêmio, Nicolas afirmou que sua produção emociona qualquer pessoa e que a força do Botafogo pode ser um diferencial nessa questão. Como o vencedor é decidido através dos votos dos que estarão presentes no dia da exposição, que acontece no dia 15 de setembro, no Museu do Futebol, em São Paulo, Nicolas aproveitou para convocar o torcedor botafoguense.
“Nunca duvido da força da nossa torcida, ela conquista as pessoas. A história emociona qualquer um: um clube, à beira da falência e em meio a crises políticas e financeiras, volta ao cenário nacional com o apoio de torcedores que dispuseram de suas vidas para o clube. E mais, consegue um acesso para a Série B com um gol aos 49 minutos do segundo tempo, não há roteiro de cinema que consiga superar isso. O vencedor da mostra depende dos votos das pessoas que comparecerem à sessão, então toda a nação botafoguense está convidada, principalmente aquelas pessoas que moram na região de São Paulo que ficam afastadas de Ribeirão, mas carregam a paixão do clube pela capital Paulista”, afirmou.
No total, foram nove meses de produção. Nicollas conta que precisou intercalar as atividades do trabalho com as questões que envolviam o filme. Segundo ele, as edições ficavam para depois do expediente, por volta das 7 da noite, e varavam a madrugada.
“Já captava imagens há um tempo, mas não sabia quando iria começá-lo. Após aquele gol do Caio Dantas, que tive oportunidade de filmar há 5 metros de distância dele e aquele acesso glorioso, eu tinha a certeza de que era a hora de produzir o documentário e fechar com esse jogo. Dali foram nove meses até o lançamento oficial, sendo 6 meses de edição e finalização e 3 meses para os toques finais e distribuição. Eu tinha que dividir meu trabalho com a produção do documentário, então chegava 19 horas em casa depois de trabalhar o dia todo, sentava no computador e trabalhava com o filme até de madrugada. Foi cansativo, mas bem gratificante”, finalizou.
Além do filme de Nicollas Oliveira, outras cinco obras disputam o prêmio de melhor longa-metragem no Cinefoot 2019, incluindo duas produções internacionais, uma peruana e outra argentina.