Eliezer Guedes
A cozinheira Maria Alice Nunes da Mota considera a escola de Ensino Infantil e Fundamental mantida pela Fundação Coronel Quito Junqueira, essencial na educação de seus dois filhos, Bárbara Francine, de 10 anos, e João Victor, de 19 anos. Casada e moradora no bairro Jóquei Clube, periferia Norte de Ribeirão Preto, ela e o marido são apenas uma das muitas famílias beneficiadas pela Fundação.
Considerada referência como instituição educacional sem fins lucrativos e em tempo integral para estas faixas etárias, a escola possui setecentos alunos e é mantida exclusivamente com recursos da Fundação Coronel Quito Junqueira criada em 1938. Ver texto nesta página.
Só para exemplificar o que Maria Alice considera essencial, o filho mais velho do casal, João Vitor de 19 anos, após terminar o Ensino Fundamental no Educandário, cursar o Ensino Médio na Rede Pública, e paralelamente fazer um curso de Aprendizagem Industrial no Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai), graças a uma parceria da Fundação Educandário, conseguiu uma bolsa em cursinho pré-vestibular.
Resultado: este ano após ser aprovado no vestibular da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) está cursando Educação Física, no campus de Presidente Prudente. Lá, João Vitor mora no alojamento da universidade. Já a filha do casal, Bárbara, de 10 anos, cursa a quarto ano do Ensino Infantil no Educandário.
“Se não fosse o Educandário que abriu suas portas para meu filho ele dificilmente estaria onde está. Somos trabalhadores, moramos na periferia e dificilmente poderíamos dar uma educação tão boa como a que meu filho teve e a que minha filha tem”, afirma Maria Alice, que agradece a Deus por ter conseguido colocar seus filhos na Instituição.
Independente da crença religiosa, o agradecimento dela faz sentido já que a fila de espera por uma vaga no Educandário tem dois mil e quinhentos inscritos e anualmente só são abertas sessenta novas vagas no primeiro ano do Ensino Infantil. Isso porque, os alunos desta série passam para a segunda no ano seguinte. Já nas outras etapas isso dificilmente acontece porque o índice de desistência ou abandono é de quase zero por cento.
“Quem entra aqui dificilmente sai antes de terminar o nono ano do Ensino Fundamental”, explica a diretora educacional da escola, Ana Cleide Souza de Castro. O principal filtro para escolher um aluno é a condição sócio econômica familiar. O estatuto da Fundação prevê uma renda per capta máxima de um salário mínimo e meio. Entretanto, este valor dificilmente é atingido porque o total de famílias inscritas com renda inferior à exigida é muito maior.
Outras fases
A escola criada pela Fundação Quito Junqueira já teve outras fases. Até o final dos anos noventa era um internato para crianças carentes. Na época, como a instituição não possuía escola, os internos estudavam em unidades escolares fora do educandário.
Foi neste período que a Fundação fez uma parceria com o Estado e implantou uma escola estadual – de primeira a quarta série – num dos vários imóveis instalados na imensa área de 468.500 m², localizada no Jardim Independência, zona Leste da cidade. A escola ocupa vários imóveis do local.
Tempos depois a Fundação assumiria integralmente a escola e ampliaria o atendimento desde o ensino infantil até todo o ciclo do fundamental. Com a mudança, o número de alunos foi aumentado e hoje totaliza setecentos. Outro diferencial implementado pela Fundação foi oferecer ensino em tempo integral.
Com isso, os pais dos alunos, que regra geral, não tem onde deixá-los no contra turno escolar, podem trabalhar tranqüilos sabendo que os filhos estão em uma instituição que além de educação oferece também alimentação e várias atividades extracurriculares.
Atualmente a escola tem 55 funcionários, entre professores, técnicos administrativos e quatro estagiários. Periodicamente todos passam por cursos de atualização desenvolvidos em parceria com entidades e instituições do setor. O Educandário também oferece atendimento odontológico para os alunos.
Atividades na periferia
Em 2014 a Fundação decidiu ampliar suas atividades e levar conhecimento e informação para além de seus muros. Para isso, criou o Programa Educa Jovem que oferece atividades sócio-educativas para jovens de 14 a 18 anos de escolas públicas e dos núcleos de atendimento social da Secretaria municipal de Assistência Social de Ribeirão Preto. Desde a sua criação o programa já atendeu 3.742 jovens.
No ano passado o projeto sofreu uma reformulação e atualmente, além da própria Fundação é realizado nos núcleos de atendimento da assistência social da Vila Mariana, do Conjunto Leo Gomes, do bairro Adelino Simione, todos na zona Norte da cidade e no núcleo do Horto Municipal, zona Oeste. Tem cerca de 350 participantes.
As atividades são realizadas no contra turno escolar do estudante e tem oficinas como as de violino, balé e preparação para o mercado de trabalho. Possui treze educadores e é dirigido pela educadora e entusiasta do projeto, Luciana Paschoalin.
“O objetivo é evitar que os jovens fiquem na ociosidade e dar opções para que eles tenham outras atividades fora da sala de aula. Queremos contribuir para formar cidadãos”, explica a educadora. Para se inscrever o interessado deve procurar a Fundação Quito Junqueira ou um dos núcleos da Secretaria Municipal de Assistência Social.
Aulas, esporte e alimentação
O dia-a-dia dos alunos começa às sete horas da manhã e só termina às 17 horas. Durante este período, além das atividades escolares eles recebem três refeições sendo um lanche no período da manhã, almoço entre 11h30 e 13 horas e um lanche no meio da tarde.
Entre as atividades complementares oferecidas estão aulas específicas com professores especializados de matemática e língua portuguesa para os alunos de terceiro, quarto e quinto anos. A proposta é prepará-los para o inicio do novo ciclo escolar onde terão disciplinas específicas e segmentadas. Já para os estudantes do sexto ao nono ano, são inseridos na grade curricular temas como empreendedorismo, raciocínio lógico, geometria e produção textual.
Quando não estão em sala de aula os estudantes desenvolvem outras atividades cujo objetivo é despertar habilidades, sociabilizá-los e aumentar o vínculo, inclusive com a família. São oferecidos, por exemplo, xadrez, vôlei, basquete e natação.
Já entre as ações com as familiares uma das preferidas pelos alunos é o chamado “dia da pipa”. O evento consiste em que os alunos e os seus pais façam, juntos em casa, uma pipa e que numa data previamente agendada eles passem o dia em família empinando-as no terreno da Fundação. Nesta data todas as famílias também participam de um piquenique.
Origem da Fundação
Criado em 13 de maio de 1938, o Abrigo de Menores de Ribeirão Preto – Educandário Coronel Quito Junqueira – surgiu com o objetivo de acolher crianças e adolescentes de famílias de baixa renda da comunidade que, na época, não tinham condições de custear o desenvolvimento integral de seus filhos como saúde, educação, alimentação e moradia.
Embora seu estatuto tenha sido registrado em 1940, apenas três anos mais tarde, em 19 de novembro de 1943, o abrigo recebeu o seu primeiro educando. Já em setembro de 1944, a entidade foi transformada em fundação, e passou a denominar-se Fundação Educandário Coronel Quito Junqueira.
Até 1997, as crianças de famílias de baixa renda do sexo masculino, com idade entre 6 e 9 anos, eram admitidas. Já a partir de 1998, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente iniciaram-se mudanças importantes na Fundação. Além do encerramento do regime de internato ela passou a atender crianças de ambos os sexos em regime aberto.
Alunos do Educandário
Unidade Getúlio Vargas – Até o 2º ano…………………………………………………………………………….. 240 alunos
Unidade Camilo de Matos – 3º ao 5º ano…………………………………………………………………………. 180 alunos
Unidade Sinhá Junqueira – 5º ao 9º ano………………………………………………………………………….. 280 alunos