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Imprensa nos ‘anos de chumbo’
Nos anos em que se denomina na nossa história como ‘os tempos plúmbeos’, traduzindo do latim, ‘os anos de chumbo’ a imprensa tinha suas sérias limitações. Não podia divulgar notícias mais violentas e principalmente envolvendo o regime em que vivíamos. Havia que se ter engenho e arte para que as notícias não fossem cortadas ou “podadas”, como se dizia no jargão jornalístico. O pessoal que representava o ‘Poder Central’ em Ribeirão Preto era o Comando Militar. Conforme o coronel à frente dos trabalhos rotineiros, tínhamos mais ou menos liberdade para a divulgação. Nos primeiros momentos da ação nacional havia mais rigor na análise das publicações mesmo com as corriqueiras dos fatos locais.

Repórter atrevido
Havia um repórter um tanto atrevido, que diante das dificul­dades para realizar seu trabalho, “vasculhava” por todos os ângulos para encontrar notícias “divulgáveis”. Visitava cemi­térios, se entranhava nos meandros das fontes informativas normais e com determinadas cautelas. Certa feita, em notícia de jornal sobre falecimentos, o necrológio ele estranhou que mais de doze crianças estavam constando como falecidas no mesmo dia e na mesma hora. Nada mais se falou. O jornalista estranhou. Confabulou com seus botões e resolveu buscar os pormenores. Suas fontes que não falhavam garantiram que as crianças que seriam quinze, faleceram por conta de uma pun­ção para se verificar a existência de meningite meningocóci­ca. O vírus se espalhou pela sala em que as crianças estavam internadas no Pronto Socorro Central e elas não resistiram. A notícia foi divulgada e foi um caos na Saúde. Cobranças por parte da população, etc. Houve revolta contra aqueles que não tiveram cuidado com os meninos e meninas que estavam sen­do observadas por outras doenças.

Ação contra repórter
Em uma reunião da autoridade militar com jornalistas, por outro motivo, o coronel disse que iria prender o repórter por ter divulgado uma notícia perigosa. Chamou o jornalista em sua sala e tomou todos os cuidados para que a conversa não fosse ouvida por ninguém. O jovem empregado de jornal ar­gumentou que ele não poderia esconder uma notícia de tal importância, pois seria injusto com a população que ficaria privada da informação e poderíamos ter desdobramentos na Saúde. O militar que no início estava nervoso argumentou di­daticamente sobre ser inoportuno referida nota. O jovem que também era radialista, com programa de grande audiência e com a confiança daqueles que o procuravam retrucou que a partir daquele dia todos os que o procurassem ele os enviaria para o coronel atender e resolver. O homem mais idoso, co­çou seus cabelos brancos e bem mais tranquilo disse: “vamos fazer uma coisa: o senhor cuida das suas notícias e eu cuido dos meus assuntos militares. Estamos conversados…” E as­sim ficamos amigos e o repórter continuou com sua missão espinhosa, mas ética e verdadeira.

Nota – Esse mesmo repórter que estava na Faculdade de Di­reito na época perguntou ao general Amaury Kruel que veio re­ceber o título de cidadão ribeirão-pretano de como ele, padri­nho dos filhos João Goulart, havia traído seu compadre. Não se sabe como o jornalista não sofreu represálias de imediato, mas que houve um mal estar dentre os assessores do impor­tante general, podem ter certeza. Era uma verdade que nin­guém queria tocar.O jornal “Estadão” publicou a “saia justa”.

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