Após 24 anos encontro uma França diferente no que se refere às questões do meio ambiente. Ainda me deparo com flores por todos os cantos e em minhas fotos elas continuam sendo as vedetes. No entanto, para minha surpresa, em alguns dias deste verão, as temperaturas ultrapassaram os quarenta graus! O nível dos rios está mais baixo, pois as chuvas têm sido mais escassas no período da primavera-verão. O largo leito do Rio Loire no Oeste do país, em alguns trechos, não possui mais que um terço de água. Os franceses me parecem realmente preocupados com tais mudanças.
O planejamento e a gestão da paisagem, um domínio das Ciências Naturais e Sociais que conhecia até então somente a partir da literatura alemã, tem espaço privilegiado em Besançon. Cidade com 120.000 habitantes, capital da Franche-Comté – região próxima à Suíça –, Besançon recebeu no ano passado o título de capital francesa da biodiversidade. A integração entre os meios urbano, rural e natural, ambientes onde o ser humano pode estar em diferentes ocasiões para exercer atividades distintas, é o principal objetivo da articulação entre vegetação, água, infraestrutura, agricultura e edificações existente no território bizontino.
Os franceses mantêm forte ligação com o cultivo da terra, embora Paris, com toda sua luz, ofusque esta importante característica do país. A agricultura urbana ganha dimensão ecológica, econômica e cultural em Besançon. A prefeitura aluga, a preços simbólicos – 85 euros por ano –, terrenos públicos de 150 metros quadrados para famílias cultivarem hortaliças e frutas. A maior parte dos legumes e folhas que comi na casa dos amigos Patricia e Philippe vieram do pequeno e rico jardim alugado às margens do Rio Dubs.
Na Praça Granvelle, na cidade onde nasceu Victor Hugo, ao lado do Museu do Tempo, acompanhei por alguns minutos o monitoramento das condições fitossanitárias de um velho plátano (Platanussp). Uma senhora me disse que dias atrás havia caído um grande galho da árvore próximo ao local de passagem das pessoas. Havia muitos outros exemplares dessa espécie na praça e todo o cuidado recebido por aquela árvore me parecia improvável a decisão de removê-la. O índice de áreas verdes públicas de Besançon ultrapassa 200 m² por habitante, segundo um documento técnico publicado pela prefeitura local.
Na mídia impressa regional e nos grandes jornais percebo o destaque que o tema do meio ambiente recebe a partir de reportagens de primeira página. É o caso do controvertido uso da água para irrigação da cultura do milho na região de Maine-et-Loire. Os lençóis subterrâneos se aproximam do estado crítico após o recrudescimento da seca nos últimos anos segundo reportagem do Le Courier de l’Ouest na edição do dia 26 de julho último. Principia-se nesta região uma disputa pelo uso da água entre os diferentes setores usuários: agricultura, indústria, turismo e uso doméstico.
Áreas de nidificação de aves ao longo dos rios muitas vezes são indicadas como biótopos e se constituemem “espaço protegido sem permissão de acesso”, conforme norma do Ministério do Meio Ambiente.
Os hotéis para insetos é uma pequena estrutura de madeira triangular colocados ao lado de canteiros floridos à uma altura de 1 metro com o objetivo de atrair polinizadores. Tenho visto desta estrutura e canteiros com flores pelas praças e parques que conheci. Pode ser que esses hotéis não tenham muita funcionalidade, mas os canteiros com diferentes espécies herbáceas com certeza exercem a função de manter os polinizadores na cidade.
Em Paris fui em busca do Jardim Marielle Franco próximo à Gard de l”Est. A capital francesa é a primeira cidade do mundo a denominar um espaço público à vereadora brasileira assassinada em março de 2018. Não encontrei o jardim pronto e acabado, mas pude constatar as primeiras árvores sendo plantadas.