Após a Polícia Federal pedir a libertação e em seguida voltar atrás, a Justiça Federal de Brasília decidiu manter preso o motorista Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, um dos quatro suspeitos de hackear as mais altas autoridades da República. A PF apontou novos elementos que desmentem a afirmação de que ele não tinha conhecimento das atividades do suposto líder do grupo, Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, de 30 anos, e reforçam a conexão entre ambos.
O juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, concordou com o novo posicionamento. Ele não aguardou a nova posição do Ministério Público Federal, que havia sido favorável à soltura. “Vermelho”, Marques, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, e a namorada dele, Suelen Priscila de Oliveira, de 25, são suspeitos de hackear o ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e outras autoridades – são cerca de mil pessoas no total, entre políticos, empresários e jornalistas.
“Vermelho” foi preso no Edifício Premium, na avenida Leão XIII, no bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto. O apartamento foi alugado por Marques. Todos permanecerão presos até pelo menos esta quinta-feira, 1º de agosto, quando termina o prazo da prisão temporária. Segundo o advogado de defesa de Gustavo e Suelen, Ariosvaldo Moreira, a expectativa é de que ambos sejam libertados nesta quinta-feira (1º), uma vez que Walter Delgatti Neto confessou ser o responsável pelo acesso aos celulares das autoridades.
“Após o encerramento da extração e espelhamento dos arquivos de mensagens de conversas armazenadas no aparelho celular de Danilo Cristiano, verificou-se que o mesmo teria de fato conhecimento das invasões a contas de aplicativos do Telegram que eram realizadas por Walter Delgatti Neto, bem como foi observada a intensa troca de mensagens indicativas da participação de Danilo Cristiano Neto em fraudes bancárias juntamente com outras pessoas”, disse o delegado Luís Flávio Zampronha, responsável pelo caso na Polícia Federal.
“A Polícia Federal (…) constatou que Danilo Marques tinha conhecimento das invasões a contas de aplicativos Telegram que eram realizados por Walter Delgatti Neto (…), razão pela qual revê seu posicionamento e solicita a manutenção da custódia temporária”, escreveu Vallisney em sua decisão. A prisão temporária de Delgatti Neto, Danilo Marques, Gustavo Henrique Santos e Suelen Priscila Oliveira encerra no fim desta quinta-feira. A PF ainda analisa se irá pedir prorrogação das prisões – no caso, conversão à prisão preventiva, sem prazo de duração. A temporária já foi prorrogada uma vez.
Enquanto isso, a investigação avança tentando identificar se houve pagamento pelo material hackeado e tentando rastrear as movimentações bancárias e em criptomoedas dos investigados. Os peritos também continuam analisando o conteúdo apreendido e aparelhos celulares e dispositivos eletrônicos dos alvos. A defesa de Danilo Marques disse que só poderia comentar a decisão após ter acesso aos documentos do inquérito que embasaram a decisão.
O advogado de defesa de Delgatti, Luiz Gustavo Delgado, não comentou as declarações, mas já disse anteriormente que seu cliente tem problemas psiquiátricos. Os quatro são alvos da Operação Spoofing – foram presos no dia 23 de julho em Ribeirão Preto, Araraquara e São Paulo. Na segunda-feira (29), a pedido da Polícia Federal, o MPF prorrogou por 90 dias as investigações sobre a ação de hackers. A prorrogação sem aval da Justiça Federal foi possível porque o pedido da PF ao MPF foi feito antes da prisão dos quatro investigados por invasão de telefones de autoridades, no dia 23.
Ribeirão Preto
Uma imagem da tela do celular de “Vermelho” indica que ele pode ter hackeado os celulares de políticos de Ribeirão Preto. As vítimas seriam o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB), o deputado federal e líder do MDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, e o deputado estadual Léo Oliveira (MDB), usuários do aplicativo Telegram.
Inicialmente, os quatro presos são investigados pelos crimes de invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas, que prevê pena máxima de três anos e quatro meses. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.
Na lista de “Vermelho” estão ainda os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha
Além deles, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e pelo menos 25 membros do Ministério Público Federal. Ainda há o ministro Paulo Guedes, da Economia, e a líder do governo Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP). Nem todas as vítimas foram identificadas. Segundo a Polícia Federal, a ofensiva revela a vulnerabilidade da comunicação na cúpula dos três Poderes.