O juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília (DF), decidiu prorrogar por mais cinco dias a prisão temporária dos quatro alvos da Operação Spoofing, sob suspeita de invadir celulares do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, do procurador Deltan Dallagnol (coordenador da Operação Lava Jato no Paraná) e centenas de procuradores, juízes e delegados federais, além de jornalistas.
Inicialmente, os quatro presos são investigados pelos crimes de invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas, que prevê pena máxima de três anos e quatro meses. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.
O grupo suspeito de promover ataques virtuais teve como alvo até o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). Na lista estão ainda os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha
Além deles, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e pelo menos 25 membros do Ministério Público Federal. Ainda há o ministro Paulo Guedes, da Economia. Nem todas as vítimas foram identificadas. Segundo a Polícia Federal, a ofensiva revela a vulnerabilidade da comunicação na cúpula dos três Poderes. No caso de Bolsonaro, os investigadores já sabem que a tentativa de acessar os dados no aplicativo Telegram foi bem-sucedida e ocorreu neste ano.
O conteúdo das mensagens, contudo, não será analisado pela PF, mas encaminhado à Justiça Federal. No Palácio do Planalto, o fato é considerado crime de segurança nacional. Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, de 30 anos, preso no bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto, seria o líder da suposta quadrilha – ele já confessou à Polícia Federal ter hackeado Moro, Dallagnol e outras autoridades.
De acordo com o magistrado, “Vermelho”, Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, e o casal Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, e Suellen Priscila de Oliveira, de 25, devem continuar presos para que sejam aprofundadas as investigações da Operação Spoofing, que mira ataques hacker a mil pessoas, entre elas, autoridades dos três Poderes. A prorrogação foi solicitada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF) devido à grande complexidade da investigação e à grande quantidade de dados apreendidos a serem analisados nos próximos dias.
Os investigadores ainda não conseguiram obter o conteúdo dos celulares de dois dos presos, Gustavo e Suelen, tampouco tiveram acesso às contas de bitcoin que ambos possuem, de forma que a liberdade os permitiria movimentar dinheiro. Vallisney de Oliveira ressalta ser necessário continuar a apuração sobre crimes financeiros, como fraudes bancárias.
Segundo o magistrado, “sem a prorrogação de mais cinco dias das prisões, soltos os investigados poderão agir e combinar e praticar condutas, isoladamente e em conjunto, visando apagar provas em outros endereços, mudar senhas de contas virtuais, fazer contatos com outras pessoas eventualmente envolvidas, retirar valores de contas desconhecidas ou de algum modo prejudicar o inquérito policial”.
O juiz ainda afirma, em decisão, que a investigação “depende ainda de um trabalho técnico pericial e que demandará mais alguns dias para ser concluído, considerando-se que dos diversos aparelhos alguns ainda estão com os impeditivos das senhas e outros precisam ser vasculhados e periciados de forma abrangente”.
O juiz anota que, pelos interrogatórios dos alvos da Spoofing, “observa-se que os investigados deram diversas informações sobre os fatos em apuração, havendo ainda necessidade de continuidade das investigações”. Vallisney de Oliveira afirma que ainda está pendente a avaliação do “completo cenário e a profundidade das invasões praticadas, mesmo porque a informação técnica atesta que 976 pessoas ou números telefônicos teriam sido alvos dos ataques”.
E também de “localizar a origem da quantia de R$ 99 mil em espécie apreendidos com Gustavo Henrique e Suelen e se possuem (e qual grau de) ligação com a atividade de invasão diretamente realizada por Walter”. O juiz afirma que é necessário “descobrir mais sobre apreensão em poder de Danilo Marques de 60 chips lacrados para telefone celular pré-pago da TIM e sua destinação e utilidade nas investigações”.
Os peritos que atuaram na apuração das invasões dos celulares apontaram que os suspeitos de terem feito o hackeamento dispararam 5.616 ligações para os telefones das autoridades por meio de robôs para congestionar as linhas e, com isso, viabilizar o acesso às contas do aplicativo de mensagens Telegram.
Nesta sexta-feira, os depoimentos de Gustavo Elias Santos e Suellen Priscila foram adiados porque juiz, promotores e policiais querem ouvir “Vermelho” e Danilo Marques novamente. O advogado de defesa de Delgatti, Luiz Gustavo Delgado, não comentou as declarações de seu cliente à PF
Já Ariovaldo Moreira, que defende o casal Gustavo e Suellem, disse que vai pedir a revogação da prisão de seus clientes porque não há mais motivos para mantê-los presos. “Estou convicto da inocência dos meus clientes e que eles não se envolveram nessa empreitada criminosa”, disse.Ele voltou a afirmar que o DJ teria uma conversa trocada com “Vermelho” no Telegram em que alertava o amigo: “Cuidado que você pode ter problema com isso”. Segundo o advogado, se “abrirem o Telegram vão ver que meu cliente falou (para o Walter): ‘Para com isso que isso vai te dar problema’.