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Longe das novelas, ator Nuno Leal Maia está no ar na série ‘Chuteira Preta’

Por Adriana Del Ré

Afastado da TV aberta há alguns anos, Nuno Leal Maia pode ser visto atualmente em duas séries em canais por assinatura: Juacas, que retrata o universo do surfe, é exibido no Disney Channel e no Disney XD (além de estar disponível também na Netflix); e o novo Chuteira Preta, no ar no Prime Box Brazil. Escrita e dirigida por Paulo Nascimento, a produção tem como pano de fundo o submundo do futebol, tratando de temas como corrupção e drogas. 

A história gira em torno do jogador Kadu (Márcio Kieling), que vê a carreira entrar em declínio e encontra na figura de seu tio Jair, um ex-craque, vivido por Nuno Leal Maia, a chance de se reerguer. Aos 71 anos, Nuno, que chegou a ser jogador de futebol amador quando garoto, conta que sua vivência no meio o ajudou a compor o personagem, apesar de não ter se inspirado diretamente em ninguém. Morando em São Paulo, ele relembra sua trajetória e fala da saída da Globo. 

Em Chuteira Preta, seu personagem, o Jair, faz uma espécie de conexão do sobrinho Kadu com as próprias origens?

No início, Jair rejeita a chegada do Kadu. Acha que ele não agiu bem na viagem à Europa, que devia ter insistido, mas depois acaba aceitando. Ele impõe um treinamento para o Kadu de volta à pelada, quando começou a jogar bola, descalço. Então, o Kadu começa a ter de reaprender tudo. Jair é um jogador do passado, foi um bom jogador. Agora, é uma pessoa pobre. Ele tem um boteco no campo de pelada. Aí ele começa a treinar o garoto para ele dar a volta por cima. 

Você está em outra série, Juacas, em que você também é um professor, só que de surfe.

Já fizemos duas temporadas. Os dois são treinadores: um é de surfe, o outro, de futebol. Só que cada um tem uma história de vida. O Juaca perdeu o filho, se isolou do mundo, e foi convencido pelos garotos a treinar a equipe deles. O Jair é um cara da periferia que vê o sobrinho não dar certo e tenta estimular o garoto. 

Como é atuar em série, sendo que você tem uma trajetória em fazer obras mais longas, como as novelas? 

Não muda muito. Você tem de compor o personagem da mesma forma, e ficar com ele próximo para você poder viver com mais veracidade. Gosto mais do estilo cinema, é gosto pessoal. Mas série é legal também, a novela é bacana, o teatro é bacana. Gosto de tudo. Hoje em dia estão fazendo mais série, mas a gente faz, não tem problema nenhum. 

Qual foi sua última novela na TV aberta, na Globo? 

Fiz Amor Eterno Amor (2012). Eu fazia um português (Ribamar), mas começaram a cortar muito meu personagem. Não fiquei muito satisfeito com essa última novela que fiz lá. 

Sente falta de fazer novela?

Não, a gente sente falta de atuar, mas você pode atuar em teatro, cinema, televisão, série, qualquer coisa. Não tem problema nenhum para mim. O importante para o ator é estar atuando.

Seu desligamento da Globo partiu de quem? 

Foi da emissora, eles me chamaram e falaram que iam rescindir o contrato. Falei: ‘Tá bom’. Foi em 2015 mais ou menos. Eu tinha contrato que ia renovando, 1 ano, 2 anos. Eles foram trocando as pessoas que trabalhavam na cúpula da Globo. Tinha os talentos estratégicos, e eu ficava preservado para não ser usado por nenhuma outra emissora. Mas, com essa mudança de postura da direção, a coisa foi mudando. Não gosto muito do que eles produzem hoje. Acho que antigamente a gente podia criar mais. Hoje em dia, não, além de não valorizarem muito o trabalho do ator. Mas todas as outras emissoras também não. Você vê que a Record não valoriza, você nem sabe quem está fazendo essas coisas bíblicas. Nos EUA, o ator sempre foi e ainda é o chamariz, a isca para o espectador. Mas a TV brasileira parou de fazer isso e está caindo no lugar-comum. Antigamente, tinha um ator que protagonizava, que carregava a novela, junto com o elenco. Quando fiz Mandala, por exemplo, tinha um elenco fantástico: Paulo Gracindo, Célia Helena, Raul Cortez, eram só feras. Hoje você nem sabe quem são os atores.

Você colecionou papéis marcantes na TV. Qual considera seu grande personagem?

Todos para mim são muito importantes, porque trabalho é como um filho que você cria. Por isso, fiquei chateado quando cortavam as cenas dessa última novela que eu fiz. Mas teve personagens que foram mais felizes que outros, pegaram um horário melhor, deram mais certo.

O Gaspar, de Top Model, por exemplo, é lembrado até hoje… 

É, o Gaspar foi muito bom. Teve Mandala também, era muito forte essa novela. Nunca foi reprisada não sei por que, não sei se por causa do amor edipiano entre o personagem da Vera Fischer e o do Felipe Camargo. 

Faz tempo que você não faz cinema, não é? 

Sim, o último filme foi Tainá 3 (2013). Foi gostoso de fazer. Os únicos prêmios que tenho na carreira são de cinema, por Louco Por Cinema e Ato de Violência. 

E tem os filmes no período dos anos 1970, muito populares.. 

Nos anos 70, foi quando comecei, porque eu estava fazendo faculdade de cinema na USP. Aí comecei a fazer teatro. Os anos 70 foram os anos de desbunde, a liberação sexual, e a Boca do Lixo se aproveitou disso para fazer comédias eróticas. Como eu queria aprender a fazer cinema, passei a fazer cinema na Boca, a fazer vários filmes. Um cinema de qualidade bem duvidosa, mas, de vez em quando, saía uma coisa boa, como foi O Homem de Itu, gosto muito desse filme.

No teatro, você atuou em peças importantes, com Raul Cortez.. 

Comecei fazendo teatro, minha carreira começou aqui com Hair (1970). O pessoal da faculdade ia fazer teste em um teatro que tinha na Conselheiro Ramalho. Fui fazer teste ali. No teatro profissional, Hair foi meu primeiro trabalho. Mais tarde, Raul Cortez me chamou para fazer Hoje É Dia de Rock. Depois, fizemos juntos Greta Garbo. O Raul era um parceiraço. A gente brigava muito, mas ele era ótimo. Eram brigas bem-humoradas (risos).

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