Por Isabela Palhares
Após um exercício na aula de Ciências, Luísa Meyer, de 12 anos, ficou assustada com os hábitos de consumo em sua casa e fez uma proposta que mudou a rotina da família. Deixar de usar o carro para distâncias curtas fez mãe e filhas perceberem que atitudes sustentáveis podem não ser tão difíceis e ainda trazem outras vantagens. Mais do que um conteúdo a ser cobrado em prova, escolas particulares de São Paulo investiram em grandes obras e ações com impacto real no meio ambiente.Da proibição de copos plásticos à instalação de asfalto ecológico, os colégios dizem ter percebido que a conscientização dos alunos só ocorreria se vissem os benefícios de uma ação concreta. Após o investimento financeiro nessas ações, agora as unidades estão se surpreendo com iniciativas e demandas que partem espontaneamente dos jovens para mudar hábitos dentro e fora da escola.
Luísa estava em uma aula sobre consumismo no Colégio Santa Maria, zona sul paulistana, quando a professora pediu para a turma descrever os hábitos familiares em uma calculadora ecológica – feita em uma plataforma digital que estima quantos planetas seriam necessários para acomodar toda a humanidade com base no consumo descrito. “Ela voltou preocupada, disse que precisaríamos de dois planetas se continuássemos com esse estilo de vida. Pensamos no que poderíamos mudar para um consumo mais consciente”, diz a mãe, a dentista Paula Faara, de 49 anos.
A família passou a captar água da chuva para a limpeza das áreas externas, separar lixo reciclável e ter mais cuidado com o consumo de luz. Mas a mudança mais significativa foi abandonar o carro para qualquer deslocamento e só recorrer a ele para distâncias longas. “Vamos a pé à padaria, mercado, farmácia, casa de parentes. Começou como uma obrigação, mas hoje as meninas adoram porque vamos conversando, reparamos mais no caminho e no bairro”, diz Paula, também mãe de gêmeas de 9 anos.
Foi também após uma aula que Julia Zung, de 10 anos, pediu à direção do Colégio Dante Alighieri, na região central, para ajudar a cuidar da horta da unidade. O entusiasmo da menina com a atividade fez com que a família montasse um espaço igual em casa. “Fizemos uma visita ao telhado verde da escola e gostei muito de mexer na terra, plantar as mudinhas”, conta.
“Há 20 anos, não tínhamos coleta seletiva e os alunos se incomodaram. Eles nos fizeram uma proposta que abraçamos”, diz Joaquim Felix, gestor ambiental do colégio. Com a separação do lixo, a escola percebeu que deveria ter um projeto de gestão dos resíduos orgânicos e investiu em uma composteira. Como agora produzia adubo, foi montado um telhado verde no imóvel. “Uma atitude puxa a outra quando a intenção é coerente e verdadeira. E isso inspira os alunos e as famílias.”
Economia
O Dante também fez investimentos maiores, como instalar 280 placas de energia solar, que atendem a 12% da demanda energética, e criou um sistema de captação da água da chuva para lavar os 45 ônibus escolares. A conta de energia caiu de R$ 120 mil para R$ 95 mil e a de água, de R$ 22 mil a 13 mil.
O Colégio Santa Cruz, na zona oeste, também aproveitou uma grande reforma para fazer obras desse tipo. Foi instalado um telhado verde de 1.400 m², que diminui o calor nas salas de aula, um sistema de captação de água do lençol freático (37,5% do consumo total da escola) e instalado asfalto ecológico, que aumenta a drenagem de água.
Segundo Fabio Aidar, diretor geral do Santa Cruz, as ações da escola incentivam os alunos a pensar em novas soluções. Neste ano, uma comissão pediu à direção que não fossem usados copos plásticos na festa junina.