Dos 30,3 bilhões de litros de etanol que serão produzidos na safra 2019/2020, quase 5% será extraído do milho, algo em torno de R$ 1,4 bilhão de litros. A estimativa é que essa porcentagem chegue aos 25% em 10 anos, algo em torno de 8 bilhões.
Durante o lançamento da Fenasucro e Agrocana, no final de maio, o diretor do CEISE Br – Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis, Guilherme Martins Neto, disse que o setor está de olho também na região de Ribeirão Preto, uma grande produtora de etanol oriundo da cana-de-açúcar.
Martins defende a transformação das atuais usinas em flex. “Com isso a produção não para. A produção a partir do milho será para somar e não competir com a cana. Há defasagem de tempo no atual sistema, uma vez que demora nove meses para a cana ser colhida. Nesse intervalo as usinas podem produzir etanol a partir do milho”, explica.
O dirigente salienta que a maior parte da produção hoje é realizada em Goiás e principalmente no Mato Grosso, maior produtor de milho. “Mas a logística do transporte de grãos favorece a produção também no sudeste”, ressalta.
Mercado a ser explorado
Durante a Fenasucro, que acontece entre 20 e 23 de agosto, em Sertãozinho, o mercado deve ser um dos focos de negócio. Martins, que também é diretor de uma empresa em Sertãozinho, a JW Equipamentos Industriais, que está direcionada para o setor flex, acredita que ‘uma ou duas usinas’ da região optem pela transformação.
De acordo com dados da Unem – União Nacional do Etanol de Milho existem projetos para que pelo menos sete usinas de etanol de milho sejam construídas ou ampliadas no Centro-Oeste.
Um levantamento realizado por Marcos Fava Neves, professor da USP/Ribeirão Preto e EAESP/FGV, aponta que uma planta industrial exclusiva para produção de etanol de milho tem um custo estimado em US$ 90 milhões, enquanto que o projeto de uma “flex” para operar em conjunto (cana e milho) durante todo o ano tem um custo estimado em US$ 60 milhões. Já para processar o milho somente na entressafra da cana, que é considerado um modelo “flex integrado”, o investimento estimado é de US$ 20 milhões.
A Agroicone, empresa que realiza estudos e pesquisas no setor agro, aponta em um estudo que a instalação de uma usina de etanol de milho que produz 500 milhões de litros de etanol ao ano, além de dos coprodutos DDGs (Dried Distillers Grains), óleo de milho bruto e eletricidade, apresenta uma capacidade de gerar um valor de produção total de R$ 2,5 bilhões, um PIB de R$ 910 milhões e aproximadamente 4,5 mil postos de trabalho diretos e indiretos.
Comparações do etanol a partir do milho e da cana
A comparação da produção de etanol a partir do milho, a comparação com a cana-de-açúcar e as usinas flex foram abordadas no início de maio durante o 1º Levantamento da Safra 2019/2020 de cana-de-açúcar, promovido pela Conab – Companhia Nacional de Abastecimento.
Segundo o superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, Cleverton Santana, muitas variáveis implicam na decisão do produtor produzir etanol a partir do milho ou da cana. A principal é o preço da cultura do milho.
De acordo com o superintendente, a Conab iniciou estudos comparativos apontando que uma tonelada de milho pode produzir até 420 litros de etanol. “É maior do que a cana, que é uma tonelada para 90 litros. Só que a cana produz muito mais por hectare. Aí a conta inverte, porque enquanto a partir do milho é possível produzir cerca de 2,5 mil litros de etanol por hectare, enquanto, a partir da cana, passa de 6 mil litros de etanol por hectare”, ressaltou.
Ainda segundo Santana, há diferenças também durante as etapas de produção dentro das usinas. “O tempo de fermentação para produzir etanol de milho é maior do que para produzir a partir da cana. Com 10 ou 12 horas de fermentação da cana, já é possível extrair o etanol. No caso do milho, é necessário ultrapassar 30 ou 40 horas”.
Cana, milho, beterraba, batata… tudo pode virar etanol
O etanol não é um produto encontrado de forma pura na natureza. Para produzi-lo, é necessário extrair o álcool de outras substâncias. A forma mais simples e comum de obtê-lo é através das moléculas de açúcar, encontradas em vegetais como cana-de açúcar, milho, beterraba, batata, trigo e mandioca. O processo que utiliza essas matérias-primas é chamado de fermentação, porém há mais duas maneiras de fazer álcool, que consiste em reações químicas controladas em laboratório.
Dentre todas as matérias-primas do etanol presentes na natureza, a cana-de-açúcar é a mais simples e produtiva, o que dá ao Brasil uma grande vantagem, visto ser esse o principal produto de extração de etanol no país. A produtividade média de geração de etanol por hectare de cana, por exemplo, é de 7500 litros, enquanto a mesma área de milho, principal matéria prima do álcool produzido por fermentação nos Estados Unidos, produz 3 mil litros do combustível.