Os seres humanos impõem a sua existência interpretações relacionadas ao tempo, bem como, a experiência do tempo como aspecto fundamental ao longo da vida de uma pessoa. Talvez por isso um grande número de construtos e operacionalizações têm sido desenvolvidos na geriatria e na psicologia para capturar o tempo subjetivo, incluindo perspectiva do tempo futuro, objetivos pessoais e memórias autobiográficas. Com o propósito de integrar conceitos de tempo subjetivo ao longo da amplitude de vida de uma pessoa, duas dimensões temporais têm sido analisadas e integradas. São elas: direção temporal (passado, presente e futuro) e campo temático (duração e expansão do tempo; conteúdo de vida ordenado em função do tempo; avaliações relacionadas ao tempo; atitudes e atenção referentes ao tempo.
Um conjunto de achados empíricos entendem que conceitos relacionados ao tempo subjetivo são preditores consistentes do bem-estar e saúde nos idosos. Percepções positivas do tempo percebido, isto é, uma visão expandida do futuro, um foco positivo no conteúdo de vida passada e futura e avaliações favoráveis relacionadas ao tempo foram associadas com bem-estar mais elevado e melhor saúde física, enquanto que percepções negativas do tempo, em geral, foram conectadas a menores níveis de saúde e bem-estar.
Conceitos relacionados ao tempo subjetivo incorporam diversos fenômenos. O primeiro deles, a direção temporal, refere-se à noção de uma orientação triárquica do tempo. Esta noção posiciona que o tempo subjetivo é feito de passado, presente e futuro pessoais; visão esta que tem sido advogada tanto por filósofos quanto por psicólogos do desenvolvimento, tendo sido refletida nas capacidades neurocognitivas, tal como consciência temporal. O campo temático, por sua vez, distingue três grandes aspectos: 1º) a duração ou progressão do tempo de vida de um indivíduo e a expansão subjetiva do futuro de uma pessoa; 2º) conteúdo de vida ordenado em função do tempo, envolvendo eventos de vida e experiências relacionadas à passagem do tempo, além de possíveis conteúdos de vida futura; e 3º) atitudes e avaliações relacionadas ao tempo aplicadas à passagem do tempo pessoal, que relaciona-se primariamente aos julgamentos avaliativos da experiência passada e das expectativas futuras, extendendo-se para os esquemas avaliativos cognitivo-comportamentais.
Uma suposição central é que a expansão do tempo futuro torna-se mais limitada com o envelhecimento, ou seja, com as pessoas variando de um foco centrado nos objetivos orientados para o futuro para objetivos voltados ao presente, tais como derivando satisfação e significado emocional das coisas presentes. De modo similar à expansão do tempo futuro, a duração ou progressão subjetiva do tempo passado e presente pode ter implicações para a avaliação de uma dada quantidade de tempo como sendo (in)suficiente para objetivos de realização.
Assim considerando, teorias autorreguladoras temporais consideram que a expansão do tempo futuro pode ser um preditor de comportamentos saudáveis. Isto porque supõem que a expansão do tempo futuro influencia a intenção de um indivíduo se engajar em comportamentos saudáveis protetivos, com benefícios a longo-prazo, pois a expansão do tempo futuro fornece uma estimativa sobre a probabilidade de o mesmo beneficiar-se de comportamentos de saúde mais saudáveis. Isso faz com que a dimensão expansão de tempo futuro seja suposta ser associada a melhorias na saúde física através de comportamentos saudáveis.
Tomadas em conjunto, essas dimensões temporais do tempo subjetivo emergem como um consistente preditor de saúde e bem-estar na meia idade e na velhice. Cumpre lembrar que avançar a ideia de que, considerando o tempo subjetivo, tais dimensões poderão, e muito, contribuir para questionar o papel de um calendário anual sem levar em conta um calendário pessoal que considera os aspectos dos eventos de vida ordenados em função do tempo e a duração e progressão percebida do tempo por parte das pessoas, especialmente aqueles com muitos anos na algibeira.