A juíza Carolina Moreira Gama, da 2ª Vara Criminal de Ribeirão Preto, acatou a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) e tornou réus cinco homens acusados de sequestrar um empresário do ramo de veículos na cidade. A vítima de 74 anos ficou seis dias em cativeiro e foi libertada pela Polícia Civil, depois que a família se recusou a negociar o resgate. Ele foi resgatado de uma chácara, em Jardinópolis, em 19 de junho.
A magistrada também decretou a prisão preventiva do quinto suspeito de envolvimento no caso, Luiz Carlos Cordeiro, que chegou a ser detido pela Polícia Civil no dia em que o cativeiro foi descoberto, mas acabou liberado porque, segundo a Polícia Civil, não havia provas naquele momento sobre o envolvimento dele no esquema. Na decisão assinada em 5 de julho, a magistrada diz que há indícios suficientes da participação do homem no esquema, inclusive troca de mensagens entre ele e outro acusado, durante o período em que a vítima estava no cativeiro, o que reforça a tese de crime premeditado.
Polícia Civil e o Ministério Público apontam que o homem conhecia a rotina da família. Na data em que foi detido, Cordeiro também não informou o número de um celular, onde depois foram encontradas as mensagens entre ele e os outros réus, que executaram o crime. A juíza acatou a tese do MPE, afirmando que ficou demonstrado que cada um dos réus exerceu uma função dentro da organização criminosa e que o foragido intermediou o encontro do empresário com os demais comparsas, porque sabia detalhes da rotina dele.
Os réus ainda não têm advogados constituídos. A magistrada diz na decisão que a Defensoria Pública deve ser acionada, em caso de impossibilidade financeira dos acusados para contratação das defesas. Os crimes praticados são graves – seqüestro mediante extorsão – e “preveem penas elevadas e regime inicial fechado”, entre doze e 20 anos de reclusão.
Em 19 de junho, a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Ribeirão Preto e agentes da Divisão Antissequestro do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) libertaram o empresário do ramo de veículos na cidade, após seis dias de sequestro. A quadrilha pedia R$ 600 mil de resgate, segundo informações da delegada Silvia Mendonça. Suspeito de chefiar o sequestro, Francisco Souza Araújo Filho, de 35 anos, disse que não tinha a intenção de matar a vítima.
Revelou ainda que depois de alguns dias passou a suspeitar que a Polícia Civil estivesse investigando o caso, porque a família se recusava a negociar o resgate. Ele e mais três comparsas foram presos depois que os agentes invadiram o cativeiro. O empresário foi libertado e socorrido – é diabético e faz uso de medicamentos controlados, e hoje passa bem.
Segundo o sequestrador, a família começou a ganhar tempo, ofereceu R$ 50 mil e o bando não aceitou. “Para a gente, não interessava esse valor. O prazo era até sexta-feira, se não pagassem, a gente soltava”, afirmou. Ainda segundo Araújo Filho, ele próprio ficou cerca de 20 dias reunindo informações sobre a vítima, dona de uma revendedora de veículos em Ribeirão Preto, e depois entrou em contato com os demais integrantes da quadrilha para colocar o plano em prática.
“Ficamos em dois lugares, porque o dono do sítio precisava do sítio, estava alugado. A gente alugou por três dias, entregamos e fomos para outro. Entregamos de novo e voltamos para o primeiro cativeiro”, explicou. A diária pelo aluguel custava R$ 230. Os suspeitos foram descobertos pela Polícia Civil, a partir de uma foto postada em uma rede social na internet: um dos investigados estava com o mesmo moletom usado quando esteve no comércio da vítima, semanas antes do sequestro.
Câmeras de segurança da revendedora de carros gravaram três dos quatro homens no local, dizendo-se interessados em comprar um veículo. Um deles, ainda de acordo com a polícia, até preencheu um cadastro, informando números de Cadastro de Pessoa Física (CPF), registro Geral (RG, a cédula de indetidade) e celular verdadeiros. Além de Araújo Filho, também foram presos Jonathan Francisco de Carvalho, de 31 anos, Alexandre Jesus Santos, de 20, e Wanderson Almeida Gonçalves, de 30. Na delegacia, este último contou que foi procurado pelo chefe da quadrilha.
O grupo foi autuado por extorsão mediante sequestro e promover, constituir, financiar ou integrar organização criminosa. Ainda na delegacia, Santos também contou que aceitou participar do sequestro porque precisava do dinheiro. No local utilizado como cativeiro foram apreendidos um carro, uma arma falsa, um cartão bancário, três máquinas de cartão, um par de algemas, seis celulares e R$ 3.388 em dinheiro.