A legislação brasileira determina que os municípios só podem decretar feriados religiosos. Para comemorar o dia de fundação das cidades-sedes, os prefeitos precisam usar a criatividade e escolher um dos santos venerados na data para ser homenageado com o feriado.
Em Ribeirão Preto, tivemos dificuldades para marcar a data de nosso aniversário, pois durante muitos anos, houve polêmica para se estabelecer o dia efetivo de nosso nascimento. Até 1947, comemorava-se no dia 20 de janeiro, dedicado ao padroeiro São Sebastião. A partir desse ano, passou-se a considerar o dia 28 de março de 1853 como o da nossa fundação, data da demarcação informal de onde se erigiria uma capela.
Finalmente, depois de nova e movimentada disputa, a Câmara Municipal contratou uma comissão de professores universitários, que indicou o dia 19 de junho de 1856, data da demarcação judicial definitiva da área doada ao Patrimônio de São Sebastião, como o dia de nosso nascimento. Um dos mais interessantes trabalhos sobre o assunto é o livro História da História de Ribeirão Preto, de autoria do arquiteto Ricardo Barros, que detalha as várias alternativas e acaba concluindo que nunca saberemos a data efetiva de nossa fundação, que deve ter acontecido pouco antes de 1853.
Na véspera do Natal de 1954, através da Lei 386, o Prefeito Municipal Costábile Romano definiu o 19 de junho de 1856 como a data oficial do surgimento da cidade, colocando um ponto final na polêmica e estabelecendo o feriado em homenagem a Santa Juliana Falconieri, cuja morte ocorreu no mesmo dia 19.
Não se conhecem os motivos da escolha de Santa Juliana, pois no mesmo dia, a hagiografia católica homenageia também Santo Ambrósio, os gêmeos Santos Gervásio e Protássio e Santa Ema de Gurk, todos com relevantes serviços espirituais.
A nossa santa é italiana e florentina, nascida no século XIII. Desde pequena demonstrou sua vocação religiosa, que aumentava com a idade. Aos 15 anos, fez voto de castidade e ingressou na Ordem das Servitas para onde atraiu suas amigas aristocratas num trabalho de assistência aos pobres. Tão grande tornou-se seu trabalho que resolveu fundar sua própria Ordem, a Congregação das Servas de Maria, cujas irmãs eram chamadas de Mantellate devido ao hábito que vestiam.
Conduziu a Ordem com intenso trabalho, dedicando-se ao cuidado aos pobres. Isto custou-lhe a saúde, passando a padecer de graves problemas estomacais. Adotou a penitência de dormir no chão e foi definhando pois não conseguia mais se alimentar, nem mesmo receber a comunhão. Em 19 de junho de 1341 faleceu. Conta a história católica que, antes de expirar e como não conseguia receber a comunhão, pediu ao sacerdote que colocasse uma hóstia em seu peito.
Nos preparativos para o sepultamento, suas irmãs Mantellate notaram uma marca roxa que reproduzia a hóstia colocada, com destaque para a imagem do Cristo e por isso, a partir de então apresentam um coração roxo em seus escapulários. Foi canonizada em 1737, pelo Papa Clemente XII. Sua presença na História da Igreja é importante, pois ganhou estátua de corpo inteiro num dos nichos dos pilares que sustentam a cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano, como tive oportunidade de constatar.
Os ribeirão-pretanos de nascença e os que adotaram a cidade para viver, na sua maioria desconhecem estes fatos, pois a santa pegou carona na exigência da legislação e nada tem a ver com nossa história. Ao comemorarmos oficialmente os 163 anos de nossa existência, o que vale é a constatação de que somos uma cidade dinâmica, pujante, cheia de vida, embora com graves problemas como o resto da nação, que sempre batalhou e batalha fazendo sua parte na construção de um Brasil melhor.