Tribuna Ribeirão
Economia

FGTS – Fundo pode injetar R$ 22 bi na economia

O governo estuda liberar novamente os recursos das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Servi­ço (FGTS), medida com poten­cial para injetar R$ 22 bilhões na economia. Seria um fôlego para o consumo e para a redu­ção do endividamento das fa­mílias, frente ao ritmo fraco do avanço da atividade econômica confirmado ontem pelo Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A vantagem da liberação das contas inativas é trazer âni­mo à economia, sem prejudi­car a sustentabilidade do fundo e o uso de seus recursos como fonte de financiamento para a construção civil. O FGTS tem R$ 525 bilhões em estoque, e o valor que o governo pretende liberar representa menos de 5% desse montante.

A medida faz parte de um cardápio de iniciativas que a equipe econômica prepara dentro de uma agenda além da reforma da Previdência. O pacote inclui, ainda, a liberação do saque das contas dos tra­balhadores nos programas de Integração Social e de Forma­ção do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep), dinheiro novo para os Estados com no­vos empréstimos e maior parti­lha de recursos de pré-sal com os governos regionais.

O momento do envio de cada uma das medidas, porém, vai depender de uma “calibra­gem” política, à medida que a reforma da Previdência avance no Congresso. Tudo isso para evitar que um pequeno fôlego agora seja passageiro e resulte em nova queda do Produto In­terno Bruto (PIB) mais à frente, avalia o governo.

Em conversas com inter­locutores, o ministro da Eco­nomia, Paulo Guedes, tem comparado a situação à de um carro sem bateria para dar a partida no motor –ele precisa de uma “chupeta” para fazer o carro pegar. Mas o ministro tem dito que essa “chupeta” só será feita pelo governo caso haja segurança de que a refor­ma vai ser aprovada.

Apesar da cautela na libe­ração das medidas, o tom nos bastidores é de otimismo. Após uma série de encontros com bancadas, Guedes prevê a aprovação rápida de uma reforma com a potência fiscal necessária para implementar o regime de capitalização, se­gundo o qual o trabalhador contribui para uma conta individual, que bancará sua aposentadoria.

A expectativa da equipe do ministro é a de que a aprova­ção da capitalização levará o País a crescer 3% ao ano, em média. Sem isso, a estagnação permaneceria, com PIB avan­çando a menos de 1%. No go­verno Michel Temer (MDB), a liberação das contas inativas do FGTS pôs R$ 44 bilhões para circular na economia. O saque foi limitado a contas inativas até 31 de dezembro 2015. Cerca de 26 milhões de trabalhadores sacaram os re­cursos, o que contribuiu com 0,7 ponto percentual no PIB de 2017, que registrou cresci­mento de 1,1%.

Agora, o prazo deve englo­bar contas inativas nos últimos três anos (2016, 2017 e 2018). O trabalhador que tiver troca­do de emprego voluntariamen­te nesse período pode resgatar o valor do FGTS. A vantagem é que o fundo tem remuneração baixa com relação a outros in­vestimentos, até mesmo a pou­pança. Os recursos poderão ser aplicados ou então usados para quitar dívidas.

Após o anúncio dos da­dos do PIB, o ministro falou a jornalistas e sinalizou que o governo estudava também liberar o saque para contas ativas. Essa medida, porém, ainda está em análise porque teria um impacto bem maior no fundo, que é a principal fonte de recursos para o crédi­to imobiliário no País. Embo­ra Guedes já fale abertamente sobre o assunto, a iniciativa está nos primeiros estágios de discussão. Os volumes a se­rem liberados e o cronograma para os saques, por exemplo, ainda estão sendo avaliados.

Segundo fontes, o tema vem sendo debatido nas reuniões entre Guedes e os presidentes dos bancos públicos, mas ainda não chegou até a área técnica da Caixa Econômica Federal – que é quem administra os recursos do FGTS. É o banco, por exemplo que deve definir o cronograma dos saques, con­forme a capacidade operacio­nal de suas agências.

A primeira medida que o governo vai adotar para dar fôlego à economia é a libera­ção do saque das contas dos trabalhadores no PIS/Pasep. Hoje, esse fundo ainda reú­ne aproximadamente R$ 21 bilhões de trabalhadores que tiveram a carteira assinada entre 1971 e 1988 e não saca­ram os recursos.

A expectativa do governo é a de que, do total liberado, se­rão sacados entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões. Nesse caso, o governo tem uma expectativa mais baixa de saques porque parte dos beneficiários já fa­leceu ou nem sabe que tem direito ao dinheiro. Foi assim quando a medida foi lançada no governo Temer, em 2018.

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