Em 1503, os Reis Católicos da Espanha, buscando resolver os variados problemas advindos do Novo Mundo, criaram a Casa de Contratação das Índias, a qual, dentre as funções de controle do trafego mercantil por via marítima, seleção de viajantes que tinham de ser “velhos cristãos”, segundo determinação da Rainha Isabel, ficou encarregada de fazer exames em pilotos e mestres para verificar se estes estavam aptos para a navegação transatlântica, bem como, de reunir documentação cartográfica e supervisão dos mapas desenhados a fim de facilitar o domínio científico e militar das terras e dos mares.
Cinco anos depois, por ocasião de uma Junta de Navegantes, reunida em Burgos, Juan de la Cosa, Vicente Yáñes Pinzón, Américo Vespúcio e Juan Díaz de Solis deliberaram a criação de um departamento de cosmografia, que teve como titular Américo Vespúcio, encarregado de comprovar os instrumentos de navegação e de reunir mapas, cartas e esquemas de todas as costas, ilhas e portos por eles percorridos, bem como, de requisitar a todos os pilotos espanhóis que, ao cruzarem os mares, entregassem, obrigatoriamente, em seus regressos, todos os dados cartográficos que eles recolhessem, com o objetivo de contribuir para a formação de uma carta-mestra, chamada Padrão Real, registro autêntico de todas as informações, descobertas e novidades geográficas da época.
Revisto e aperfeiçoado sempre que novas informações chegavam, este substituía os anteriores, que eram destruídos em definitivo quando necessário. Construía-se, com isso, um mapa-modelo, que ficava sob a custódia do Piloto-Mor Vespúcio e sua equipe, concedendo cópias do mesmo somente aos Marinheiros autorizados a empreender viagem.
A Casa de Contratação, tendo funcionado até o século XVI, por certo se configurou uma fecunda medida política na ocasião, funcionando como uma verdadeira universidade. Entretanto, ao destruir os Padrões Reais obsoletos, privou o mundo de conhecer a imagem de tais mapas-modelo, além de se rivalizar em importância com a Escola de Sagres. Destacam-se, de autoria da Casa, obras como o manual náutico “Suma de Geografia” (1519), de Fernández Enciso, e o “Regimento de Navegação”, de Garcia de Céspedes; o “Tratado da Arte de Navegar” (1545), de Pedro Medina, traduzido para todos os idiomas europeus; o “Breve Compêndio da Esfera e da Arte de Navegar (1551), de Martín Cortés e o “Mapa Geral das Ilhas”, de Alonso de Santa Cruz, o primeiro atlas americano, entre outras de não menor relevância para a ciência cartográfica renascentista.
A Alonso, por sua dedicação de cinquenta anos ao estudo cartográfico e à Casa de Contratação, além dos livros “Libro de la Longitud y Manera que Hasta Ahora se Há Tenido em el Arte de Navegar, e, principalmente, pelo estudo das variedades da declinação magnética e de novos modos de organização das cartas marítimas, coube o título de inventor das cartas esféricas de navegação. Sua correspondência com o Rei Carlos, de quem se tornou amigo, é considerada rica fonte bibliográfica para estudos cartográficos da época.