Tribuna Ribeirão
Economia

Brasileiro topa o que vier

Por Douglas Gravas e Clara Rellstab

Todos os dias, por volta das sete horas da manhã, um grupo crescente de pessoas se destaca em meio ao movimento da estação de metrô do Brás, na região central da capital paulista. Eles formam uma fila enquanto esperam a abertura do Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), agência do governo do Estado que, entre outros serviços, faz o cadastro de interessados em uma vaga de emprego.

“Você vê o pessoal passando apressado aqui no corredor, saindo de um trem e correndo para pegar o outro, provavelmente para não chegar atrasado no trabalho. Parece uma coisa simples, mas ao mesmo tempo tão distante da minha realidade agora”, diz um deles

A fila é democrática: é possível encontrar quem acabou de tirar a carteira de trabalho e nem concluiu os estudos, mas precisa arranjar um emprego para ajudar na renda de casa.

Ao lado, há também o trabalhador da construção civil, que relembra como uma coisa distante o tempo em que havia obra para todo o lado e se podia escolher o emprego que pagava mais. Hoje, o mais importante é agradecer por ser o único da família a estar desempregado.

Os que vieram de outros Estados, no Norte e no Nordeste, sabem que conseguir uma vaga em São Paulo também está difícil, mas precisavam se arriscar: deixaram a família em Sergipe, trouxeram os filhos de Manaus, vão mudar de área e esperam, no meio do caminho, poder voltar a estudar.

Uma passagem. Como o dinheiro em casa ficou mais curto, a escolha desse posto de emprego virou uma decisão estratégica: ele fica no prédio que liga a estação do Metrô à da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e não é preciso sair da estação para ser atendido, basta pagar a passagem de ida.

Por essa facilidade no acesso, o posto do Brás acaba sendo muito procurado. Enquanto em outros postos desse tipo, o movimento é mais fraco, no Brás, a partir de quarta-feira, as filas começam a se formar antes do horário de atendimento mesmo nos últimos dias da semana. 

“Uma amiga deu a sorte de encontrar um emprego na saída do posto É aquela moça ali, naquela lanchonete. Ela antes era recepcionista de um consultório médico. Veio deixar o currículo no PAT e acabou achando a vaga no caminho, mas ela é uma exceção”, afirma uma ex-auxiliar de limpeza que mora na zona leste da cidade.

Na fila do desemprego, a situação ruim do mercado de trabalho e a falta de perspectiva de melhora são temas recorrentes. As conversas geralmente começam relembrando como era antes da crise e terminam mais desanimadas: a maioria acredita que o emprego ainda vai demorar para reagir e diz não saber direito como vai se virar até o fim do mês.

Sem arranjar uma recolocação, esses trabalhadores avaliam que a situação do País ainda parece pior do que no ano passado e falam que a vaga de emprego é um objetivo muito distante. “E é ainda mais difícil para quem é mais velho. Parece que você perdeu o valor”, diz a ex-operária de Manaus.

A maioria deles nem pensa em procurar um trabalho específico, topa logo o que aparecer, e comemora ao receber a convocação para uma entrevista, enquanto ainda espera pelo emprego. 

Geni Fernandes, 57 anos 

“Trabalhava como cozinheira em um hospital de São Paulo, mas a crise mudou tudo. O emprego, que parecia um pouco mais estável, de uma hora para outra não existia mais. Acabei sendo demitida e procuro por uma recolocação há mais de um ano. Pode ser para trabalhar em uma cozinha de novo ou como vendedora de loja. Qualquer coisa que aparecer será bem-vinda.”

Sérgio Araújo, 37 anos

“Procuro um emprego fixo desde 2016. Antes, trabalhava como encanador na construção de edifícios comerciais e residenciais, até que a recessão abalou o setor de construção. Por sorte, minha mulher e meus dois filhos estão trabalhando, mas tudo ainda está muito devagar. Semana passada, comemorei ao ser chamado para a primeira entrevista de emprego em anos.”

Vera Lúcia Barbosa, 54 anos

“Trabalhei como empregada doméstica por 18 anos para a mesma família, mas fui demitida. Depois, me tornei auxiliar de limpeza de uma metalúrgica e fiquei na empresa por mais de um ano. Mas a crise acabou reduzindo a produção da fábrica e fui demitida. Agora, topo qualquer coisa que aparecer. Com a família dependendo de mim, não dá para escolher.”

Waldenura de Andrade, 46 anos

“Acabei de me mudar de Manaus para São Paulo. Lá, trabalhava em uma fábrica de motores de ar-condicionado. Só que com a recessão, os pedidos caíram e a empresa teve de demitir um monte de gente. Não pensei duas vezes, reuni a família e mudamos de cidade. Agora, busco qualquer oportunidade de trabalho que me deixe recomeçar a vida e fazer uma faculdade.”

Marcos Ribeiro, 28 anos

“Sabia que a crise no mercado de trabalho ainda era grave, mas juro que não esperava ficar desempregado este ano. Perdi o emprego há quase seis meses, quando o restaurante em que eu era auxiliar de cozinha acabou falindo e, desde então, mal sou chamado para entrevistas de emprego. Pelo menos, minha mulher está trabalhando, o que já ajuda um pouco nas contas.”

Afonso Maciel Neto, 30 anos

“Quero qualquer tipo de emprego há mais ou menos três meses, desde que deixei de trabalhar como lavador de carros. Já fiz várias coisas antes de lavar carros, não sou muito exigente. Mas até um emprego simples, como esse último que eu tive, está difícil de arranjar. As coisas estão muito difíceis Não posso me dar ao luxo de ficar escolhendo um outro trabalho.”

Sérgio Leite, 18 anos

“Procuro meu primeiro emprego em um momento em que até as vagas para quem ainda é iniciante sumiram. Acabei de concluir o ensino médio, agora estou tentando terminar um curso técnico de química, em busca de uma vaga melhor. Vim até o posto de trabalho dois dias seguidos, mas não tive sorte da primeira vez, acabei ‘batendo na trave’. Mas hoje vai dar certo.”

Felipe Lima, 26 anos

“Comparando com as outras pessoas na fila, nem estou tão mal. Estou há uma semana procurando emprego. Já fiz cursos de gestão de negócios e trabalhava como supervisor operacional em uma empresa. Mesmo complementando a formação, o mercado está muito ruim. Meu último emprego pagava menos do que uma pessoa com as mesmas funções costuma ganhar.”

Robson dos Santos, 28 anos

“Tento achar uma vaga desde 2017 e, às vezes, dá vontade de desistir. Pela primeira vez, estou deixando meu currículo aqui no posto do governo, mas estou esperançoso. Acabei de me mudar de Aracaju (SE) para São Paulo. Vou sentir saudades, mas as coisas lá estão ainda mais difíceis para quem não tem emprego. Nos últimos anos, perdi renda, mas não perco a esperança.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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