Abelhas polinizam flores de todas as cores. Flores de muitas plantas que nos servem como alimento. Flores de muitas árvores no meio das matas.Flores são o aparelho sexual das plantas superiores e sua função biológica é a reprodução.
Para gerar sementes e frutos é necessário que ocorra o contato dos grãos de pólen – parte masculina da flor – com o ovário. A esse contato dá-se o nome de fecundação. Antes, porém, é necessário queo pólen seja transportadode uma flor até a outra. Abelhas, pássaros, morcegos, besouros e borboletas ao visitarem flores em busca de alimento – néctar, óleos e pólen – promovem essa transferência. À esta viagem do pólen nas patas e fuças desses animais dá-se o nome de polinização. Sem este breve, belo e evoluidíssimo acontecimento não há continuidade da vida para a imensa maioria das plantas.Elas que são a primeira fonte de alimento e energiapara todas as espécies do Planeta.
Ao buscar por informações científicas e jornalísticas a respeitodo declínio das abelhas para escrever este artigo, me deparei com um extenso universo de pesquisas, publicações e esforços que vêm sendo realizados para evitar não só o desaparecimento destes maravilhosos insetos, mas também para evitar o colapso da agricultura no planeta. Há evidências comprovadas que a partir dos Anos 2000 a morte em massa das abelhas, as principais polinizadoras da Terra, vem sendo causado, sobretudo, pelo uso indevido e excessivo de centenas de agrotóxicos nas diferentes culturasagrícolas, hortícolas e frutícolas.
A indústria, o registro,o comércio e a aplicação de pesticidasconstituem uma cadeia produtiva altamente rentável.No Brasil, empresas do setor, nacionais e estrangeiras,ajudam a eleger deputados, a indicar e manter ministros. Parecem, ao mesmo tempo, ignorarem o rastro de morte. Até o último 30 de abril, em 120 dias de governo, 166 novos agrotóxicosforam aprovados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Destes, 49são classificados como altamente tóxicos. Outros 43 estão na lista de espera para obterem o registro em solo “nacional”.
Segundo a Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Pública –70% dos produtos “in natura” consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos. Segundo a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária –nos últimos dez anos, enquanto o mercado mundial dos “defensivos” agrícolas cresceu 90%, no mercado nacional, o crescimento foi de 190%.
O professor Osmar Malaspina do Centro de Estudos de Insetos Sociais da UNESP de Rio Claro é um importante pesquisador dessa área. Ele afirma que há mais de 600 ingredientes ativos em inseticidas, fungicidas, acaricidas e herbicidas usados no Brasil. Preocupantes são, em particular, os neonicotinoides; inseticidas sintéticos derivados da nicotina.
Atribui-se a elesa principal causa do distúrbio do colapso das colônias, situação em que as colmeias aparecem misteriosamente vazias. A exposição a essas neurotoxinas torna as abelhas incapazes de encontrar o caminho de casa quando saem para se alimentar nos campos e nasmatas.Pesquisadores concluíram que o uso do inseticida tiametoxam – um neo– empregado na citricultura, provocou a mortalidade de 71% das abelhas africanizadas após uma hora de pulverização. Depois de 9 horas todas as abelhas haviam morrido.
Inúmeras iniciativas surgem para manterbilhões de abelhas voando de flor em flor.Jardineiros, agricultores, apicultores e meliponicultoresse juntam colaborativamente para salvar a vida selvagem e consequentemente salvar a humanidade. Mas fica a pergunta: precisávamos passar por tudo isso?
Nesta última semana ouvi várias vezes “A Arca de Noé”, dois discos de música para crianças de Vinícius de Moraes. Noé pode muito bem ser o antônimo de “neo”. O velho que repovoou o mundo com casais de animais poupados na arca durante o dilúvio. Cultivemos nossos jardins, hortas e pomares livres de venenos. Lembrem-se: nem estava chovendo quando Noé terminou a arca.