O lateral-esquerdo Pará surpreendeu na entrevista coletiva desta terça-feira. Quando se aguardava respostas mornas sobre o desempenho do líder Botafogo no Campeonato Brasileiro da Série B, o atleta fez um ‘mea culpa’ sobre seu passado no futebol e falou com coragem dos erros cometidos na carreia. Aos 24 anos de idade, com passagem por vários grandes clubes do país, admitiu que aplicou muitos ‘migués’ em sua vida de boleiro e que deixou levar por uma certa soberba.
Na linguagem do mundo da bola, ‘migué’ é uma gíria empregada para definir aquele jogador que não quer nada com nada, foge do jogo. “Era muito indisciplinado e isso me atrapalhou,” reconheceu.
Nascido Anderson Ferreira da Silva, em Capanema, no Pará, o jogador despontou para o futebol brasileiro no Bahia, em 2014 e, em 2015, chamou a atenção do Cruzeiro, clube mineiro com o qual assinou contrato por quatro temporadas. Antes, quando ainda jogava no Sub-20, o lateral chegou à seleção brasileira. Vestiu a camisa canarinho e esteve no Torneio Internacional de Futebol Sub-20 de L’Alcúdia, em Valência, na Espanha. A carreira fluía e o destino do atleta parecia ser promissor.
Fez 16 jogos pelo Cruzeiro e estava em plena forma, atacava e defendia com facilidade, suas principais características, além da bola parada. Mas considera que as oportunidades foram poucas. Mesmo assim, despertou o interesse do Lion e, por pouco, não acabou no futebol francês. Foi parar no Atlético Paranaense, onde estava o técnico Paulo Autuori, que veio a se transformar em seu algoz e, também, no responsável pela transformação na carreira. Jogou apenas seis partidas, foi sacado da equipe, e resolveu se revoltar. “Nos treinos, a bola passava por mim e eu não estava nem aí, não me esforçava,”. Estava em campo o tal ‘migué’.
Não deu outra: Autuori esbravejou e disse que não queria aquele tipo de jogador no time e Pará caiu no ostracismo até se transferir para o América-MG, onde se reencontrou e decidiu mudar de vida. “Depois que me apeguei a Deus as coisas mudaram, deixei de ser indisciplinado e resolvi jogar bola,” falou.
Pará chegou ao Botafogo vindo do Guarani de Campinas. Foi contratado para disputar o Paulista e a Série B. O time foi mal no Paulistão, se debateu contra o rebaixamento até a última rodada e o lateral não escapou das críticas. No início do Brasileiro, logo na primeira rodada, foi vaiado intensamente pela torcida que o responsabilizou por ter falhado no gol marcado pelo Vitória-BA, no Santa Cruz, jogo que terminou 3 a 1 para o Bota, em uma grande virada. “Sofri falta naquele lance, mas o árbitro não marcou e levamos o gol,” recordou.
Na arquibancada, o filho e a mulher. Mesmo com o triunfo do Tricolor, Pará deixou o campo sob vaias e chorou quando se encontrou com Paola. “Senti muito aquele momento, mas sabia que iria dar a volta por cima,” relembrou.
O técnico Roberto Cavalo o manteve na equipe mesmo com o descontentamento da torcida. Nos dois últimos jogos, o atleta se mostrou eficiente e considera a partida contra o São Bento, em Sorocaba, sua melhor atuação com a camisa do Pantera. “Falei para os colegas que não iria passar nada pelo meu lado e cumpri o prometido,” comemorou.
Sobre a campanha do Botafogo no Brasileiro, Pará diz que o time está bem, mas que ainda não é hora de comemorar, pois o campeonato é longo. “São 38 rodadas e jogamos até agora apenas três, ainda tem muito chão,” completou.