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O Brasil e as navegações portuguesas

“Ó mar salgado, quanto de seu sal são lágrimas de Portugal!”
(Fernando Pessoa)

O avistamento do pequeno monte que se sobressaia no relevo plano do litoral baiano – logo denominado Pascoal, em homenagem ao período litúrgico do ano – e a colocação de um marco dando ao Rei de Portugal, D. Manuel I, a propriedade e posse da nova terra marcaram o descobrimento oficial do Brasil pela esquadra coman­dada por Pedro Álvares Cabral, no dia 22 de abril de 1500.

Não era a primeira vez que as terras americanas eram visitadas pelos europeus. O italiano Cristóvão Colombo, patrocinado pelos reis espa­nhóis, havia chegado ao Caribe, em 1492 e rumores históricos dão conta de que outros portugueses, franceses, ingleses, holandeses já tinham visitado nossas costas.

Mas, o primeiro contato com o Novo Mundo foi feito em torno do ano 1000, quando Leif Erikson, viking islandês – e grande mestre na construção de navios – depois de ultrapassar a Groenlândia, chegou à região leste do atual Canadá, tornando-se o real descobri­dor do novo continente, embora não tenha tomado consciência da grandeza de sua descoberta.

A civilização europeia se expandiu em torno do Mar Mediterrâneo, o “marenostrum” dos romanos. Banhando três continentes, norte da Áfri­ca, oeste da Ásia e sul da Europa, abrigou egípcios, cartaginenses, turcos, fenícios, bizantinos, gregos,catalães e ibéricos que singravam suas águas em travessias comerciais.

O Oceano Atlântico, porém, era um sonho antigo de conquista e Portugal foi o primeiro país a se aventurar pelas suas águas quatro séculos depois da primitiva incursão viking até as Américas. Os primórdios da grande aventura marítima deram-se no ano de 1325, quando a esquadra do Rei D. Afonso IV chegou às Ilhas Canárias.

Em 1387, um fato importante aconteceu: o casamento do Rei D. João I com D. Fílipa de Lencastre. Princesa inglesa, mulher ilustrada, amante das artes e da literatura, sabendo ler, escrever e falar latim, inglês e francês, trouxe refinamento a rude corte portuguesa. E convenceu o Rei de que a única maneira de conquistar os mares estava na boa educação de seus filhos. Nascia assim a chamada Ínclita Geração, de príncipes alfabetizados, falantes de várias línguas e interessados nas tecnologias do momento.

Depois da queda de Constantinopla, em 1453 e a consolidação do poderio árabe, o caminho terrestre para as Índias foi ficando cada vez mais difícil. Era preciso encontrar uma via marítima. Coube então a Portugal a primazia desta tentativa.

Um dos filhos de D. João I e D. Fílipa de Lencastre era o Infante D. Henrique, que dedicou sua vida e sua riqueza à Escola de Sagres – escola no sentido de grupo de pessoas de igual pensamento e não um prédio ou uma instalação – onde eram estudadas e testadas as melhores tecnologias de navegação.

Dentre elas, o aperfeiçoamento da caravela, navio leve, rápido e de manejo fácil, fundamental para singrar o mar oceano. Com ela, começou a conquista da costa africana, com a chegada a Ceuta em 1415. Em1488, Bartolomeu Dias contorna o temível Cabo das Tormentas, que engolia os navios que tentavam vencê-lo, denominando-o Cabo da Boa Esperança e, em 1498, Vasco da Gama finalmente atinge as Índias.

Além do interesse comercial, as navegações visavam à expansão da fé. Os europeus, desde a Idade Média, eram homens profunda­mente religiosos, que acreditavam que o final dos tempos estava próximo e que precisavam expandir a fé como passaporte para a vida após a morte. Mesmo que à força, catequizar os gentios era projeto dos cristãos.

As grandes navegações portuguesas abriram os mares para que a civilização chegasse ao Novo Mundo, descortinando novas terras e novas possibilidades para a humanidade.

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