O Grêmio Recreativo e Escola de Samba Bambas de Ribeirão Preto, considerada uma das mais antigas agremiações do país, poderá perder o terreno onde durante anos funcionou sua sede e sua quadra. A prefeitura enviou, para a Câmara de Vereadores, projeto que prevê a retomada da área, localizada na avenida Capitão Salomão nº 96, na divisa dos Campos Elíseos com o Ipiranga, na Zona Norte. A proposta deu entrada na Casa de Leis em 9 de abril.
Em sua justificativa, a administração municipal argumenta que o espaço cedido em maio de 2005 não está sendo utilizado como previsto na lei. Afirma também que uma vistoria, realizada em dezembro de 2018 pela prefeitura, constatou que a área está trancada, abandonada e que não foi possível localizar nenhum diretor da agremiação para fazer a notificação sobre a proposta de devolução.
O Tribuna tentou falar, por telefone, com a presidente da escola de samba, mas ela está em compromisso fora de Ribeirão Preto e não pôde atender nesta segunda-feira, 15 de abril. Segundo Adria Maria Bezerra Ferreira, uma das mais antigas integrantes da agremiação, a escola não foi notificada desta intenção da prefeitura. Ela contesta a dificuldade alegada pela administração para localizá-los e afirma que tomará as medidas cabíveis para evitar a retomada.
“Desde o começo do ano temos conversado com a Câmara, inclusive com o vereador André Trindade (DEM), líder do governo, para regularizar a situação da escola”, afirma. Por telefone, o parlamentar confirmou a informação e disse que irá trabalhar para verificar o que pode se feito. “Os Bambas fazem parte da história cultural da cidade e estão dispostos a retomar as suas atividades culturais”, afirmou.
Os problemas da escola
Em 2015, a quadra da escola foi fechada por falta de alvará, pois não tinha o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). A interdição teve como fundamentação a falta de segurança para os frequentadores. Na época, a diretoria, presidida pelo carnavalesco João Bento da Silva, o popular “Seu Santos”, tentou reverter a decisão, mas, segundo a diretoria, não conseguiu por problemas relacionados à documentação da área na própria prefeitura, como a ausência da chamada “planta baixa” do local.
Como os seguranças que tomavam conta do local foram retirados por determinação legal pois haveria risco de incêndio, a sede da agremiação acabou sendo destruída por vândalos que roubaram portas, janelas e outros equipamentos. Na época, somente as fantasias e outros materiais utilizados nos desfiles foram salvos, pois já haviam sidos retirados anteriormente. Atualmente estão guardados na residência de uma das diretoras dos Bambas. “Seu Santos” faleceu em 2016 e segundo membros da escola, muito triste pelo fim dos desfiles de rua na cidade e por ver a sede da agremiação destruída.
Na presidência da agremiação desde a morte do carnavalesco, Maria da Apresentação Ferreira decidiu priorizar a solução dos problemas administrativos e jurídicos da escola e investir em capacitação profissional sobre o assunto. Para isso, voltou para os Bambas, fez curso de captação de recursos financeiros e atualmente cursa “Evento” na Escola Técnica José Martimiano da Silva.
Em recente entrevista ao Tribuna, ela explicou que decidiu conhecer como funciona todo este processo para viabilizar o retorno da escola de forma planejada e continuada. Ou seja, não ficar dependente do poder público ou de ações que não resultam em recursos suficientes para custear as atividades. “Como precisamos recuperar nossa quadra e viabilizar atividades comunitárias e culturais permanentes, estamos investindo em capacitação”, afirmou.
O projeto tem de ser votado até 24 de maio, segundo o Regimento Interno da Câmara – 45 dias após dar entrada no Legislativo. Criada em março de 1927 como um cordão carnavalesco, com a Sociedade Recreativa Dançante Bambas transformou-se oficialmente em escola de samba em 1931. Segundo registros históricos é uma das primeiras agremiações carnavalescas do país.
Projeto prevê retomada
Em 8 de março, o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) sancionou lei de autoria do vereador Jorge Parada (PT) que obriga as entidades beneficiadas com a cessão de áreas municipais, por meio de direito real de uso, a comprovar, anualmente, quais as condições do terreno e se os projetos que motivaram a doação estão sendo executados.
Segundo o parlamentar, a medida é necessária por causa da constatação de que várias áreas doadas estão abandonadas. Segundo levantamento feito pelo Tribuna junto à administração municipal e com a Câmara de Vereadores, em menos de dois meses foram protocolados no Legislativo, pelo Executivo, 39 projetos pedindo a devolução dos imóveis cedidos em comodato. Deste total, 23 já foram aprovados e viraram lei – 59% do total.