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Prefeito diz que crise impede reajuste

JF PIMENTA/ESPECIAL TRIBUNA

A terceira greve consecu­tiva do funcionalismo público municipal na gestão Duarte Nogueira Júnior (PSDB) co­meça à zero hora desta quar­ta-feira, 10 de abril, e deve ser uma das mais longas da história caso a prefeitura de Ribeirão Preto não consiga impedir o movimento pa­redista na esfera judicial. A categoria já está insatisfeita com o governo tucano, que tem anunciado uma série de medidas para tentar equili­brar as finanças do município. Agora, porém, na data-base dos servidors, o chefe do Executivo reúne a imprensa para avisar que vai “congelar salários”.

O prefeito Duarte No­gueira Júnior (PSDB) afirmou nesta segunda-feira, 8 de abril, para a plateia que lotou o Salão Nobre do Palácio Rio Branco, que não tem como oferecer nenhum percentual de reajuste salarial para os servidores mu­nicipais. Se fizer isso, garante, estaria cometendo crime, já que o município está acima do limite prudencial de 54% de gasto com pessoal estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Para comprovar sua afir­mação, Duarte Nogueira con­vocou os titulares das secreta­rias municipais da Fazenda, Manoel de Jesus Gonçalves, e a da Casa Civil, Antonio Aboub Daas, que apresentaram da­dos antes do prefeito discur­sar. Depois, o tucano fez uma apresentação sobre as finanças municipais e os motivos da cri­se. “Não temos como dar ne­nhum reajuste, pois seria cri­minoso aumentar as despesas sem receita”, afirma o prefeito. Os servidores exigem aumento de 5,48% e ameaçam parar a partir desta quarta-feira. Uma pauta com 145 reivindicações foi entregue ao governo em 28 de fevereiro. A data-base da ca­tegoria é 1º de março.

Segundo Manoel Gonçal­ves, Ribeirão Preto atingiu o percentual de 55,86% de gasto com a folha de pagamento por causa determinação do Tribu­nal de Contas do Estado de São Paulo (TCE/SP), de que os repasses feitos ao Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM) de Ribeirão Preto fos­sem computados como despe­sa de pessoal. Este ano, a pre­feitura prevê repassar ao órgão previdenciário R$ 343 milhões para cobrir o déficit referente ao pagamento de 5.875 apo­sentados e pensionistas. De ja­neiro a abril já foram repassa­dos R$ 92 milhões. A folha de pagamento da prefeitura é de aproximadamente R$ 61,1 mi­lhões mensais, e a do IPM gira em torno de R$ 40 milhões.

Diante de um Salão Nobre lotado, prefeito e secretários expuseram a atual situação financeira do município, que é caótica e deve piorar em maio, com atraso de salários

O secretário afirmou ainda que interpôs recurso junto ao Tribunal de Contas do Estado para rever a inclusão do apor­te como despesas de pessoal, mas um parecer do Ministério Público de Contas do Estado – Procuradoria Geral – foi fa­vorável à manutenção deste re­passe como gasto com folha de pagamento salarial. “A situação do município é muito complica­da e, mesmo que o tribunal não incluísse o repasse ao IPM como despesa de pessoal, não tería­mos como dar aumento porque não temos dinheiro em caixa. Isso deve piorar nos próximos meses”, afirma Gonçalves. Se­gundo ele, no mês de maio o pagamento dos servidores já pode começar a atrasar.

Dados divulgados pelo prefeito desde outubro do ano passado revelam que o prin­cipal motivo para a crise seria a necessidade de aumento de repasse financeiro para o IPM provocado pelo aumento de servidores que se aposentaram. Atualmente existem 953 pessoas em condições de se aposentar.

Média salarial alta
O secretário adjunto da Casa Civil, Antonio Aboub Daas, afirma que a média sa­larial dos aposentados, pensio­nistas e servidores municipais da ativa de Ribeirão Preto teve um ganho real, entre 2012 e 2019, acima do Índice Nacio­nal de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Es­tatística (IBGE), o indexador oficial da inflação. Ele diz que, enquanto naquele período o índice ficou 49,6%, o cresci­mento médio dos trabalha­dores municipais subiu 89%, graças em grande parte aos quinquênios, sextas-parte e gratificações incorporadas aos salários. Apesar da afirmação, ressalta que o funcionário tem direito ao que recebe.

O secretário lembra ainda que o valor médio das aposen­tadorias dos servidores é maior do que os benefícios pagos aos trabalhadores da iniciativa privada, e citou, entre outros exemplos, o de um dentista aposentado pela prefeitura que recebe, em média, R$ 12 mil, en­quanto um da iniciativa privada se aposenta com benefícios en­tre R$ 2,6 mil a R$ 10 mil.

Sindicato rebate a versão do governo
Segundo o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis (SSM/RP), em vez de fortalecer o serviço público e a tolerância na convivência entre os servidores e a popula­ção, a administração municipal aposta na polarização e no impasse. “Se realmente o governo pretendesse mudar e melhorar o serviço público, teria primeiro de ouvir o conhecimento e opinião de quem faz isso na prática, os servidores municipais de Ribeirão Preto. Mas o objetivo deste governo, com sua agenda pautada por atores e interesses menores, é expor o servidor e fazer o desmonte do serviço publico”, afirma a entidade em nota enviada ao Tribuna.
De acordo com o sindicato, é parte do trabalho de todo administrador público responsável criar iniciativas para valorizar o servidor muni­cipal, respeitar a lei e melhorar o serviço público. “O governo deveria, portanto, construir propostas técnicas e engajar os seus agentes e es­pecialistas para efetivar o cumprimento da lei e não com o propósito de criar justificativas para o descumprimento da legislação. Se o governo aposta no impasse, os servidores só podem respaldar-se na mobiliza­ção e no espírito de luta da nossa categoria”, termina o comunicado. Nesta terça-feira (9), às 17 horas, na sede do SSM/RP acontece nova assembleia da categoria para definir os rumos da greve.
A categoria pede reajuste de 5,48% – são 3,78% de reposição da in­flação acumulada entre fevereiro de 2018 e janeiro deste ano – com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indexador oficial usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE) –, e mais 1,7% de aumento real. O mesmo percentual (5,48%) é cobrado sobre o vale-alimentação da categoria e no auxílio nutricional dos aposentados e pensionistas.
No ano passado, depois de dez dias de greve, que terminou em 19 de abril, foi concedido reajuste salarial de 2,06% com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, com acréscimo de 20% de ganho real, totalizando 2,5% de aumento. O mesmo percentual foi aplicado no vale-alimentação, que passou de R$ 862 para R$ 883,55, aporte de R$ 21,55, e na cesta básica nutricional dos aposentados.
Os dias parados não foram descontados, mas a categoria teve de repor o período de greve. O percentual de 2,5% foi o mais baixo em cerca de 13 anos – em 2005, na gestão de Welson Gasparini (PSDB), a categoria aceitou abono de R$ 120 e, em 2007, aumento de 3%. A paralisação foi a segunda mais longa da história da categoria, já que em 2017 a greve durou três semanas (21 dias). Em 2018, o sindicato pedia reajuste de 10,8%, mesmo índice de reposição sobre o valor atual do vale-alimentação e da cesta básica nutricional dos aposentados.
No ano anterior, já na gestão Duarte Nogueira, os servidores aceita­ram aumento salarial de 4,69% em duas parcelas – a primeira ficou fixada em 2,35% no mês de março e 2,34% para setembro. Também receberam uma reposição de 4,69% em parcela única retroativa a março no vale-alimentação e na cesta básica nutricional dos apo­sentados. Nenhum dia foi descontado dos grevistas.

Média de gastos com IPM (em abril de 2012)
Total de aposentados e pensionistas: quatro mil
Gastos com pagamento dos benefícios: R$ 3 milhões
Média salarial: R$ 3.400,00
Média de gastos com IPM
(em fevereiro de 2019)
Total de aposentados e pensionistas: 5.875
Gastos com pagamento dos benefícios: R$ 40 milhões
Média salarial: R$ 6.679,00
Salário dos servidores em 2012
Total de servidores na ativa: 8.931
Média salarial: R$ 3.990,00
Salário dos servidores em 2019
Total de servidores na ativa: 9.204
Média salarial: R$ 7.344,00
Fonte: Prefeitura de Ribeirão Preto

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