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Entre ‘tigrões e tchutchucas’

A participação do ministro da Economia em sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Depu­tados que discutia a reforma da Previdência terminou em confusão. Ao ser comparado, pelo parlamentar petista Zeca Dirceu, a um “tigrão” contra os aposentados, agricultores e professores e a uma “tchutchuca” no trato com “a turma mais privilegiada do país” e os “amigos banqueiros”, Paulo Guedes, indignado, respondeu ao seu interlocutor: “Tchutchuca é a sua mãe e a sua avó”.

Inicialmente, o Bonde do Tigrão lançou o termo “tchu­tchuca” para designar garotas bonitas, porém, aos poucos adotaram um sentido pejorativo, utilizado para denomi­nar mulheres vulgares e de baixo nível, conhecidas por ter relacionamento com vários homens, mas que ninguém quer namorar. No mundo funk, “tigrão” seria o rei das gatinhas, porém, em algumas regiões do país, seria aquele homem maduro e fora de forma que pensa estar abafando, querendo se passar por garotão.

A analogia utilizada pelo deputado, carregada de explíci­to sarcasmo, culminou em triste espetáculo, onde paixões à parte, todos estão errados pela falta de lhaneza em sessão da mais importante comissão da casa legislativa. A espetaculari­zação da política serve para inflamar os ânimos e escancarar a polarização política que o país experimenta. Gera manchetes, aumenta a audiência, mas qual a efetividade?

O embate desta semana enseja a necessidade de uma refle­xão mais aprofundada sobre as reformas que o país realmente precisa e quem vai pagar por elas. Para qualificá-lo devemos evitar distorções cognitivas, aqueles pensamentos exagerados, irracionais e muitas vezes tendenciosos. Saudosistas evocam o chamado “milagre brasileiro” com melhorais na infraestru­tura, desenvolvimento do setor produtivo e aumento do nível de emprego, mas esquecem da inflação elevada e aumento da dívida externa com dependência e submissão ao FMI (Fundo Monetário Internacional).

Mesmo a memória mais seletiva não consegue esquecer Delfim Netto afirmando: “É preciso fazer o bolo crescerpa­ra depois reparti-lo”. O tempo passou, a economia cresceu consideravelmente, não houve distribuição de renda e as desigualdades sociais no país aumentaram. Como alguns se empanturraram concentrando a renda, muitos ficaram com as migalhas do bolo, outros nem isso.

No fundo a maioria sabe que o modelo de previdência pública precisa de ajustes, mas o proposto pelo atual governo seria o melhor? Quem realmente são os privilegiados? Qual a dificuldade em colocar todas as informações na mesa, obser­vando os modelos internacionais já propostos e adaptando-os à realidade local? As reformas fiscal e tributária não eram mais urgentes? São questões que cujas respostas provavel­mente ficarão sem resposta.

Desde 1808 com Don Fernando José de Portugal e Cas­tro, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Brasil e da Fazenda e Presidente do Real Erário até o atual titular do superministério,centenas de profissionais das mais variadas formações e correntes comandaram o sistema econômico apresentando fórmulas e métodos diversos. Trocaram os ritmos e as músicas, o baile continuou. Alguns sempre fica­ram nos camarotes, a maioria na pista e nós sabemos quem geralmente dança.

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