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Paulinho da Viola e suas histórias

Um dos privilégios que minha amizade com Sócrates me proporcionou, foi estar com ele mais Datena, Carlinhos Vergueiro e meu ídolo, Paulinho da Viola. Poxa, vivi ali, na Churrascaria Coxilha dos Pampas, uma tarde todinha e que ficará pra sempre na gaveta da minha memória.

Paulinho da Viola e Toquinho, na noite anterior, fizeram show no Theatro Pedro II. Um dia antes, na parte da tarde, Sócrates, a pedido dos artistas, organizou uma pelada lá na chácara do Zé Strambi. Paulinho estava tão feliz por conhecer e conviver dois dias com Sócrates que demorou um pouco pra se soltar, mas, quando o fez, contou tantas histórias que, vez em quando, vou rebuscando e colocando no papel.

Ele contou que é vascaíno doente e certa vez foi com seu filho adolescente à sede do Vasco resolver um problema. O fi­lho não dava a mínima importância à fama do pai. Geralmen­te é assim, sabe-se lá o que pensava o garoto do pai que tinha. Nessa época, Romário, no auge da fama, jogava no Vasco e quis o acaso que os dois se cruzassem naquele momento.

Quando viu Paulinho da Viola, Romário, de longe, deu um sonoro grito: “Paulinho, meu peixe!”. O compositor ficou surpreso, e seu filho mais ainda. O jovem ficou paralisado vendo seu pai ser abraçado por um ídolo mundial, ele mal acreditava no que estava vendo. Romário comentou com o sambista sobre várias músicas, citando as que marcaram sua vida. E o menino assistindo a tudo aquilo. Naquele momen­to, pôde perceber o pai que tinha. Romário passou a mão na cabeça do menino ao se despedir, deixando-o boquiaberto.

Depois, o jovem perguntou: “Pai, você era amigo do Ro­mário e nunca me disse nada, pai?” Paulinho, com sua calma habitual e afagando o garoto, disse: “Meu filho, veja bem. Nunca havia encontrado o Romário.” O rapaz emendou: “Mas ele te gritou de longe, pai”. “Sim, meu filho, mas nós temos nosso público, eu na música e ele no futebol, embora nunca tivéssemos nos encontrado, éramos fãs um do outro e o que você viu foi uma demonstração de respeito e carinho que temos por nossos ídolos”.

Paulinho disse que depois dessa, o menino mudou muito com ele e até procurou melhorar seus estudos musicais, tanto que hoje toca violão nos shows do pai famoso. Vendo Pauli­nho contar esta história, lembrei de inúmeros filhos que não dão a mínima para a profissão exercida pelo pai.

A resenha estava uma delícia, Sócrates aproveitou e disse: “Paulinho, me contaram que você compôs o samba ‘Argumento’ num momento em que esse nosso ritmo estava passando por uma transformação, você quis criticar quem?” O sambista respondeu: “Sabe o que é, Sócrates? No nosso samba sempre teve surdo, pandeiro, cavaquinho e tamborim; e o Benito Di Paula, quando estourou no Brasil inteiro, subs­tituiu-os pelo piano tocado por ele e um atabaque com prato e chimbal. Ficou bonito, não nego”, disse Paulinho, “mas, com antigos instrumentos o samba dele teria mais ‘molho’, que é como chamamos no universo dos sambistas”.

Muitas histórias foram contadas até que Paulinho, com aquele seu jeito cheio de humildade, falou: “Sócrates, vou chegar no Rio e contar em casa e para os amigos que conheci você, até batemos uma bola juntos, ninguém vai acreditar e eu nem tenho como provar.” E riu um bocado. Aí eu entrei na parada: “Paulinho, posso fazer fotos com minha velha má­quina e mando pra você.” Ele ficou na maior alegria, passou o endereço e vários telefones que era pra não ter erro. Fz várias fotos e no dia seguinte mandei revelar. Liguei pro sambista, que muito me agradeceu.

Sexta conto mais.

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