O ex-policial civil Ricardo José Guimarães, apontado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como chefe de um grupo de extermínio que atuou em Ribeirão Preto nas décadas de 1990 e 2000, voltará ao banco dos réus nesta terça-feira, 2 de abril, para enfrentar novo júri popular. Desta vez, é acusado de matar dois jovens, em 2002. Ele já tem quatro condenações – somadas as quatro sentenças desfavoráveis, acumula 206 anos de cadeia e ainda vai responder por mais assassinatos.
O processo tramita na 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais, sob a responsabilidade do juiz Giovani Augusto Serra Azul Guimarães. O ex-investigador está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista, desde 28 de maio do ano passado, quando a Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) descobriu um suposto plano de fuga em Tremembé que envolveria o resgate de Guimarães.
A defesa do ex-policial, representada pelo advogado César Augusto Moreira, questiona a legalidade da transferência. Diz que o ex-policial tem sido alvo de ameaças de morte de uma facção criminosa e, por isso, deve retornar para Tremembé, onde permaneceu por quase oito anos antes do remanejamento. O último pedido de Moreira é um embargo de declaração encaminhado em 15 de março à Corregedoria Geral dos Presídios da Capital.
Nesta terça-feira, o ex-policial volta ao banco dos réus para responder pelas mortes de Maikon Nahib Silva e Rogério Fernandes, em 2002, em Ribeirão Preto. Os jovens, com 19 anos na época, tinham passagem por tráfico de drogas e foram encontrados mortos no Parque São Sebastião. O júri está marcado para começar às 13 horas, no Fórum Estadual de Justiça. Salão do Júri.
A mais recente condenação de Guimarães foi em 2 de agosto, quando foi condenado, por um júri popular, a mais 30 anos de prisão pelo homicídio de Thiago Aguiar da Silva, de 14 anos, suspeito de envolvimento em delitos como tráfico de drogas. O rapaz foi morto a tiros em 11 de janeiro de 2004, no cruzamento das ruas Comandante Marcondes Salgado e Florêncio de Abreu, na região central da cidade. O ex-investigador é acusado de, na companhia de mais três pessoas, executar o adolescente.
Esta foi a quarta condenação de Guimarães por homicídio. Ele pode pegar até 300 anos de reclusão. O ex-policial sempre negou todas as acusações feitas pelo Ministério Público. Segundo promotor José Gaspar Barreto, a prova de confronto balístico comprovou que os projéteis da pistola 765 que Guimarães usou no assassinato da dona de casa Tatiana Assuzena e no atentado contra o noivo dela, Almir Rogério, meses depois da morte de Thiago Silva, eram idênticos.
O ex-investigador também deve voltar a júri popular ainda este ano em Ribeirão Preto pela morte de Thiago Xavier de Stefani, de 21 anos, baleado com dois tiros na cabeça, no Jardim Independência, em 2003. O rapaz foi morto na porta de casa. Na residência dele havia, segundo investigações da época, porções de maconha. A mãe da vítima sempre negou o envolvimento do filho com o tráfico, diz que o rapaz foi executado e os entorpecentes e o revólver foram “plantados” por Guimarães.
Em 2004, detido depois da morte de Tatiana Assuzena, fugiu pela porta da frente do presídio da Polícia Civil, em São Paulo. O julgamento do caso De Stefani estava marcado para outubro do ano passado, mas acabou adiado porque outro réu, acusado de executar os tiros, deve ser julgado primeiro ou ao mesmo tempo que ele, de acordo com as normas do Código de Processo Penal. Em 22 de fevereiro, em um júri popular que durou mais de 14 horas, o ex-integrante da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) sentou- se no banco dos réus pelo assassinato da dona de casa Tatiana Aparecida Assuzena, em 24 de março de 2004, nos Campos Elíseos, Zona Norte.
Catorze anos depois, ele foi condenado a 56 anos em regime fechado e mais dez dias-multa. O ex-policial já havia sido já condenado a 120 anos de prisão por causa de quatro homicídios. Ele sempre negou envolvimento com grupos de extermínio e quando assumiu alguma morte disse que foi em legítima defesa, no exercício da profissão.
No dia 11 de julho de 2017, Guimarães foi condenado a 72 anos de prisão pelas mortes de Anderson Luiz de Souza, então com 15 anos, e Enoch de Oliveira Moura, de 18, em maio de 1996, no Parque Avelino Alves Palma – duas das oito vítimas assassinadas e atribuídas ao ex-policial. Em 5 de dezembro, foi condenado pelo 5º Tribunal do Júri da Barra Funda, em São Paulo, a 48 anos de prisão pelos assassinatos e ocultação de cadáveres de dois ex -policiais civis, ocorridos em julho de 2005 no Uruguai.
Ele nega participação nos assassinatos dos ex-policiais civis do Rio Grande do Sul Ronaldo Almeida Silva e Leonel Jesus Ilha da Silva. Segundo o promotor Marcus Túlio Nicolino, o grupo de extermínio agiu em Ribeirão Preto entre 1994 e 2002 e pode ter executado 70 pessoas. Em 1994, a cidade registrou 94 homicídios. Depois, de 1995 a 2002, o balanço sempre esteve na casa dos três dígitos – 119 (1995), 221 (1996), 209 (1997), 222 (1998), 251 (1999), 263 (2000), 202 (2001) e 190 (2002).