As eleições de outubro de 2018 renovaram em 85% o cenário do Senado Federal. Essa esperança de renovação por uma nova política, segundo alguns comentaristas políticos, iniciou com as manifestações de 2013, quando o povo brasileiro demonstrou sua insatisfação com um sistema político profundamente corrompido.
Nos dias 1º e 2 de fevereiro, durante horas intermináveis, assistimos mais alguns daqueles “espetáculos circenses” protagonizados pelos nobres senadores, que aos gritos, insultos e baixarias tomaram posse de suas cadeiras e foram premiados com mais uma intervenção do Supremo Tribunal Federal.
Provocados por dois partidos, obtiveram um veredicto do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, contrariando uma decisão da maioria do plenário da Casa, que é, segundo a Constituição, independente, decidindo em favor de alguns desesperados, pelo voto secreto para a eleição do novo presidente do Senado, devendo a votação ser presidida pelo senador mais idoso, José Maranhão.
Os senadores Kátia Abreu e Renan Calheiros, subestimando e escandalizando os calouros recém-chegados, entre outros, mais uma vez perdendo o equilíbrio e a capacidade de diálogo civilizado, pretenderam intimidar a maioria do plenário que, por 50 a 2 desejavam eleições abertas para a cadeira presidencial do Senado.
Não menos indecente do que ocupar a Mesa Diretora com marmitas e tudo, a furiosa senadora “desceu do salto”, tomando a pastinha do presidente em exercício, Davi Alcolumbre. A sessão precisou ser suspensa e, entre a noite e a madrugada, correram para pedir socorro ao STF, achando que assim conquistariam a mudança da maioria dos novos senadores eleitos com a mesma legitimidade do que a deles.
Alguns candidatos à presidência do Senado, que parecem desejar mudanças, declinaram de suas candidaturas em favor de alguém diferente do mesmo e que tentava se “eternizar” naquela cadeira, Renan Calheiros. Mas ainda no primeiro escrutínio apareceram duas cédulas fora dos envelopes, somando um total de 82 votos, mesmo que o Senado seja formado por apenas 81.
Uma fraude ainda a ser investigada, não obstante o presidente da eleição, José Maranhão , por pura “ingenuidade”, por não ser o escrutinador, ter verificado para quem eram os dois votos fora dos envelopes – destinados a Renan Calheiros – e depois rasgado e colocado no bolso do paletó os pedacinhos dos votos fraudulentos. Mas, como tudo é filmado, não será difícil descobrir o autor da fraude.
Uma frase que me chamou a atenção e me entristeceu profundamente, pronunciada por Renan Calheiros, exige do exercício de nossa cidadania ainda maior atenção: “Precisamos acabar com essa cultura de que a maioria vence”! O que ele chamou de desrespeito à Constituição, ao Regimento Interno (ultrapassado) e um golpe contra a democracia, não nos deixou nenhuma dúvida de seu desespero, ao perceber que estão fadados a cair os “caciques” de uma política viciada em corrupção, falcatruas e mentiras deslavadas.
A democracia só sobreviverá se a maioria vencer pelo diálogo e a minoria souber respeitar os que pensam diferentemente desses. Mesmo assim, percebendo que perderia, porque sempre foi um excelente “calculista”, chamando o candidato mais jovem de Golias, renunciou e se retirou do plenário, em votação já iniciada, o que é tão grave quanto aquilo que aos gritos ele e Kátia Abreu atribuíam aos calouros.
Finalmente, a segunda votação confirmou o senador Davi Alcolumbre como novo presidente do Senado, com 42 dos 41 votos necessários. Renan Calheiros teve apenas cinco votos. O primeiro discurso do jovem presidente foi conciliador, porém com o firme propósito de servir o povo e não servir-se dele! Depois de tanta molecagem numa das Casas mais “nobres” que já não parece mais tão nobre assim, esperamos que a educação de berço volte a conduzir as sessões destes próximos dois anos. Porém, estamos diante de um Senado da República a conferir!