Tribuna Ribeirão
Educação

Com recursos do Fies, estudantes superam dificuldades e ficam próximos de seus sonhos

Em pouco mais de 11 anos, o sonho de Mariana Lopes de Azeredo, 30, de se tornar médica, esteve quase sempre na corda bamba. As dificuldades para iniciar e concluir o curso foram muitas: falta de dinheiro, separação dos pais e a recente crise econômica que atingiu milhares de famílias brasileiras. Mariana não desistiu e, um dia, ao tentar reativar a graduação na faculdade, foi incentivada a tentar o então Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), hoje Novo Fies, cujo período das inscrições para a primeira edição de 2019 segue aberto até 14 de fevereiro. 

A saga da agora médica cardiologista, formada por uma universidade privada de Porto Alegre em agosto de 2018, começou em 2006, quando foi aprovada no vestibular para medicina após um ano de preparação em um cursinho popular, na capital gaúcha. Sem cobranças mais duras dos pais para uma aprovação em uma universidade federal, Mariana, que estudou a vida toda em escola pública, com exceção do terceiro ano do ensino médio, iniciou a graduação na instituição particular.

“Meu pai é jornalista e era professor acadêmico da faculdade onde me formei. Assim, eu tinha um desconto acima de 60% e pagava um preço acessível para a situação”, relembrou Mariana. Um novo obstáculo, porém, surgiu em 2009: a família sentiu a crise econômica que assolou o Brasil, assim como a instituição de ensino, que cortou funcionários. “Meu pai foi demitido e perdi o desconto. A partir daí, ficou inviável pagar a mensalidade. Então, tranquei o curso”, contou.

A graduação em turno integral impediu que ela trabalhasse para quitar as parcelas. Com formação em inglês desde os 15 anos, Mariana procurou o diretor da escola de idiomas onde se formou e pediu ajuda. Voltou a dar aulas de inglês e atuou como coordenadora pedagógica durante dois anos. A meta era ajudar a família, cuja situação ficou ainda mais difícil ao ponto de ter sido despejada de onde morava para se alojarem com a avó materna.

“Tive depressão por estar longe da faculdade, das pesquisas de bolsa acadêmica que consegui. Muitas pessoas me disseram para fazer outro curso, mas não desisti porque sabia onde queria chegar”, recordou Mariana. De acordo com ela, a guinada veio em 2012, quando decidiu voltar a estudar e buscou resolver as pendências financeiras que tinha com a faculdade. A família e o noivo ajudaram. Mas um novo revés teimou em impedir o sonho da então estudante universitária com o curso parado.

“Recebi a notícia que, pelo tempo afastada, dois anos, havia sido desligada da faculdade. Teria que fazer outro processo seletivo, perdendo cadeiras por conta da mudança de currículo”, disse. Após reuniões com o reitor e o diretor da instituição, foi aceita de volta. Na matrícula, decidiu pela cadeira com menor valor de crédito. Foi aí que um fio de esperança surgiu. “Nesse momento, a funcionária sugeriu que me inscrevesse no Fies, mas sempre achei que todos os programas de financiamento fossem difíceis.”

“Em um país no qual poucas pessoas conseguem ter nível superior, tampouco pós-graduação, doutorado ou outras qualificações, temos que dar muita importância para esses fundos, bolsas e programas, todos que incentivam os estudos, a intelectualidade, o academicismo e o desenvolvimento dos brasileiros. São fundamentais e devem ser uma prioridade no nosso país, sendo aprimorados e valorizados para uma educação de qualidade”, declarou.

Valorização – Assim com Mariana, o professor de educação física Eder Emanuel Barboza, 35 anos, formado há 14 por uma faculdade privada no interior de São Paulo, é um defensor do Fies. Estudante de escola pública a vida inteira na cidade de Mirassol (SP), ele confessou que amava esportes, mas não pensava em cursar uma graduação superior.

Embora apaixonado por futebol, durante a adolescência foi trabalhar, apoiado pelo pai, no Clube Monte Líbano de Rio Preto, na função de gandula de bolinhas de tênis. Nas horas vagas, aprendeu o jogo. Da mãe, recebeu como presente uma raquete. Participou de alguns torneios, mas aos 16 anos decidiu que queria se tornar treinador. “Minha mãe é funcionária pública, viu na escola sobre o vestibular, mas eu achava que não tinha nível para tentar uma faculdade privada”, explicou Eder.

Na época, como recordou, o número era limitado a 120 vagas para 600 estudantes concorrendo. Ele foi aprovado em 68º lugar. Eder tinha informações sobre o financiamento estudantil do governo federal e, segundo ele, a razão para tentá-lo foi apenas financeira. “A faculdade é situada em outra cidade e eu teria gastos com viagem e alimentação. Apesar de meus pais ajudarem, não era possível fazer o curso com qualidade”, afirmou.

Após a inscrição e aprovação, o futuro professor de educação física conseguiu financiar parte do valor do curso. Logo quando se formou, começou a trabalhar e após um ano de formado iniciou o pagamento do Fies. Fixo no mercado de trabalho, Eder disse que pagou o empréstimo com facilidade e já quitou totalmente o saldo restante.

“Sem o Fies eu não conseguiria me formar em uma faculdade de qualidade”, explicou. O mesmo clube onde foi gandula, aliás, o contratou como treinador após a graduação. “Isso valorizou muito o fato de ter obtido o Fies, principalmente hoje que sou conhecido nacionalmente pelo meu trabalho. O Fies foi fundamental para mim; todos temos sonhos e, às vezes, somos barrados pela falta de apoio e dinheiro. O Fies pode abrir as portas para quem sonha grande e tem determinação”, completou.

Programa – O Novo Fies, sancionado em 7 de dezembro de 2017, é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em cursos superiores não gratuitos, na forma da Lei 10.260/2001. Podem recorrer ao financiamento os alunos matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pela pasta.

Atualmente, os estudantes interessados em obter financiamento estudantil na modalidade Fies podem contar com a garantia de percentual de financiamento mínimo de 50% do curso escolhido, desde que o limite financiável não passe de R$ 42.983,70 por semestre.

O novo modelo é composto por três faixas: Fies 1, 2 e 3. A primeira corresponde ao financiamento ofertado diretamente pelo governo para o estudante, que é conhecida como modalidade Fies, representando a parcela de vagas a juro zero. Elas são reservadas a estudantes com renda familiar per capita mensal de até três salários mínimos. Esta modalidade terá o Fundo Garantidor composto de recursos da União e aportes das instituições de ensino. Já as faixas 2 e 3, que são conhecidas como modalidade P-Fies, estão destinadas aos estudantes com renda per capita mensal de até cinco salários mínimos.

Em algumas vezes, a modalidade P-Fies também pode chegar a juro zero, semelhante a modalidade Fies, considerando que as instituições contam com recursos públicos e por isso são capazes de ofertar um financiamento mais barato que o mercado. No entanto, a taxa de juros na modalidade P-Fies deverá ser estabelecida pelos bancos parceiros participantes, uma vez que poderão investir recursos próprios.

Assessoria de Comunicação Social

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