A Polícia Federal identificou, em e-mails trocados por funcionários da Vale e da consultoria alemã Tüv Süd, que a empresa de mineração já sabia de problemas com sensores da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), dois dias antes do rompimento que matou 150 pessoas e deixou 182 desaparecidos – entre funcionários da mineradora, terceirizados que prestavam serviços à companhia e membros da comunidade. A Defesa Civil de Minas Gerais informa ainda que 134 corpos foram identificados.
As informações constam do depoimento do engenheiro Makoto Namba, coordenador de projetos da empresa Tüv Süd, à PF. Ele e outro engenheiro, André Yassuda, foram presos no dia 29 de janeiro, quatro dias depois do estouro da barragem que despejou o mar de lama em Brumadinho. Na terça-feira (5), o Superior Tribunal de Justiça mandou soltar os dois engenheiros e mais três pessoas acusadas de envolvimento no rompimento da barragem – geólogos e técnicos da Vale.
O delegado Luiz Augusto Nogueira leu os e-mails para o engenheiro durante seu depoimento. Segundo a PF, as mensagens “foram iniciadas pelo indivíduo Denis Valentim no dia 23 de janeiro de 2019, às 14h38” e endereçadas a executivos da Vale a da Tüv Süd. No dia 24 de janeiro, às 14h44, funcionários da terceirizada Tec Wise também receberam mensagens. “(O) assunto tratado diz respeito a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10 de janeiro de 2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 piezômetros automatizados”, narrou a Polícia.
“A Vale informa que vem colaborando proativamente e da forma mais célere possível com todas as autoridades que investigam as causas do rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. Como maior interessada no esclarecimento das causas desse rompimento, além de materiais apreendidos, a Vale entregou voluntariamente documentos e e-mails, no segundo dia útil após o evento, para procuradores da República e delegado da Polícia Federal”, diz a empresa em nota.
“A companhia se absterá de fazer comentários sobre particularidades das investigações de forma a preservar a apuração dos fatos pelas autoridades”, finaliza. Moradores do Córrego do Feijão denunciaram na tarde desta quarta-feira, ao Ministério Público Estadual (MPE-MG), que o atestado de óbito de muitas das vítimas do colapso da barragem apresentava, como local da morte, a inscrição “evento em Brumadinho”. “Já pedimos ao MP que nos ajude a resolver esse problema. Eles não estavam em um evento. Estavam em casa, trabalhando”, disse Adilson Lopes, representante da comunidade na comissão que representa as vítimas.
Lopes conta que pelo menos cinco atestados de óbito de moradores da localidade vieram com essa declaração. Segundo ele, restam 14 desaparecidos, entre os quais seu pai. Os moradores esperam que o Instituto Médico Legal (IML) altere essa informação. De acordo com a pesquisadora Karine Gonçalves Carneiro, do Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que também estava na reunião, o fato gerou muita dor e revolta. “Não tinha ninguém em evento nenhum, não era uma festa, nada disso. Foi o colapso de uma barragem”, explicou a pesquisadora. “Mas os órgãos afirmaram que iriam pedir a retificação.”
Animais
O trabalho de resgate de animais em Brumadinho continua. De acordo com a Brigada Animal, 350 foram resgatados até domingo, dia 3. A contagem se refere a bichos resgatados e devolvidos a seus donos ou aqueles que foram acolhidos na fazenda onde funciona o hospital de campanha. Os que receberam atendimento nas propriedades de seus tutores também compõem esse número.
Dos 350 resgatados, 145 seguem em atendimento no local. Lá, os animais recebem procedimentos veterinários e, após os tratamentos, são devolvidos para os respectivos donos. Os animais de tutores não localizados serão disponibilizados para adoção. Entre os bichos atendidos estão gatos, cães, equinos, bovinos, pássaros e aves – além de uma serpente e um cágado.