Tribuna Ribeirão
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Vale soube de problemas 2 dias antes de desastre

ADRIANA MACHADO/ REUTERS

A Polícia Federal identificou, em e-mails trocados por funcio­nários da Vale e da consultoria alemã Tüv Süd, que a empresa de mineração já sabia de proble­mas com sensores da barragem do Córrego do Feijão, em Bru­madinho (MG), dois dias antes do rompimento que matou 150 pessoas e deixou 182 desapa­recidos – entre funcionários da mineradora, terceirizados que prestavam serviços à companhia e membros da comunidade. A Defesa Civil de Minas Gerais informa ainda que 134 corpos foram identificados.

As informações constam do depoimento do engenheiro Makoto Namba, coordenador de projetos da empresa Tüv Süd, à PF. Ele e outro engenheiro, André Yassuda, foram presos no dia 29 de janeiro, quatro dias depois do estouro da barragem que despejou o mar de lama em Brumadinho. Na terça-feira (5), o Superior Tribunal de Justiça mandou soltar os dois engenhei­ros e mais três pessoas acusadas de envolvimento no rompimen­to da barragem – geólogos e téc­nicos da Vale.

O delegado Luiz Augusto Nogueira leu os e-mails para o engenheiro durante seu depoi­mento. Segundo a PF, as men­sagens “foram iniciadas pelo indivíduo Denis Valentim no dia 23 de janeiro de 2019, às 14h38” e endereçadas a executi­vos da Vale a da Tüv Süd. No dia 24 de janeiro, às 14h44, funcio­nários da terceirizada Tec Wise também receberam mensagens. “(O) assunto tratado diz respei­to a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instru­mentos automatizados (piezô­metros) no dia 10 de janeiro de 2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 piezô­metros automatizados”, narrou a Polícia.

“A Vale informa que vem colaborando proativamente e da forma mais célere possível com todas as autoridades que inves­tigam as causas do rompimento da Barragem I da Mina Córre­go do Feijão, em Brumadinho. Como maior interessada no esclarecimento das causas desse rompimento, além de materiais apreendidos, a Vale entregou voluntariamente documentos e e-mails, no segundo dia útil após o evento, para procuradores da República e delegado da Polícia Federal”, diz a empresa em nota.

“A companhia se absterá de fazer comentários sobre parti­cularidades das investigações de forma a preservar a apuração dos fatos pelas autoridades”, fi­naliza. Moradores do Córrego do Feijão denunciaram na tarde desta quarta-feira, ao Ministério Público Estadual (MPE-MG), que o atestado de óbito de mui­tas das vítimas do colapso da barragem apresentava, como lo­cal da morte, a inscrição “evento em Brumadinho”. “Já pedimos ao MP que nos ajude a resolver esse problema. Eles não esta­vam em um evento. Estavam em casa, trabalhando”, disse Adilson Lopes, representante da comunidade na comissão que representa as vítimas.

Lopes conta que pelo me­nos cinco atestados de óbito de moradores da localidade vieram com essa declaração. Segundo ele, restam 14 desaparecidos, entre os quais seu pai. Os mo­radores esperam que o Instituto Médico Legal (IML) altere essa informação. De acordo com a pesquisadora Karine Gonçalves Carneiro, do Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que também estava na reunião, o fato gerou muita dor e revolta. “Não tinha ninguém em evento nenhum, não era uma festa, nada disso. Foi o colapso de uma barragem”, explicou a pesquisadora. “Mas os órgãos afirmaram que iriam pedir a retificação.”

Animais
O trabalho de resgate de ani­mais em Brumadinho continua. De acordo com a Brigada Ani­mal, 350 foram resgatados até domingo, dia 3. A contagem se refere a bichos resgatados e de­volvidos a seus donos ou aqueles que foram acolhidos na fazen­da onde funciona o hospital de campanha. Os que receberam atendimento nas propriedades de seus tutores também com­põem esse número.

Dos 350 resgatados, 145 se­guem em atendimento no local. Lá, os animais recebem proce­dimentos veterinários e, após os tratamentos, são devolvidos para os respectivos donos. Os animais de tutores não localiza­dos serão disponibilizados para adoção. Entre os bichos atendi­dos estão gatos, cães, equinos, bovinos, pássaros e aves – além de uma serpente e um cágado.

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