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Os novos velhos tempos

Depois de termos passados pela ultima ditadura militar no Brasil, e de termos construídos uma Constituição chamada cidadã, esperava-se que tempos obscuros “nunca mais”, no entanto, bastou haver uma tentativa de distribuição de riquezas, mesmo não sendo da maneira que deveria ser, para que uma avalanche reacionária soterrasse os sonhos de se construir um País melhor.

Eu não sei se a agressividade da última campanha presidencial despertou o que há de pior numa parcela significativa do povo brasi­leiro, que elegeu o ódio, o preconceito e a segregação como bandeira de luta, e o presidente eleito para corroborar com esta situação mantém o discurso de campanha atacando a já combalida educação básica, colocando no Ministério da Educação, e no Ministério da Mulher e Direitos Humanos, pessoas desqualificadas para o cargo.

A Constituição brasileira define o Brasil como um Estado laico, mas essa laicidade está correndo risco nas mãos destes fundamentalistas religiosos. Há muito tempo que não vejo um governo atacar com tanta virulência a educação, seja a básica, como a superior, nas universidades. Talvez a explicação esteja na síndrome de lambe-botas destes obtusos que querem trazer para o Brasil o pragmatismo na educação básica que tomou conta de parte dos Estados Unidos nos anos 1920.

No passado recente, as crianças com deficiências eram deixadas de lado pelas famílias, pelas comunidades, e não tinham o direito inalienável de frequentar a escola. Morriam cedo, a maioria não pas­sava da adolescência. Essa situação começou a mudar no Brasil com a criação da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), que deu um pouco de dignidade aos deficientes, principalmente aos que tinham síndrome de Down, e isso contribuiu para dar dignidade de vida, e começaram a viver mais.

A Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1959, abriu o caminho para a educação inclusiva no Brasil, e a Consti­tuição de 1988 efetivou a educação inclusiva, que passou a fazer parte da educação formal. Os tratados de Salamanca e da Guatemala, dos quais o Brasil é signatário, afirmam que toda a criança tem direito a aprender e ensinar, independentemente de sua deficiência, e para cumprir os acor­dos internacionais novas leis foram criadas para que as escolas regulares começassem a receber essas crianças.

A última foi a de número 13.146/2015, conhecida como a Lei da Inclusão Escolar. Nunca um governo produziu tantos malefícios para a educação brasileira, em tão curto espaço de tempo. Comum à canetada, o despreparado ministro da Educação, descumprindo a Constituição e os acordos internacionais, quer que as crianças com deficiências sejam novamente isoladas em instituições especiais.

No mundo, a inclusão escolar é tratada com carinho, e os direitos de todos são respeitados. Querem ressuscitar o famigerado projeto “escola sem partido”, que nada mais é do que impingir o pensamento único, e o fundamentalismo religioso, e para completar o Ministério da Educação vai compartilhar com o ministério da destemperada o ensino domiciliar. A barbárie se instalou em nosso País.

O assassinato da educação brasileira está programado, dizer que as universidades são destinadas a uma elite intelectual, e que uni­versidade para todos não existe, é a volta da casa grande e senzala, e para a ralé reservaram um ensino técnico mal ajambrado, pois uma educação de qualidade e para todos é coisa de país socialista e comu­nista. Um pouco de luz, por favor!

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