“E se a educação focasse menos nas habilidades e nos conhecimentos e mais no cultivo de hábitos da mente que os alunos precisarão para um aprendizado ao longo da vida, a resolução de problemas e a tomada de decisões? E se a educação estivesse menos preocupada com as provas no final do ano e mais atenta em quem os alunos se tornam?”.
O questionamento instigante do principal pesquisador do Project Zero e educador da Universidade de Harvard Ron Ritchhart faz cada vez mais sentido no mundo atual. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial revela que quase 65% das profissões das quais os alunos do Ensino fundamental se ocuparão no futuro não foram sequer criadas. Nota-se, com isso, que tanto o mercado de trabalho como a nossa base de conhecimento estão evoluindo muito rapidamente.
Para acompanhar essas mudanças e ensinar as crianças a sobreviver e prosperar em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (do acrônimo em inglês VUCA) – além de cada dia mais conectado e, ao mesmo tempo, fragmentado – a educação precisa mudar. E ela já mudou. É óbvio que o conhecimento de conteúdos acadêmicos ainda são e sempre serão importantes, mas as habilidades socioemocionais estão hoje no centro da revolução que ocorre na educação.
Está em curso a valorização de uma nova cultura dentro da escola, de um paradigma pedagógico atualizado e dinâmico capaz de incentivar a criatividade e a curiosidade inerentes aos seres humanos, especialmente às crianças. Assim como qualquer empresa líder em seu setor de atuação cultiva uma cultura própria e, ao mesmo tempo, serve de pilar e bússola, escolas vanguardistas também estão desenvolvendo culturas que as sustentem e orientem.
Ritchhart elencou oito poderosas forças culturais que definem a sala de aula das escolas inovadoras: tempo, oportunidades, rotinas, linguagem, modelagem, interações, ambiente físico e expectativas. Melhor do que esmiuçar cada uma delas é compreendê-las por meio de exemplos práticos.
Duas instituições, as escolas Concept (São Paulo, Salvador e Ribeirão Preto) e a North Broward Preparatory School (Coconut Creek, Flórida) passaram da fase de repensar a educação e já preparam seus alunos através da relevância de conteúdos, construção de significados, propósitos e intencionalidade.
Basicamente, o foco muda do ensino para o aprendizado, das tarefas baseadas em conteúdos estáticos para o desenvolvimento do conhecimento multidisciplinar e socioemocional. No plano pedagógico, tal postura ajuda as crianças a trabalhar em equipe e a desenvolver habilidades como liderança, pensamento crítico, espírito empreendedor e criatividade. No aspecto social, os alunos aprimoram a empatia e ganham autonomia para trilhar seus próprios caminhos na vida pessoal e profissional.
Através do conceito chamado Hábitos da Mente, desenvolvido por Bena Kallick e Arthur L. Costa, as crianças são estimuladas a abandonar uma mentalidade fixa e adotar uma mentalidade de crescimento. Se, por um lado, o desafio não é fácil, por outro, é extremamente estimulante notar a evolução no comportamento dos pequenos: eles passam a ser mais reflexivos em suas ações e reações, o que altera desde pequenas atitudes até posturas instintivamente mais enraizadas.
Distante de arcaísmos como a memorização e a simples reprodução de conteúdos, as escolas com mentalidade de inovação estão interessadas em ensinar os alunos a produzir conhecimento. O atributo crítico dos seres humanos inteligentes não é apenas ter a informação, mas saber como agir em posse dela. Com o Hábito da Mente adequado, uma criança de hoje poderá ter a capacidade e a desenvoltura para se comportar inteligentemente quando confrontada com os problemas do amanhã. Sabemos que no mundo não faltam problemas, mas, sim, pessoas aptas a resolvê-los.