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Disputa pelo furo – O rapto do informante
Em tempos idos, quando as emissoras de rádio disputavam pal­mo a palmo os índices do “Ibope”, o jornalismo factual era muito importante. O “aqui e o agora” faziam diferença. Os repórteres farejavam a primazia das notícias mais importantes em todos os quadrantes da cidade e da região. Fazia a diferença. Os ouvintes, e depois os leitores de jornais, vestiam a camisa de seus repór­teres e dos órgãos de divulgação. A discussão nos bares da vida era a primazia de quem havia dado a notícia em primeira mão. Os pormenores eram importantes, mas a primeira notícia mostrava a agilidade do repórter e do meio de comunicação.

Ineditismo
Em determinada oportunidade, um repórter apurou que um cidadão tinha importante notícia a ser divulgada, que iria mexer com os brios da comunidade e colocar fogo nas torcidas desta rádio ou da outra, que brigavam pelos primeiros lugares do instituto de pesquisa que, à época, tinha mais crédito. À noite, o jornalista que tinha o programa mais ouvido entrou em contato com o informante na Sociedade Ami­ga dos Pobres, na Vila Tíbério, e marcou para entrevista logo cedo, no dia seguinte – a reportagem do programa madrugava. Tudo certo, o radialista e jornalista deixou o cidadão dormir e foi preparar as cha­madas para dar a notícia à cidade.

“Olheiro”
Algum “olheiro” da rádio concorrente informou a redação de que uma grande reportagem iria ser divulgada em primeira mão no programa da outra emissora. O repórter-chefe do jornalismo da empresa que seria “furada” chamou seu repórter de rua, muito conhecido e de bons costumes, e mandou que ele raptasse o cidadão que dormia na “Amiga dos Pobres”. Toda uma estratégia foi montada para queimar a reportagem da concorrente. O jovem repórter de rua foi mandado ainda na madrugada para levar o entrevistado para outro local, e não aquele que ele havia combinado de dar a entrevista.

Dor de consciência
O repórter de bom caráter se remoeu na cama. Não era de seu feitio agir daquela forma e não estava dentro de sua conduta fazer algo que não estava coerente com sua educação e formação. Acordou logo pela manhã. Pegou o carro da emissora e foi até a rua Castro Al­ves, Vila Tibério. Acordou o entrevistado e disse para ele se aprontar. A dúvida o deixava intranquilo e desconfortável. Tomou uma decisão.

Corrigir o erro
Resolveu corrigir o erro, arrependimento eficaz. Telefonou para o repórter concorrente, alvo da traição, e o chamou para o local onde o entrevistado estava. Constristado, lhe contou o fato e in­formou que havia recebido ordem fazer para obstar o seu brilho e impedir a reportagem. Mesmo correndo o risco de ser mandado embora de seu veículo de comunicação, entregou o entrevistado ao dono do programa, que havia feito chamadas para a reporta­gem. E foi embora cabisbaixo, mas com a conduta que seus pais lhes transmitiram.

Furto – repercussão regional
Enquanto a editoria brigava com o repórter ético, a rádio concor­rente colocava no ar a reportagem em seu programa de maior aceitação. A repercussão foi geral e o “Ibope” subiu mais ainda. Enquanto isso, na concorrente, as acusações eram dirigidas ao jovem repórter por não ter raptado o informante e, desta forma, levado a notícia para aqueles que queriam esbarrar na ética e “roubar” o “furo”. Ponto para o legal e ético e zero para os que queriam deixar de lado os propósitos sadios do jornalismo. O jo­vem repórter até hoje trabalha em vários setores e ainda, vez por outra, no jornalismo. Agora, nem tão jovem assim, mas ético.

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