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Embaixada do Brasil em Jerusalém?

Para Bolsonaro e seus fiéis seguidores só existe a abominá­vel ideologia de esquerda. Eles se consideram sem ideologia. Uma boa piada. Eles se dizem representantes do tecnicismo, da neutralidade, do mais angelical e puro posicionamento em todas as questões econômicas, sociais e políticas. No entanto, já percebemos muito claramente que o governo que se insta­lou entre nós dia 01 de janeiro é ideologicamente de extrema-direita, liberal na economia (que se ferrem os trabalhadores) e conservador nos costumes (Deus acima de todos). Mais claramente ainda, é possível perceber que o núcleo ideológico duro deste governo são os Ministérios das Relações Exterio­res, da Educação, e da Mulher, Família e Direitos Humanos.

É a partir desse núcleo duro do governo que Bolsonaro pretende se confrontar com os grupos progressistas da socie­dade brasileira. Serão quatro anos de confronto. Nas Relações Exteriores, uma das suas maiores sandices é a transferência da embaixada brasileira em Israel, de Tel-Aviv para Jerusa­lém, mesmo correndo sérios riscos comerciais com os países árabes e até riscos políticos, podendo nosso país ficar na rota do terrorismo internacional. Bolsonaro quer imitar outros dois governos da extrema-direita: Estados Unidos, de Donald Trump, e a Guatemala do comediante Jimmy Morales. Mas por que tanta insistência nisso? O Pastor Malafaia já resumiu bem a questão: se Bolsonaro não transferir a embaixada, per­de o apoio dos evangélicos.

Trata-se de uma questão ligada à política interna em primeiro lugar. O objetivo é manter o rebanho reunido, manter a base de apoio interno. Mas o que tem os evangélicos a ver com isso? Va­mos esclarecer, de saída, que esta questão não está ligada a todos os evangélicos, muito menos às igrejas protestantes tradicionais. Está ligada sim a um segmento ultraconservador que já acostu­mamos chamar de fundamentalista, ligado à frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional. Este segmento acredita nas doutrinas milenaristas que afirmam que Cristo reinaria na Terra durante mil anos, antes do fim do mundo. São doutrinas com várias vertentes e interpretações, como o Pré-milenarismo e o Dispensacionalismo.

De acordo com o Dispensacionalismo, defendido por pas­tores neopentecostais, Jesus virá para resgatar os seus segui­dores e a sua igreja, antes de um período chamado de Grande Tribulação. Durante essa época, que durará sete anos, a Terra será devastada por cataclismos como enchentes e terremotos, somados a regimes ditatoriais, promovidos por um anticristo que se passará por um messias. O retorno de Cristo, ao cabo da turbulência, derrotará Satanás que governava a Terra. Então Cristo reinará por um período de paz de mil anos. Nes­sa época, os judeus terão a oportunidade de arrependimento e de conversão ao cristianismo, por serem o povo escolhido, segundo o Antigo Testamento.

Essa doutrina dispensacionalista, professada por milhões de evangélicos no Brasil, propõe que Jerusalém, a cidade sagrada para judeus e cristãos, deva ficar, portanto, sob a autoridade do governo de Israel. “Israel é um termômetro dos sinais do cumprimento do que está escrito no Livro do Apocalipse”, diz o deputado federal e membro da Assembleia de Deus Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ).

“A nossa fé acredita nisso. A transferência da embaixada diz respeito a isso. Para nós, todo cenário será preparado para o Armagedom, como descrito no Apocalipse, e o palco do Armagedom será a cidade de Jerusalém”. Pobre democracia que tem de colocar as suas relações internacionais submetidas a uma doutrina religiosa. Isso é teocracia. Ou não é? Conti­nuamos no próximo sábado.

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