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O carrinho do supermercado

Uma das coisas que me aborrecem é ver os carrinhos do super­mercado espalhados pelo pátio de estacionamento, dificultando a parada dos veículos que chegam e demonstrando a nossa falta de espírito de colaboração. Seus usuários os levam até seus automóveis, colocam as compras no porta-malas e, em vez de deslocá-los para o lugar próprio, simplesmente os abandonam.

Sempre penso que isto é amostra de nossa falta de colaboração. Quantos de nós não pensamos que devolver o carrinho ao lugar pró­prio é perda de tempo? Já compramos o que tínhamos de comprar, para que se importar pelo pequeno veículo que nos ajudou a trans­portar até nosso carro? Talvez alguns achema té meio depreciativo esta devolução.

Recente matéria televisiva mostrava a Duquesa de Cambrid­ge, futura Rainha da Inglaterra, levando de volta seu carrinho de supermercado, depois de guardada a compra no carro. Este exemplo é comum nos países desenvolvidos, onde existe um consenso de comunidade e as pessoas se julgam no dever de facilitar as coisas para os outros.

Um amigo que foi transferido para o Japão ficou surpreso quan­do, no primeiro dia chegou cedo ao amplo pátio de estacionamento do trabalho, que estava praticamente vazio. O japonês que deu caro­na estacionou o veículo longe das primeiras filas. Questionado por que não havia parado nas primeiras vagas, o japonês lhe respondeu, como seu fosse a coisa mais comum: “Vamos deixar as vagas para aqueles que não puderem chegar com antecedência, que chegarão em cima da hora e quanto mais perto mais fácil cumprir o horário”.

Ainda com o exemplo japonês. Concessionário de veículos local, que visitava fábrica em pequena cidade daquele país, notou, num sábado logo cedo, um senhor bem vestido varrendo a rua em frente ao hotel. Com o auxílio de intérprete, ficou sabendo que o “gari” morava em outro quarteirão, soubera da visita dos brasileiros e, notando folhas na rua, resolveu varrê-las para que os visitantes não tivessem má impressão de seu bairro.

Talvez o sentimento de auxílio mútuo tenha sido um subprodu­to das inúmeras guerras pelas quais as nações mais desenvolvidas passaram. Nelas, desaparecem as posições sociais, as riquezas, todos se igualam no desejo de sobreviver, criando assim uma solidariedade compulsória, que se preserva na paz.

Temos ainda muito a aprender: não jogar lixo nas vias públicas, respeitar a faixa de pedestres, aguardar a abertura do farol, dirigir na velocidade exigida no local, dar preferência às pessoas que saem dos elevadores, respeitar os mais velhos, doentes e grávidas, não ocupar as vagas especiais de estacionamento, falar baixo em restaurantes e bares. Isto não é só boa educação, mas investimento para o futuro: uma hora seremos nós que precisaremos do lugar de estacionamento ocupado pelo carrinho vazio, da vaga especial, do respeito ao cruzar a faixa de pedestres, do silêncio para consolar pessoa querida.

O carrinho do supermercado é apenas uma amostra da nossa indi­vidualidade e demonstra o quanto ainda temos de nos desenvolver.

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