Você provavelmente já ouviu falar da estrela Eta Carinae, que é a mais luminosa da Via Láctea (entre as estrelas conhecidas, claro). Ela brilha com intensidade de cinco milhões de sóis, e vem sendo muito observada por astrônomos em todo o mundo. Contudo, não se pode vê-la a olho nu no céu noturno — mas isso vai mudar em pouco mais de uma década.
Ao menos é o que conclui o astrônomo brasileiro Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo, graças a vários anos estudando o astro em questão. Em seu estudo, ele indica que serão necessários pouco mais de dez anos para que a nuvem de poeira e gás que recobre Eta Carinae (que impede sua visualização daqui da Terra) se dissipe o suficiente para que seu brilho seja revelado em nosso céu. Quando isso acontecer, a luz da estrela se tornará 2,5 vezes maior do que a atual.
A estrela é bastante jovem do ponto de vista astronômico, tendo apenas 2,5 milhões de anos de idade, e é uma supergigante da rara classe das luminosas azuis (com temperaturas mais quentes). Temos conhecimento de apenas algumas dezenas de estrelas desta classe e, por isso, Eta Carinae é tão estudada.
Ela fica na constelação de Carina e foi catalogada em 1677 por Edmond Halley (sim, o astrônomo que desvendou a órbita do cometa Halley), mas somente em 1843 uma grande erupção lançou ao espaço matéria suficiente para que seu brilho aumentasse a ponto de Eta Carinae ser visível durante meses daqui da Terra. Depois, uma nebulosa foi formada ao redor da estrela, com essa nebulosa tendo 3 trilhões de quilômetros (4 meses-luz) de extensão. A nebulosa, repleta de poeira e gases, ofusca o brilho da estrela e por isso não podemos mais vê-la no céu noturno.
Eta Carinae é um sistema duplo, na verdade, composto por dois objetos. Damineli descobriu que a cada 5,5 anos a estrela sofre um pequeno “apagão” quando uma das estrelas, a menorzinha, passa em frente à “irmã” do ponto de vista daqui da Terra, por meio de telescópios. A estrela menor tem 30 vezes a massa do Sol, com a maior tendo 90 vezes a massa da estrela do Sistema Solar.
Damineli conta que “nos últimos 20 anos, astrônomos detectaram um aumento no brilho da Eta Carinae; com isso, surgiu a hipótese de que ela explodiria dentro de algumas décadas”. Mas em seu trabalho, o astrônomo conclui, na verdade, que não é bem isso o que estava acontecendo por lá: analisando dados de observatórios diversos e contando com uma equipe de 17 pesquisadores, ele descobriu, portanto, que o aumento de brilho visível da estrela é resultado da dissipação de partes de sua nebulosa.
Ele conta que há, ao redor da estrela, quatro nuvens espessas de gás, com esta quarta recentemente descoberta sendo a grande responsável por cobrir a estrela do nosso ponto de vista, apagando a maior parte de sua luz. Mas “uma das outras se desfez recentemente, um indício de que o mesmo deverá acontecer com esta que tapa nossa visão”, explica.
“Em 2032, ou quatro anos a mais ou a menos, a poeira terá desaparecido e o brilho aparente da estrela não aumentará mais, mas sim ofuscará a nebulosa. Ou seja: em poucos anos, perderemos a oportunidade de tirar belas fotos da nebulosa de Carina, mas veremos mais claramente o par de estrelas gêmeas”, de acordo com o astrônomo.
Fonte: Inovação Tecnológica