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Dois exemplos

Agradecendo ao Tribuna Ribeirão a oportunidade de usar seu espaço, acho oportuno iniciar esta parceria falando de duas pessoas muito importantes na minha formação e que influenciaram bastante o meu gosto pela escrita.

O primeiro é meu avô João Rodrigues Guião, advogado, jurista, que foi prefeito de nossa cidade de 1920 a 1926. Ele nasceu em Valença, no Vale do Paraíba fluminense, filho de cafeicultores abastados e teve refinada educação na Corte, onde começou a desenvolver sua convicção a favor da liberta­ção da escravatura e pela proclamação da República.

Desde cedo, colaborou com a fundação de jornais estudantis, onde lançava seus artigos. Já estudante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde se formou em 1890, fundou em sua cidade natal dois jornais: O Conterrâneo e o Amigo do Povo, ambos ferozes defen­sores das suas ideias democráticas de igualdade, fraterni­dade e liberdade.

Ironicamente, a libertação dos escravos arruinou as finan­ças paternas e João Rodrigues Guião decidiu vir para nossa região, sendo nomeado promotor de Justiça em Cajuru. Lá, fundou o jornal A Voz de Cajuru, onde continuou difundin­do suas ideias. Foi deputado estadual pela região de Cajuru e seu prefeito.

No início do século XX, decidiu vir para Ribeirão Preto, a fim de conseguir melhores escolas para seus filhos e adquiriu o jornal Diário da Manhã, no ano de 1907.

Vendido o jornal, nunca parou de colaborar com a im­prensa local e para os grandes jornais paulistas. Seus artigos abrangiam não só assuntos de interesse da região, do país e do mundo, como também se permitia escrever curiosas matérias de utilidade pública: uso de vegetais como alimentos indispensáveis à saúde; como não deixar o leite azedar; como conservar a manteiga (não havia refrigeração naquele tempo); como adubar a horta para melhores colheitas, etc..

João Rodrigues Guião foi fundamental no meu desenvol­vimento. Discutia comigo assuntos internacionais e nacionais e me alfabetizou, usando folhas de papel, que ele quadricula­va e nos quadrados desenhava figuras com o nome embaixo.

Seu filho João Palma Guião, meu pai, notável advogado, também formado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1926, compartilhou com o genitor o seu gosto pela imprensa. Dizia que este gosto nascera há muitos anos, quando morava numa casa anexa ao Diário da Manhã e, ain­da criança observava o febril trabalho dos tipógrafos prepa­rando as edições diárias.

Em seu tempo de solteiro, além de jogador do Comercial FC (participou da campanha que trouxe o título de Leão do Norte), esportista, canoísta, foi delegado auxiliar de Polícia, promotor ad hoc, presidente da Sociedade Legião Brasileira, do Tiro de Guerra 80 e, função que lhe trouxe muita alegria, diretor de redação do Jornal A Cidade por longos anos.

Ao lado da advocacia, jamais abandonou o jornalismo. Até sua morte, com 85 anos, escrevia diariamente o artigo de primeira página de A Cidade, seção que terminou com sua morte. Formava com Antonio Machado Sant’Anna, Orestes Lopes de Camargo e Onécio da Motta Cortez formidável grupo de jornalistas.

Foram eles que me inspiraram a escrever para a imprensa desde meus tempos de estudante secundário.

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