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Welson Gasparini: O descanso do guerreiro

Natural de Batatais onde nasceu em 1 de dezembro de 1936, o deputado Welson Gasparini (PSDB) pode se considerar um predestinado. Aos 82 anos de idade conta­biliza em seu currículo mui­tos momentos importantes, seja como radialista ou como político. Foi vereador por um mandato, quatro vezes prefeito de Ribeirão Preto, três vezes deputado estadual e deputado federal por um mandato. Sua história tam­bém virou tema de mono­grafia de pós-graduação do jornalista Walter Mello, na USP de São Paulo, em 2011. A monografia é a base desta reportagem.

 

Em entrevista ao Tribuna, Welson Gasparini afirmou que chegou a hora de parar de participar das eleições como candidato mas, jamais deixa­rá de fazê-lo, como cidadão. “Aliás, todo cidadão tem não apenas a obrigação como, so­bretudo, o dever de participar da política, pois, quando pra­ticada com honestidade, ide­alismo e competência, é uma das maiores provas de amor ao próximo,” explicou.
Seu mandato de deputado estadual termina no dia 15 de março, quando os eleitos em 7 de outubro deste ano assu­mem na Assembleia Legisla­tiva paulista. Gasparini não tentou a reeleição.

 

A origem
Filho de pai pedreiro, Vic­torio, e de mãe empregada do­méstica, dona Deolinda, tinha outros seis irmãos. Viviam mo­destamente sob as garantias fi­nanceiras do pai. Os primeiros anos na escola foram em Bata­tais, no Colégio São José, onde trabalhou – a exemplo dos ou­tros irmãos – em troca do estu­do gratuito.

A vinda para Ribeirão Preto ocorreu quando Welson Gaspa­rini tinha dezessete anos de ida­de e já era órfão de pai. A família, agora sob o comando da mãe, se mudou para a Vila Tibério, um reduto de famílias italianas que recebeu grande parte dos que migraram das lavouras de café para a cidade, em busca de me­lhores condições de vida.

O início no rádio foi como locutor, por insistência da mãe, após participar de um concurso e de se sagrar vitorioso. Na épo­ca, Gasparini fazia as narrativas ao vivo das propagandas – ou reclames – e também desem­penhou a função de animador de auditório. Ao relembrar sua trajetória, ele atribui “à sorte” a oportunidade de conquistar mais espaço na programação da Rádio 79 e, assim, apresentar diversos programas – todos com caráter popular.

A sorte a que se refere teria vindo a partir de uma entre­vista com o governador Jânio Quadros, em Batatais, quando escreveu uma página e meia de reportagem para o Diário de Notícias. Sem dinheiro, mas com desejo de assistir, em Ba­tatais, a um jogo do São Paulo, propôs ao então chefe de re­dação do Diário de Notícias, Bráulio Geraldo, a troca de uma reportagem por uma credencial de acesso como jornalista.

No estádio soube da pre­sença de Jânio. “Tive a sorte de entrevistar o governador. Trou­xe algumas linhas de informa­ção sobre o jogo e uma página e meia de entrevista com ele. Depois disso, a 79 me destacou para cobrir as sessões da Câma­ra Municipal,” relembra.

Além de suas participações no jornalismo da emissora, dedicava-se ao programa de variedades “Welson Gaspari­ni”, que ia ao ar das 11 horas ao meio-dia. À noite, às 22 horas, “Amor e Tango”. Ou o progra­ma de calouros por telefone. “Eram três candidatos por vez e que se submetiam ao julga­mento dos ouvintes. O ganha­dor sempre levava uma camisa ou uma caixa de bombons, pre­sentes que eram ofertados pelo comércio,” explica.

Welson Gasparini admite que os programas que apresen­tava na ZYR-79 eram “bem po­pulares,” entre eles o que levava o título de “Mamãe é quem manda no rádio”, cujo objetivo era levar às donas de casa que passavam o dia na monotonia dos afazeres domésticos, uma programação com assuntos relacionados à vida de artistas, das radionovelas, astrologia, dramatizações de casos e de fa­tos curiosos do cotidiano, sem, contudo, abordar temas mais profundos e de pouco interesse, distantes do gosto popular.

O radialista também reco­nhece que conseguia levar essas mensagens aos ouvintes, “pois eu estava dentro da casa deles”. A aproximação religiosa dele com o público também se dava por suas fortes ligações com a Igreja Católica e por meio de sua par­ticipação esporádica na “Hora da Ave Maria”, sempre levada ao ar às 17h55, na qual pedidos de preces eram feitos por pessoas necessitadas de apoio espiritual, por enfermidades ou problemas de outra natureza.

Do rádio para a política foi só um passo
Em 1959, Welson Gasparini candidata-se a vereador e se elege pelo Partido Democrata Cristão, com 737 votos, dando início a uma carreira que iria acumular nove mandatos, quatro deles como prefeito e cinco em cargos legislativos, incluindo-se três de deputado estadual, um de federal, além do mandato de vereador. Além das influên­cias do rádio, a igreja também contribuiu para a consolidação da trajetória de Welson Gasparini. Desde Batatais, na juventude, era Cruzado, depois, Congregado Mariano. Mais tarde, em Ribeirão Preto, foi dirigente do Encontro de Casais com Cristo e participou do Conselho de Cristandade.

REDES SOCIAIS

 

Também foi por influência da igreja que Welson Gasparini chegou à Juventude Democrata Cristã, onde tinha como líder e inspirador, Franco Montoro, com quem aprendeu a dividir o mundo em três grandes gru­pos, segundo sua concepção: a esquerda marxista, a direita, que era o capitalismo liberal, e a de­mocracia cristã. Gasparini asso­ciava sua atuação junto à igreja católica à ocupação profissional no rádio. Uma combinação que o aproximava da massa. Contava ainda com o apoio do jornal Diário de Notícias, ligado ao clero.

Três anos após a sua primeira eleição, a de vereador, em 1962, Welson Gasparini tenta alcan­çar uma cadeira na Assembleia Legislativa, porém não se elege. Foi, no entanto, o mais votado em Ribeirão Preto. Derrotado para a Alesp retornou às urnas em 1963, desta vez candidato a prefeito de Ribeirão Preto, pelo PRP. O então jovem radialista, aos 28 anos, tornava-se, à época, o mais jovem prefeito do Brasil, com 12.748 votos.

Além da presença marcante no rádio, Welson Gasparini fez da rua uma extensão do estúdio da rádio ZYR-79, ao atuar como locutor que anunciava a sua própria candidatura ao Palácio do Rio Branco a bordo de um “fusca”, o mesmo que havia sido utilizado para eleger o primeiro político da família Gaspari­ni, Alpheu, vereador em São Joaquim da Barra. Era, também, o motorista. A mesma voz da rádio agora cruzava as ruas dos bairros a convidar seus ouvintes -eleitores para os cada vez mais concorridos comícios da noite. Naquela época, os comícios eram a grande sensação das campanhas eleitorais.

A oposição a Welson Gas­parini, naquela eleição, cometeu dois erros estratégicos fatais. O primeiro foi chamá-lo de foras­teiro, já que viera de Batatais. O segundo, o de moleque, dada a sua juventude, que deveria estar brincando com um estilingue ao invés de buscar o cargo de prefeito de uma das principais cidades do Brasil. “Tomei essa ideia e me inspirei na figura bíblica do pequeno Davi que enfrentou o gigante Golias e o derrotou com uma funda, o estilingue daquela época. No comício seguinte havia uma multidão com estilingues nas mãos e isso virou o mote da campanha,” emociona-se.

Após completar o primeiro mandato, conseguiu eleger seu sucessor, o médico Duarte Nogueira, seu ex-diretor de saúde, fato único nos últimos 64 anos na vida política de Ribei­rão Preto. Neste período, todos os demais prefeitos, incluindo ele, nas duas outras vezes, não alcançaram sucesso de levar à vitória seus sucessores.
Em 1972, pela Arena, Welson Gasparini se elege prefeito de Ribeirão Preto pela segunda vez, com 61.094 votos. O sucesso no rádio deu ao comunicador 70% dos votos válidos, o maior índice já obtido por um candi­dato ao cargo em toda a história política de Ribeirão Preto. O seu vice-prefeito era Antônio Carlos Morandini, também radialista da mesma emissora. Os outros pre­feitos que mais se aproximaram em termos percentuais desse resultado foram Antônio Palocci Filho, com 52% dos votos váli­dos, e a ex-prefeita Dárcy Vera, com 52,04%.

Nos intervalos dos mandatos do Executivo Welson Gasparini disputava vaga ao Legislativo. Em 1970, foi eleito deputado estadual com 38.853 votos, mas não exerceu o cargo foi até o final, justamente para concorrer à prefeitura de Ribeirão Preto.

Em 1978, porém, com o final do mandato na prefeitura, sofreu revés ao não conseguir se eleger deputado federal, embora tenha sido, mais uma vez, o mais votado em Ribeirão Preto.

A pior de todas as derrotas viria em 1982, quando se candi­datou novamente para prefeito e chegou em quinto lugar dentre onze candidatos. Seis anos depois, em 1988, no entanto, sagrou-se vencedor e conquistou seu terceiro mandato de prefeito, eleito com 85.731 sufrágios, 40% dos votos válidos, pelo PDC- Par­tido Democrata Cristão.
Após deixar a prefeitura, em 1992, e tendo com seu sucessor o petista Antônio Palocci Filho, Welson Gasparini regressa à rádio 79 para dar prossegui­mento à carreira de jornalista e apresentador de programas de entretenimento. Entretanto, dois anos depois, desta vez já no PDSB, disputa e vence as eleições para deputado federal, com 59.518 votos. Porém, não consegue a reeleição, pelo PTB, em 1998.

De 1992, quando deixou o Palácio do Rio Branco, após cumprir seu terceiro mandato, Gasparini se distanciou do exe­cutivo municipal por doze anos. Fora do poder, além do rádio, também exercia as funções de assessor político junto ao Sindicato Rural e da Sociedade Rural de Ribeirão Preto. Tam­bém advogava e lecionava em instituições universitárias.

O retorno às urnas para prefeito ocorreu nas eleições de 2004 quando concorreu, em pri­meiro turno, contra Baleia Rossi (PMDB), Gilberto Maggioni (PT) e Rafael Silva (PDT). A vitória veio no segundo turno sobre o peemedebista Baleia Rossi, com 158.032 votos.

Terminado o mandato, em 2008, Welson Gasparini tentou quebrar o seu próprio recorde de quatro mandatos alternados, po­rém foi derrotado naquele ano, em primeiro turno, pela candi­data Dárcy Vera (PFL), a primei­ra mulher a se tornar prefeita do município. Fora da prefeitura e também do rádio, ele voltaria a participar de mais duas eleições, em 2010 e em 2014, ambas para a Assembleia Legislativa, (PSDB). Nas duas alcançou a suplência, mas assumiu o cargo. O último termina no próximo dia 15 de março.

Casado, pai de quatro filhos e avô de sete netos, Welson Gasparini também apresenta junto com dois filhos, Maurício e Marcelo, todos os sábados, na Rádio 79, o programa Família Gasparini. Sobre seus sessenta anos de vida púbica é categórico ao dizer: “A avaliação que faço é positiva, pois ela sempre foi consequência da minha própria formação cristã e familiar. Graças a Deus posso olhar nos olhos de qualquer dos meus eleitores sem qualquer cons­trangimento, pois sempre soube – acredito -, honrar os votos recebidos,” analisa.

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