Tribuna Ribeirão
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Larga Brasa

Vestido de Papai Noel
Um casal não estava bem de há muito tempo. Não se conseguiu ter filhos, os caminhos que se cruzaram não eram convergentes e o namoro iniciado no colégio famoso tinha um prenúncio de mau final. Mas ambos estavam dentro do politicamente correto para a época em que a mulher que se separasse não era bem vista na sociedade. Tudo era admitido para o homem e nada para a mu­lher que deveria cuidar dos filhos das questões domésticas e não interferir nas atividades masculinas. O casal participava das fes­tas das famílias de ambos os lados e aparentemente viviam bem. Nos intramuros as coisas se complicavam com as reclamações do filho para os pais e da filha mais para a mãe. Os conselhos eram para que se resignassem e continuassem juntos.

Não deu mais
Em dado momento as coisas escaparam do controle de am­bos. Sem alarde ele começou a visitar outra colega do colé­gio com quem tivera um namoro. Ela demorou muito, pensou demais e resolveu dar o troco, pois tudo se sabia nas colunas sociais dos jornais e por ali se passavam mensagens cifradas. O pessoal ‘pescava’ as dicas.

Harmonia
As válvulas de escape deixaram marido e mulher menos agressi­vos e as agressões diminuíram. Os dois desconfiavam que algo estivesse acontecendo, mas estava muito mais para milagre da pacificação do que de traição. Era uma verdadeira harmonia , mas não havia cumplicidade. E foram tocando.

Jingle Bell – Chegou o Natal
Nas festividades natalinas as comidas de sempre, a alegria das crianças que a todos envolvia e a troca de “figurinhas” sobre os acontecimentos do dia a dia que chegavam vagarosamente pelas ondas das rádios, sem a internet e outras ferramentas. Quase to­dos beberam todas e comeram quase de tudo. Menos as crianças que foram dormir depois de abrirem os presentes e participarem dos folguedos dos primos. Os bebuns se deitavam uns sobre os outros e roncavam a pulmão solto. Outros apimentavam o ron­co com outros sons e perfumes. Menos uma dormia ou tomava qualquer coisa para perder o senso. Era aquela que não tinha bom relacionamento com o marido, mas ia levando. Por outro lado o bonachão já se esgueirava nas tabuas de uma mesa e seguia o ritmo da orquestra de um som só.

Papai Noel
Em dado momento um Papai Noel estranho pulou o muro dirigiu um sinal para a mulher acordada e ambos foram para os fundos do quintal comemorar o Natal. Ninguém viu nada e nem descon­fiou. O marido por sinal de algo inexplicável acordou e dizia que havia tido um sonho e que sua mulher o estaria traindo. Train­do com um Papai Noel. Levantou-se entre irritado, despeitado e pronto para uma forra. Acendeu as luzes do quintal e deparou-se com o tal Papai Noel em plena noite de amor com ela. A sua mu­lher. Muniu-se de cabos de vassouras e de rodos e partiu para cima, batendo com força e provocando ais e uis dos dois. De um arroubo puxou a mascara de Papai Noel e qual não foi o seu es­panto: era o leiteiro com quem a esposa tinha longos papos pelas manhãs de todos os dias. Quebrou o pau.

Turma do deixa disso
Todos acordaram e participaram da “turma do deixa disso” tentando acalmar os ânimos. Conseguiram o intento, mas as consequências foram inimagináveis: o Papai Noel ficou na festa e o marido foi man­dado para casa. Dai para diante, em todos os anos o leiteiro fazia o papel de Papai Noel e o ex marido foi se consolar com a sua em­pregada com quem já vivia há algum tempo. A criançada adorava o Papai Noel leiteiro. A mulher separada também. E foram felizes para sempre, não só nos Natais.

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