Nos últimos vinte e um anos – 1997 a 2018 – o total de veículos de Ribeirão Preto cresceu mais do que o de habitantes da cidade. Enquanto, neste período, a população do município aumentou de 456.252 para 694.534 pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o de veículos saltou de 215.043 para 544.914, de acordo com levantamento do Departamento Estadual de Trânsito do Estado de São Paulo, feito a pedido do Tribuna. Isso significa que, neste período, a população aumentou 52% e o total de veículos cresceu 153%.
Outro dado que comprova o aumento vertiginoso da frota diz respeito ao total de veículos emplacados em Ribeirão Preto este ano. Segundo dados do Detran, de janeiro a agosto, foram emplacados na cidade 15.858 veículos zero km, contra 7,5 mil veículos, no mesmo período do ano passado. Um crescimento percentual de 51%.
Com mais veículos, Ribeirão Preto também acaba se beneficiando com o repasse de recursos arrecadados com o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Do total obtido 50% ficam com o Estado e o restante volta para o município. Só para exemplificar o quanto ele significa nas receitas municipais, em 2018, o valor recebido pela prefeitura de Ribeirão Preto com esse imposto foi de quase R$ 161 milhões, valor R$ 20 milhões a mais do que foi arrecadado em 2015. O IPVA é pago no começo de cada ano e pode ser dividido em até três parcelas.
Motos em alta
Apesar de ser a oitava cidade paulista em número de habitantes, Ribeirão Preto também é recordista em motos circulando pelas ruas da cidade. Segundo dados do Detran, o município possui 140 mil motos perdendo apenas para a capital paulista. O número é tão grande que, se for considerada a média proporcional de motos por habitante, este índice seria de uma moto para cada cinco pessoas. Só para efeito de comparação, na cidade de São Paulo, que tem 12 milhões de habitantes e um milhão e meio de motos, a proporção é de uma moto para cada 12 pessoas.
Estudo aponta que Região Metropolitana tem 909 mil veículos
Para cada dois habitantes da Região Metropolitana de Ribeirão Preto existe pelo menos um carro ou moto em circulação, aponta um estudo da Associação Comercial e Industrial (ACIRP). A região é formada por 34 municípios e tem uma população de 1,6 milhão de pessoas. No total estas cidades contabilizam 909 mil veículos – carros e motos.
De acordo com os responsáveis pela pesquisa, o aumento da frota tem relação direta com o crescimento econômico do país, entre 2007 e 2012, e das políticas de estímulo à compra de veículos feitas, neste período, pelo Governo Federal. O levantamento revelou, por exemplo que, em 2002, os municípios que integram a região possuíam 376 mil veículos, o que significava um carro ou moto para cada quatro pessoas. Hoje nestas cidades, existe um veículo para cada duas pessoas.
Um trânsito caótico
Se por um lado o aumento da frota mostra a pujança econômica de Ribeirão Preto, por outro transforma o cotidiano dos motoristas em um “verdadeiro inferno”. Isso porque a cidade não se planejou para este fluxo intenso e nem preparou sua malha viária para tantos veículos. Resultado: em horários de picos o motorista que passa pelas principais ruas e avenidas da cidade tem que ter muita paciência para enfrentar longos congestionamentos.
Dados da Transerp – empresa responsável pelo gerenciamento do transporte e do trânsito em Ribeirão Preto -, revelam que, em locais como a Avenida Independência passam, por hora, nos horários de pico, 3 mil veículos. Já na Avenida Francisco Junqueira este fluxo é de 2.800 veículos por hora e, na Avenida Presidente Vargas, ele chaga a 2.500 veículos.
Para resolver o problema a administração municipal afirma que está investindo no Programa PAC da Mobilidade II. Uma parceria com o Governo Federal que prevê investimentos de R$ 310 milhões em obras viárias em toda cidade. A contrapartida de Prefeitura será de R$ 37,4 milhões.
A primeira etapa foi iniciada este ano com a construção de três pontes sobre o córrego Retiro Saudoso, na Avenida Francisco Junqueira. A primeira liga as ruas José Bonifácio, no Centro, à Paraíba, nos Campos Elíseos. A segunda foi construída ligando as ruas Visconde de Inhaúma e Tamandaré e a terceira unindo as ruas Barão de Amazonas com a Benjamin Constant.
A próxima intervenção anunciada pela Prefeitura será a licitação, em janeiro, para a construção de um viaduto no cruzamento das avenidas Brasil e Thomaz Alberto Whately. Com a decisão, as obras deverão ser iniciadas em abril do próximo ano, caso não haja contestações administrativas ou judiciais dos participantes do processo licitatório ao ser aberto. Em média em função dos trâmites administrativos e legais uma licitação demora noventa dias para ser concluída.
A melhoria no tráfego de veículos daquela região é uma reivindicação antiga dos moradores da zona Norte. Isso porque a Avenida Brasil é umas das principais vias de acesso para bairros como Quintino Facci I e II, Avelino Alves Palma e Jardim Salgado Filho I. Já a Thomaz Alberto Whately é a principal via de acesso para os bairros do Complexo Ribeirão Verde. Segundo a Secretaria Municipal de Obras de Ribeirão Preto a construção tem valor estimado de R$ 16.374.000,00.
O PAC da Mobilidade prevê ainda a implantação de 56 quilômetros de corredores estruturais do transporte coletivo. Nas obras estão previstas a construção de um viaduto na Avenida Jerônimo Gonçalves e na Avenida Maria de Jesus Condeixa, passarela entre a rodoviária e o Mercado Municipal. O PAC II também contemplará a construção de dois túneis: um na Avenida Antônio Diederichsen, com Presidente Vargas e o segundo na Avenida Presidente Vargas, com Nove de Julho. A Avenida Brasil contará com dois cruzamentos, um com a Mogiana e outro com a Avenida Thomaz Alberto Whately. Obras de interseção em desnível serão executadas entre as avenidas Independência com Professor João Fiúsa e Presidente Vargas com João Fiúsa.
Adequações viárias serão executadas na rotatória das avenidas Portugal, Antônio Diederichsen e Nove de Julho. A Avenida Independência, entre o córrego Nova Aliança e Lygia Latuf Salomão, será duplicada e será implantada uma via de fundo de vale na Avenida Coronel Fernando Ferreira Leite. Ribeirão Preto também ganhará mais três terminais de ônibus, um no Centro, no Norte e no Novo Shopping.
Se meu fusca falasse
Há sete anos jornalista utiliza fusca, ano 71, para suas principais atividades
Num trânsito complicado como o de Ribeirão Preto, seria lógico o motorista desejar um carro modelo do ano, com ar-condicionado e totalmente equipado, capaz de proporcionar conforto e paciência diante dos muitos buracos no asfalto e dos inevitáveis congestionamentos. Entretanto, este não é o caso do jornalista Samuel Prisco, que mesmo tendo um carro bem mais moderno na garagem de sua casa, prefere se locomover para o trabalho e para suas principais atividades num antigo, mas conservado Fusca 1500 fabricado em 1971.
Samuel comprou o carro em 2012 do jornalista esportivo da EPTV Ribeirão, Geraldo Neto. Na época, ele também trabalhava na emissora e adquiriu o carro sem sequer vê-lo. “O Geraldo me falou do fusca, disse que queria vendê-lo e eu aceitei imediatamente. Na época vendi o outro carro que tinha e decidi que o Fusca seria meu veículo do dia-a-dia”, conta Prisco.
Entretanto, ele relembra que quando viu o carro pela primeira vez quase morreu de susto, pois, segundo ele, o assoalho estava todo detonado, as portas abriam sozinhas – com as fechaduras ruins – o câmbio e o motor precisavam de revisão imediata. “Enfim, estava um caos. Sei que não foi culpa do Geraldo, pois ele ficou pouco tempo com o veículo e quem vendeu para ele mascarou os defeitos que eu, como criterioso que sou, fui descobrindo”, conta.
Às vezes, diante dos problemas do trânsito da cidade ele pensa em vender o automóvel. Afinal, o fusca não tem ar-condicionado, o barulho do motor incomoda quem está dentro do carro e é, digamos assim, bem apertadinho. Mas sempre que pensa melhor sobre o assunto desiste já que, segundo ele, seus filhos adoram o veículo que já se tornou parte da família. “Todos os dias os levo para a escola e acabamos dando muitas risadas de todas as dificuldades e desconfortos que o carro oferece, principalmente com o asfalto ruim. Até hoje não sei se é o fusca quem passa sobre o buraco ou se é o buraco que passa sobre o fusca”, finaliza.
Emplacamentos 2018 Ribeirão Preto
JANEIRO 1.747
FEVEREIRO 1.483
MARÇO 2.432
ABRIL 2.189
MAIO 1.920
JUNHO 1.786
JULHO 2.011
AGOSTO 2.290
Fonte: Detran/SP