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Modelos internacionais de educação superior: Estados Unidos, França e Alemanha (1)

Divulgado pela Fapesp, três modelos de educação superior repercutiram globalmente, influencian­do as iniciativas educacionais de diferentes países: o alemão, o francês e o norte-americano. No Brasil, por exemplo, as diretrizes que estruturaram o ensino superior foram, de início, fortemente calcadas na norma francesa – determinante na criação da Universidade de São Paulo, em 1934. Sofreram, depois, pesada influência norte-americana, na reforma educacional promovida pela ditadura civil-militar, em 1969. Um livro, há pouco publicado, investiga os três modelos internacionais de educação superior referidos. Seu título expressa de forma muito simples e direta o conteúdo: Modelos internacionais de educação superior: Estados Unidos, França e Alemanha.

“Os três modelos foram escolhidos por nós porque, de certo modo, forneceram padrões que se dis­seminaram pelo mundo”, disse Moraes à Agência FAPESP. “O modelo alemão, o mais antigo do período contemporâneo, criado por Humboldt na primeira metade do século XIX, estabeleceu um sistema que combina ensino e pesquisa. Tornou-se tão influente que a Alemanha se transformou no pólo de atração para os grandes intelectuais norte-americanos no final do século XIX e início do século XX. Era para lá que eles se dirigiam, com o objetivo de aprofundar sua formação em pesquisa. Vários deles estudaram na Alemanha, inclusive Talcott Parsons [1902-1979], o fundador da sociologia norte-americana, que frequentou a Universidade de Heidelberg, em 1927”, prosseguiu.

Por sua vez, quando as universidades de pesquisa norte-americanas foram criadas, em 1870, seus funda­dores se inspiraram no modelo alemão. John Hopkins, Chicago, Clark seguiram esse modelo. Após a Segunda Guerra Mundial, com a Europa devastada, os Estados Unidos tornaram-se o centro do mundo. Os fabulosos recursos econômicos proporcionados pela atividade industrial voltada para o esforço de guerra forneceram a base material para a hegemonia cultural norte-americana, que as indústrias cinematográfica e fonográfica ajudaram a disseminar. E isso repercutiu também na exportação de seu modelo de ensino superior.

“O terceiro modelo, o da França, foi replicado nos países que participaram do antigo império colonial francês. Mas não apenas neles. Foi também influente em outros lugares, inclusive no Brasil, servindo de para­digma para a criação da Universidade de São Paulo”, afirmou Moraes. Foi à França que o então governador do Estado de São Paulo, Armando de Salles Oliveira, enviou o matemático Teodoro Ramos, professor da Escola Politécnica, para contratar professores e pesquisadores das várias áreas do conhecimento com o intuito de compor o quadro docente da futura USP. O antropólogo Claude Lévi-Strauss, o historiador Fernand Braudel e o sociólogo Roger Bastide foram alguns dos que atenderam ao convite.

“Quando se considera o ‘índice de cobertura’, isto é, a porcentagem de jovens na faixa etária adequa­da que frequentam instituições de ensino superior e o percentual da população adulta que tem diploma de curso superior, os da Alemanha são os menores no comparativo entre os três países. E, no entanto, a Alemanha é dos três a que possui o padrão industrial mais inovador”, disse o pesquisador. A explicação para esse aparente paradoxo está na força do ensino médio alemão. “A Alemanha deu muita importân­cia à escola média e profissionalizante como a organização que administra a transição da juventude para a idade adulta: 70% dos jovens alemães desfrutam de algum tipo de ensino profissional. A universidade é um degrau a mais, cujo acesso é relativamente restrito.

“Os americanos, ao contrário, têm um ensino médio de qualidade muito desigual. A maioria das High Schools têm baixa qualidade. Eles tentam resolver essa deficiência no nível superior por meio dos Community Colleges, que oferecem um ensino de curta duração, de dois ou três anos, e cujo nível é quase equivalente ao do ensino médio alemão”, informou Moraes. Como se depreende, a comparação internacional é difícil, pois um mesmo termo nomeia, muitas vezes, coisas bastante diferentes. A Alema­nha possui um ensino médio fortíssimo, com viés profissionalizante. E dois tipos de instituição de ensino superior: a universidade e a escola superior. O tempo médio de permanência dos alunos nessas institui­ções é de cinco a seis anos. Os Estados Unidos, ao contrário, têm um ensino médio fraco e procuram suprir essa deficiência estrutural com os Community Colleges. “Bombeiros, ajudantes de enfermagem, eletricistas, detetives se formam em Community Colleges”, comentou o pesquisador.
Segundo Moraes, mesmo universidades norte-americanas que estão no topo do ranking mundial possuem um ensino de graduação menos sofisticado, concentrando seu padrão de excelência nos cursos de pós-graduação. A França possui um modelo que fica entre os dois extremos. Tem um sistema de educação superior com basicamente quatro tipos de escola. Uma delas é a universidade. Praticamente todos os estudan­tes que terminam o ensino médio têm o direito de entrar em alguma universidade. A despeito de seu renome internacional, a universidade francesa é pouco seletiva, a não ser em alguns cursos específicos, como o de medicina. “Em geral, ela é uma ‘escolona’ aberta e não o centro de educação da elite profissional, pública ou privada, nem o centro da pesquisa científica e tecnológica. Isso como regra geral, é claro, pois existem alguns departamentos de algumas universidades que são altamente sofisticados”, ressaltou Moraes.

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