As confusões sobre o modelo de atuação das cooperativas têm se tornado um grande equívoco e jogado na vala comum o trabalho sério e comprometido de cooperados e cooperativas que honram o sistema há décadas.
O mais recente caso em nossa região, ocorrido em Santa Cruz da Esperança e no qual o prefeito, a secretária de Saúde e um médico tiveram seus bens bloqueados em uma ação civil pública em razão de suspeitas de danos aos cofres públicos na ordem de mais de R$ 1,2 milhão, é mais um exemplo de confusão em que o movimento cooperativista é difamado sem qualquer motivo e que prejudica a imagem do trabalho dos 13.230.960 brasileiros cooperativados.
Quando interpelados, os acusados da prática de atos ímprobos afirmaram que atividade investigada operacionalizava-se por meio de uma cooperativa de trabalho. A Procuradoria da República, contudo, constou a falsidade de tais declarações e reiteradamente destacou em sua manifestação à Justiça Federal que não havia qualquer cooperativa contratada pelo Município, mas uma empresa de outra natureza que também passou a ser investigada.
Curiosamente, na mais recente licitação promovida para contratação de serviços de saúde em Santa Cruz da Esperança (serviços, aliás, idênticos aos que originaram a ação civil pública), a Administração expressamente proibiu que cooperativas comparecessem para participar da concorrência. Talvez objetivasse, com isso, manter algum engodo para barrar a possibilidade de atuação de cooperativas sérias em detrimento de objetivos que precisam ser esclarecidos. Curiosamente, às pressas, um dia após a decisão judicial que bloqueou o patrimônio dos investigados, o edital dessa licitação foi suspenso indefinidamente.
O que releva notar nisso tudo é o fato de que Santa Cruz da Esperança é apenas um pequeno retrato de um movimento maior de inflexão contra o cooperativismo. Maldizer o sistema cooperativista parece ter se tornado, em si, uma alternativa sorrateira a ocultar malfeitos e repelir o avanço desse sistema competitivo de trabalho que busca, em sua essência, valorizar o desenvolvimento socioeconômico e o ser humano.
Em contraponto, contudo, é dever sistêmico das cooperativas que laboram de maneira séria e idônea expor ao público as vicissitudes dos que atentam contra o cooperativismo. Isso já aconteceu em Ribeirão Preto, quando atribuíram a uma empresa que cometia fraudes em UPAs da cidade a incorreta designação de cooperativa e acontece novamente, agora em Santa Cruz da Esperança.
A Cooperativa de Trabalho Médico de Ribeirão Preto (Comerp) milita a favor dos ideais do cooperativismo e opõe-se aos que maldizem o movimento cooperativista. Atua com mais 3,5 mil médicos, em vários municípios brasileiros, é, como toda legitima cooperativa, filiada à Ocesp e OCB (cf. art. 107, Lei 5.764/71) e ostenta com orgulho o fato de ser membro pleno da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), entidade cooperativa fundada em 1895 e sediada em Genebra, na Suíça.
É, por tudo isso, que também se vê na obrigação de alertar que a cruzada anticooperativista funda-se apenas em preconceito e que seu combate depende, necessariamente, da superação dos estigmas reverberados em casos como o de Santa Cruza da Esperança, nos quais, de forma ardilosa, auto declaram a ilegítima atuação de sociedades que, de fato, nunca foram cooperativas nem em essência, nem na forma da Lei.